O Algarve foi palco, durante os últimos meses,
de diversas competições internacionais de arte equestre, que trouxeram até à
região, nomeadamente ao concelho de Loulé, largos milhares de praticantes,
treinadores e adeptos da modalidade de saltos de obstáculos. Na base de tudo
está, porém, o dressage, o ensino, que é também uma modalidade autónoma, mais
técnica e exigente para o cavaleiro e seu cavalo, mas menos mediática. Apesar
disso, o bicampeão regional e líder da Lusitanus Dressage Team, João Pedro
Miranda, garante que os cavaleiros algarvios nunca estiveram tão bons como
agora.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Centro Equestre Lusitanus
É no concelho de Loulé, às portas do vizinho município de
São Brás de Alportel, que se localiza o Centro Equestre Lusitanus, liderado por
João Pedro Miranda, advogado de profissão mas apaixonado pela arte equestre
desde tenra idade. Nada de admirar para quem cresceu numa quinta do Ribatejo,
zona sobejamente conhecida pela sua forte tradição equestre, dai que tenha
começado a montar a cavalo logo aos oito anos. Cavalo próprio também teve cedo,
o que lhe permitia participar nas feiras que aconteciam em todo o distrito, com
destaque para a Feira da Golegã.
Por volta dos 15 anos, a paixão assumiu um caráter mais
sério, montava ainda com maior regularidade, desbastava poldros, ensinava
cavalos e foi dar aulas de volteio e equitação para o Centro Hípico Nossa
Senhora da Fonte, na Atalaia, ao mesmo tempo que prosseguia a sua formação
académica tradicional. “Achei que era possível ter uma carreira dentro da arte
equestre, onde pudesse fazer aquilo que realmente gostava, e conciliá-la com
outra atividade profissional. Há muitas pessoas que têm este hobby e que, no
final do dia, montam a cavalo e competem aos fins-de-semana, mas isso não era
suficiente para mim”, recorda João Pedro Miranda, aproveitando para esclarecer
que desbastar cavalos significa montá-los pela primeira vez. “Os cavalos
normalmente vivem no campo até aos três anos, em estado selvagem, depois são
recolhidos para os estábulos, onde lhes é dado o primeiro banho, começam a dar
as mãos e os pés, têm algum trabalho de maneio. Depois, aprendem a levar o
cavaleiro pela primeira vez e são ensinados, para saberem o que é uma rédea
direita de abertura, uma rédea esquerda, andar para diante, parar”, explica.
Deste modo, seja para ir a competições ou feiras, ou
simplesmente para serem montados no picadeiro por lazer, todos os cavalos têm
que passar por esta formação inicial, o escarranchar e desbaste. Entretanto,
aos 17 anos, João Pedro Miranda vai para o Centro Equestre da Lezíria Grande,
um dos melhores do país, em Vila Franca de Xira, trabalhar diretamente com o
Mestre Luís Valença. “Ali, como que me profissionalizei. Lidava com 10, 12
cavalos por dia, fazia espetáculos, ganhei um know-how que me fez decidir, definitivamente, pela arte equestre.
Só depois é que fui tirar o curso de Direito, em horário pós-laboral”, relata o
entrevistado.
Volvidos quatro anos, novo destino, desta vez o Exército
Português, fez o Curso Oficial de Oficiais em Santarém, na Escola Prática de
Cavalaria, ali foi depois comandante do pelotão a cavalo, antes de ser
transferido para a Escola de Mafra, onde permaneceu durante oito anos.
“Competia, participava nas apresentações, integrei a Equipa de Ensino do
Exército Português e fui instrutor de vários cursos de equitação para
profissionais lecionados em Mafra. Direito não podia exercer por uma questão de
incompatibilidade por ser membro das Forças Armadas”, conta, numa conversa em
pleno picadeiro do Centro Equestre Lusitanus.
A chegada ao Algarve, entretanto, aconteceu como em tantas
outras histórias reais. Conheceu, apaixonou-se e casou-se com uma algarvia,
Iris Miranda, e rumou ao sul em 2007, ano em que saiu igualmente do Exército,
por não existir um regimento de cavalaria na região. “Ainda fiz uns espetáculos
e apresentações equestres pela Lezíria Grande na Tailândia. As apresentações
normalmente são de equitação clássica, mais na vertente de espetáculo equestre.
O dressage é a modalidade de ensino
de competição”, distingue o antigo instrutor da Escola Nacional de Equitação.
“Em 2008, fui um dos professores do primeiro curso para ajudante de monitor de
equitação que se realizou no Algarve e, logo a seguir, fui convidado para dar
aulas na Casa Agrícola Solear, S.A., em Porches, onde permaneci três anos”.