O Cine-Teatro assistiu, no dia 30 de novembro, a um espetáculo extraordinário onde as canções de Sérgio Godinho ganharam vida com uma sonoridade diferente, acompanhadas pelo piano de Filipe Raposo e pelo Ensemble de Flautas de Loulé dirigido por Ana Figueiras. As expetativas eram elevadas e foram correspondidas na íntegra, comprovando, mais uma vez, a plasticidade dos poemas de Sérgio Godinho, canções que atravessam as gerações, mensagens que se mantêm atuais.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

Sérgio Godinho regressou ao Cine-Teatro Louletano, no dia 30 de novembro, desta vez para um espetáculo inédito em que diversos temas do seu repertório foram reinventados e interpretados pelo pianista Filipe Raposo e pelo Ensemble de Flautas de Loulé, dirigido por Ana Figueiras. Era a estreia absoluta de uma formação com estas características sonoras e os algarvios responderam à altura, para mais uma casa cheia da principal sala de espetáculos do concelho de Loulé.
A presença do Ensemble de Flautas de Loulé foi, efetivamente, uma estreia absoluta, mas Sérgio Godinho e Filipe Raposo já tinham tocado juntos em dois espetáculos no Teatro São Luís, somente com voz e piano, algo que o cantor e compositor ainda não tinha experimentado. “O Filipe é um excelente pianista, tem a linguagem clássica mas, ao mesmo tempo, a escola do jazz e da improvisação, e repetimos depois o concerto num festival literário em Óbidos. Entretanto, surgiu o convite para uma atuação no Cine-Teatro Louletano, com alunos do Conservatório de Música de Loulé, e aceitamos o desafio com toda a alegria. Apraz-me muito interagir com forças da cultura local”, referiu Sérgio Godinho, na véspera do espetáculo. 
Os arranjos para este concerto foram concebidos por Filipe Raposo, com a seleção de temas efetuada em conjunto com Sérgio Godinho, tendo havido, de facto, a preocupação de escolher as canções que melhor se adaptariam a um acompanhamento tão específico como este. E o resultado foi surpreendente e cativante, conforme constataram as centenas de algarvios nesta noite chuvosa, que vibraram intensamente com «O galo é o dono dos ovos», «O elixir da eterna juventude», «Fotos do fogo», «Dancemos no mundo» ou «Cuidado com as imitações», entre outros temas incontornáveis dos mais de 40 anos de carreira de Sérgio Godinho. “São 10 temas com o Ensemble e outros 10 só comigo e com o Filipe, dentro do repertório que temos praticado. O Filipe ficou bastante contente por abraçar um novo desafio e eu estou sempre a dar novas roupagens aos meus temas. Este ano já toquei também com a Orquestra de Jazz de Matosinhos, na Casa da Música e na Avenida dos Aliados, e com a Orquestra Filarmónica de Águeda, com 70 elementos de sopro. As minhas canções são muito plásticas”, justifica o entrevistado.
Esta vontade constante de se reinventar não é sinónimo de não querer cair na rotina, mas sim o reflexo de ímpetos naturais de Sérgio Godinho em olhar para as canções de outra maneira. “Um quadro está pendurado numa parede e está assim feito para a eternidade, enquanto as artes performativas estão sempre a ser transformadas. Quantas encenações houve do Frei Luís de Sousa, do Hamlet, todas diferentes”, questiona este artista que é transversal a diversas gerações, cativando públicos de todas as idades. “Não é um fenómeno voluntário, penso que é uma consequência natural daquilo que faço. A vivacidade e noção de ritmo são bastante importantes para mim e isso atrai pessoas de vários quadrantes, embora as gerações mais recentes tenham outros interesses, e acho muito bem que assim seja”.
Satisfeito está, então, Sérgio Godinho com o facto da música estar em permanente renovação, ainda mais num país pequeno como Portugal. “É notável que existam tantos géneros e com tantos novos executantes e compositores. Desde o fado até ao jazz, pop, pop/rock e hip-hop, há pessoas a compor, a interpretar e a renovar os estilos”, observa, garantindo que o convívio entre os «dinossauros» da música popular e os novos valores é perfeitamente pacífico. “Não gosto muito da palavra «geração», porque há gente do meu tempo que envelheceu de uma maneira e outros que o fizeram de maneira distinta. Por isso, estou sempre recetivo a estes projetos, normalmente por iniciativa de outros. Foram os Clã, por exemplo, que vieram ter comigo e se propuseram fazer um espetáculo conjunto, que deu origem a um disco ao vivo chamado «Afinidades»”, recorda.
Entretanto, 2017 será um ano cheio de novidades, com o lançamento, em fevereiro, do primeiro romance de Sérgio Godinho, estando, inclusive, outro já escrito. Novo disco será também editado no próximo ano, com o artista muito dividido entre a música e a matéria literária.

Leia a entrevista completa em:
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__86