Música, atividades
desportivas, flash mobs e muitos descontos são os atrativos do «Baixa Street
Fest», uma iniciativa conjunta da Câmara Municipal de Faro, Ambifaro ACRAL,
AISHA e Associação de Comércio da Baixa de Faro para dar mais vida às noites de
sexta-feira nesta zona da capital algarvia. Um projeto piloto para ser
replicado nos anos seguintes e, inclusive, alargado a mais dias e com mais
conteúdos, não para fazer face ao IKEA, mas para tornar mais sustentável e
atrativa a Baixa da Cidade de Faro.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Daniel Pina
O Club Farense recebeu, no dia 27 de junho, a apresentação
oficial do «Baixa Street Fest», programa da Câmara Municipal de Faro, Ambifaro,
ACRAL, AIHSA e Associação de Comércio da Baixa de Faro com o intuito de
dinamizar as sextas-feiras à noite no período compreendido entre 8 de julho e 26
de agosto. A iniciativa insere-se numa estratégia alargada da autarquia farense
para inverter um ciclo mais negativo que afetou a baixa e o centro histórico da
capital algarvia e os seus estabelecimentos de comércio tradicional e
restauração e da qual pontificam, entre outras, a abertura do Posto de Turismo
e a criação do Centro Interpretativo do Arco da Vila, a primeira fase do
ensombramento das vias pedonais (a segunda fase concretiza-se até final de
2016), a iluminação decorativa das velas de ensombramento, a requalificação da
muralha da Cidade Velha e a pavimentação de diversas artérias da Baixa de Faro.
Mais requalificações estão em andamento e encontra-se na
fase final o Plano de Identidade e Marketing Turístico, revelou Paulo Santos,
vice-presidente da Câmara Municipal de Faro, tendo sido igualmente desenvolvido
o Plano de Áreas de Reabilitação Urbana, com a identificação de três ARU –
Cidade Velha, Bairro Ribeirinho e Mouraria – onde serão investidos cerca de 30
milhões de euros, entre meios privados e públicos. “O processo está em
candidatura e aguardamos para breve a sua definição mas, independentemente do
financiamento que possa daqui advir, estes números já são bastante
significativos e demonstram um crescente investimento na baixa da cidade. Em
2010/2011, avançamos igualmente para uma nova ARU, envolvente à zona histórica
da cidade de Faro, que tem uma área idêntica à soma das outras três
existentes”, indicou, acrescentando que foi aprovada, na última reunião de
câmara, também a ARU do Alto Rodes.
Tudo isto tem conduzido a mais visitantes, que ficam mais
tempo em Faro, o que levou à criação de mais unidades de alojamento, mais
esplanadas e mais vida económica, para satisfação do executivo municipal. E,
numa lógica de contínua dinamização da Baixa de Faro, surge agora o «Baixa
Street Fest», que acontecerá nas sextas-feiras à noite entre 8 de julho e 26 de
agosto. “O que se pretende é ter o comércio com um horário mais alargado, entre
as 21h e as 24h, com música, animação de rua, atividades desportivas, flash mobs, e cerca de 80 empresários
juntaram-se a este projeto, desde a restauração ao comércio tradicional, o que augura
um bom resultado”, considerou Paulo Santos.
Especificamente para o «Baixa Street Fest» foi criado um
Passaporte de Compras para incentivar ao consumo dos estabelecimentos
aderentes, com várias vantagens, nomeadamente um desconto mínimo garantido de
10 por cento no ato da compra, entradas gratuitas em diversos equipamentos
desportivos e culturais do Município de Faro, descontos para o Festival F e
para eventos que ocorram no Teatro das Figuras, bem como vouchers para serem utilizados durante o mês de novembro, já a
pensar nas compras de Natal. O Passaporte terá o custo de um euro, com as
receitas a revertem, na totalidade, para uma instituição de cariz social do
concelho. Esta dinâmica prosseguirá com uma feira de stock-out, a realizar-se
entre 3 e 6 de setembro, no Jardim Manuel Bívar, e com uma passagem de modelos,
organizada pela ACRAL, na Praça da Pontinha, no dia 9 de setembro, culminando
com a semana do Natal e a Passagem do Ano.
