Investigador do CBMR da Universidade do Algarve, Clévio Nóbrega acaba de ser considerado pela Sociedade Europeia de Neuroquímica como o «Jovem Cientista 2017». O responsável pelo laboratório de Neurociência Molecular e Terapia Genética da academia algarvia tem dedicado os últimos anos ao estudo da doença de Machado-Joseph e já há dois anos havia sido premiado pela Associação Francesa contra Miopatias.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Isa Mestre

A rotina é quase sempre a mesma para este madeirense de 38 anos. Docente no Departamento de Ciências Biomédicas e Medicina da Universidade do Algarve e responsável pelo Laboratório de Neurociência Molecular e Terapia Genética do Centro de Investigação em Biomedicina, o dia começa normalmente antes das sete da manhã, toma um pequeno-almoço reforçado e calmo, dá uma caminhada de cinco quilómetros (à tarde a distância aumenta para os 10 quilómetros), e ruma ao polo das Gambelas da Universidade do Algarve. Depois de ter sido professor convidado no anterior ano letivo, o desafio agora é maior, o que «rouba» tempo à investigação pura e dura, porque também está a criar um laboratório do zero. “Leciono «Terapia Génica» no curso de Ciências Biomédicas e «Ciências Básicas e Clínicas» no Mestrado Integrado em Medicina, para além de colaborar com outros docentes, nomeadamente na «Neurobiologia». Há semestres mais preenchidos do que outros mas, sempre que possível, tento dedicar metade do tempo às aulas e a outra metade à investigação”, conta Clévio Nóbrega.
Preparar as aulas que consome bem mais tempo do que a hora que depois passa à frente dos alunos, pois é importante escolher a informação e as imagens corretas e com o grau de profundidade mais adequado. Já no laboratório, o tempo para estar de volta do computador e dos instrumentos não abunda, reconhece. “À medida que passamos do doutoramento para o pós-doutoramento e chegamos a investigador principal, as responsabilidades vão aumentando, desde arranjar financiamento a concorrer a projetos, desde ajudar os alunos a terem bolsas de doutoramento a preparar palestras em conferências e escrever artigos científicos. Aquilo que realmente gostamos é vestir a bata e colocar as «mãos na massa», é fazer as experiências à nossa maneira”, aponta.
Com tantas tarefas a seu cargo, o mais difícil para qualquer investigador/professor é precisamente estratificar o dia, fazer a divisão do tempo disponível. Nesse aspeto, porém, Clévio Nóbrega não tem uma estratégia muito delineada. “Há dias em que estou mais apto para escrever, preparar conferências ou concorrer a projetos, noutros, sento-me ao computador e não sai nada, de modo que vou para o laboratório fazer experiências. As aulas, claro, têm prioridade, os alunos estão à nossa espera e temos que as preparar, mas o resto do tempo, no meu caso, é gerido conforme os humores pessoais e a disponibilidade mental e física para realizar determinadas coisas”, explica.
Uma das tarefas mais complicadas é, de facto, arranjar os financiamentos necessários para manter um laboratório em atividade, confirma Clévio Nóbrega, acrescentando que a investigação é bastante cara. “Portugal tem recursos limitados e os apoios nacionais serão sempre poucos, o que nos obriga a concorrer a fundos internacionais, onde a competição é, obviamente, muito maior. Essa é a parte menos agradável desta vida, mas não a podemos descurar, é um esforço contínuo”, sublinha. Quanto à investigação em concreto, não é uma vida glamourosa em que se acorda, a meio da noite, com uma ideia brilhante e se salta para o estrelato. “As ideias devem ter uma sequência lógica, daí lermos os trabalhos que já saíram, mas não há grande interesse, em Ciência, em se repetir o mesmo que os outros já fizeram. A vontade é ir mais além, alcançar algo novo e, para isso, uma experiência ou um projeto deverão ser muito bem pensados”, aconselha o investigador.