Depois do estrondoso sucesso
de «Fica no Singelo», a Companhia Clara Andermatt regressou ao Cine-Teatro
Louletano, no dia 21 de abril, com «Suspensão». Um espetáculo que cruza
performance, dança contemporânea e música eletrónica e que obriga o público a puxar
mais pela cabeça, não é tão direto, mas a resposta do público louletano voltou
a ser bastante positiva.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes
«Suspensão» é a nova criação da ACCCA – Companhia Clara
Andermatt, que subiu ao palco do Cine-Teatro Louletano, no dia 21 de abril. O
arrojado espetáculo combina performance, dança contemporânea e música
eletrónica, com uma coreógrafa – Clara Andermatt – e dois compositores – Jonas
Runa e António Sá-Dantas – a produzirem uma coreografia musical repleta de
imprevistos sentidos, onde tudo nasce no momento, cada som é criado ao vivo.
O projeto desenvolve-se em torno de um instrumento sensível
à luz, montado em vários pontos do espaço. Depois, os personagens modulam e
criam som (eletroacústico) pelas sombras que vão projetando. «Suspensão» é uma
experimentação com/e invenção de novos instrumentos e novas técnicas de criação
sonora, onde se procura encontrar novas ligações, novos modos de pensar o
movimento, novos sons, novos modos de pensar o conjunto como apenas um
elemento.
As cenas são variadas e revisitadas, não contando uma
história cronológica, antes criando e sugerindo figuras, sensações, pequenas
histórias, que fluem de uma para outra, que voltam, que ficam, que desaparecem.
“É um concerto de música ao vivo, com sensores que reagem à luz e ao movimento,
com um longo plástico em cena e objetos com pesos que também produzem sons
amplificados”, indicou Clara Andermatt, horas antes de subir ao palco.
Palco onde teria por companhia Jonas Runa, um especialista
em musicologia e em sistemas eletrónicos, e António Sá-Dantas, compositor com maior
vocação para a música clássica e contemporânea. “Foi um desafio que lhes propus
para criarmos um concerto encenado e com uma vertente bastante experimental.
São diversos quadros que, de alguma forma, se relacionam com algo que permanece
sempre inacabado”, descreveu a coreógrafa.
O espetáculo no Cine-Teatro Louletano foi o primeiro a ter
lugar em terras algarvias, mas a estreia aconteceu em Viseu, seguindo-se Almada
e o CCB de Lisboa. “Tem sido bem recebido, embora seja um produto mais
«difícil» do que o «Fica no Singelo». É uma linha diferente de trabalho que, às
vezes, sinto necessidade de realizar, envolvendo também as novas tecnologias e
universos que nos obrigam a estar atentos a outras coisas. Aqui há uma série de
dispositivos e as pessoas nem sempre se apercebem do que é que está a produzir
o som, mas é tudo feito ao vivo, no local”, destacou Clara Andermatt. “Existe
uma base e toda uma dramatologia envolvida, mas há também uma imprevisibilidade
latente em cada espetáculo”, concluiu.