IKEA é uma ameaça que se pode tornar uma
oportunidade
Com um orçamento de 250 mil euros, o projeto pretende conferir
maior competitividade e atrair mais pessoas à Baixa de Faro, sejam elas
residentes ou visitantes. “O comércio tradicional tem os seus problemas bem
identificados e o importante é que estejamos todos do lado da solução. A
requalificação da zona central da cidade foi uma das primeiras prioridades que
definimos e na qual atuamos prontamente”, sublinhou Rogério Bacalhau. “É
notório que há mais vida na Rua de Santo António e nas vias adjacentes. A
própria Cidade Velha, em 2009, não tinha praticamente ninguém e, hoje, todos os
dias há centenas de visitantes a percorrer aquelas artérias. É um cenário
completamente distinto do que que assistia há cinco, seis anos”, enfatizou o
presidente da Câmara Municipal de Faro.
Esta mesma opinião tem José Carlos Manuel, presidente da
Associação de Comércio da Baixa de Faro, entendendo que o novo terminal
rodoviário do «Próximo» teve um papel importante no maior afluxo de visitantes
ao comércio tradicional, assim como os hostels que têm aberto um pouco por toda
a cidade. “Estamos confiantes que não vamos regressar à situação de há 10 anos
atrás, ainda mais com os projetos, a perseverança e a atitude que a autarquia
tem tido em relação à cidade”, assumiu o empresário, confiança que não é
abalada pela abertura, em 2017, do mega empreendimento comercial do IKEA às
portas de Faro. “Se nós fizermos a nossa parte, continuaremos a ter os nossos
clientes, e essa mudança passa por não ter os mesmos horários de há 30 anos”.
Independentemente da abertura do IKEA ou de outra qualquer
grande superfície comercial, Paulo Santos defende que o mais importante é que a
Baixa de Faro tenha uma posição forte, sólida e dinâmica, para atrair pessoas
de uma forma continua. “Este programa da sexta-feira é, de facto, um ensaio
para o alargamento de horários, é criar uma oferta significativa num horário
diferente do que é habitual na Baixa, e depois tiraremos as conclusões no final
do evento”, afirmou o vice-presidente da Câmara Municipal de Faro.
Profundo conhecedor deste dossier é Álvaro Viegas, presidente
da ACRAL – Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve, lembrando
que, em maio de 2017, será inaugurada a estrutura comercial do IKEA e, em
dezembro do mesmo ano, abrirão cerca de 200 lojas. “A ACRAL lançou um desafio à
AMAL e a Câmara Municipal de Faro foi a primeira a responder a este alerta, com
a criação de um programa que se pretende que se repita nos próximos anos. A
estrutura que ai vem é enorme, a decisão está tomada, não vale a pena chorar
sobre o leite derramado, portanto, cabe-nos a nós, empresários, comerciantes,
autarquias e associações perceber qual é a melhor forma de transformar uma
aparente ameaça ao comércio local numa oportunidade”, indicou o dirigente.
Assim sendo, Álvaro Viegas avisa que o comerciante tem que
ir ao encontro dos desejos do consumidor e a mudança mais evidente, e
necessária, é a questão dos horários de funcionamento dos estabelecimentos.
“Não podemos continuar com um horário 9h-13h, 15h-19h, esse é o horário de há
30 anos. Hoje, o consumidor passeia e, durante esse passeio, faz compras. Ora,
se à hora que as pessoas querem passear, o comércio está fechado, então, não
fazem compras, ou vão ao sítio onde as lojas estão abertas, que é o Fórum
Algarve e, depois, o IKEA”, nota o presidente da ACRAL, reconhecendo que esta
mudança de mentalidade dos comerciantes tradicionais não vai acontecer de livre
vontade, mas forçada pela nova concorrência. “Este «Baixa Street Fest» é uma
iniciativa meritória e faço um alerta para que as restantes autarquias do
Algarve olhem para o que está a ser feito em Faro e que o repliquem nos seus
municípios. Não é só Faro que vai sentir o efeito do IKEA, mas toda a região, e
os autarcas têm que se unir para defender o seu comércio local, mas também para
ter capacidade para atrair os milhões de visitantes dessa estrutura para as
suas cidades”.
A terminar a apresentação do programa, Rogério Bacalhau
reforçou a ideia que o mais importante é retirar o máximo partido do poder de
atratividade que o IKEA terá sobre clientes de todo o sul do país e da vizinha
Espanha. “Nós temos património, gastronomia, cultura, eventos, muita coisa que
é apelativa e queremos dar sustentabilidade ao concelho de Faro na sua
globalidade, seja em termos de comércio, de capacidade de investimento, de
emprego. Faro nunca foi um concelho turístico e, embora a universidade, o
aeroporto e os serviços vão continuar a ser preponderantes, o nosso crescimento
passa por outros vetores. Não pelo turista que procura o sol e praia, mas pelo
turista que vem passear, descansar, que busca experiências diferentes”,
culminou o edil farense.