São Brás de Alportel voltou a encher-se de cor, alegria e fervor religioso com a realização de mais uma Festa das Tochas Floridas, no dia 16 de abril, Domingo de Páscoa. A par da carismática e lindíssima procissão, a vertente gastronómica, o artesanato e a música popular ajudam a dinamizar um evento que, de ano para ano, atrai a este concelho da Serra do Caldeirão milhares de turistas estrangeiros, para além dos muitos portugueses de férias na região.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
A história das «Tochas Floridas» remonta aos primeiros anos do
século XVII, época em que os algarvios começaram a realizar a Procissão de
Aleluia, na manhã do Domingo de Páscoa, com um forte frenesim religioso. Nessa
altura, as confrarias, constituídas unicamente por homens, eram obrigadas a
levar uma tocha acesa ou luminária e opas vestidas. Com o passar dos anos, a
escassez de cera levou à sua substituição por paus pintados e ornamentados com
flores, no cimo do qual se colocava, então, uma pequena vela. Uma característica
que se manteve, contudo, foi a de apenas os homens erguerem as tochas na frente
da procissão, isto porque as irmandades, onde estavam as mulheres, seguiam
atrás. As confrarias viriam a desaparecer mais tarde, mas a procissão das
«Tochas Floridas» manteve-se, com outra alteração de fundo: os hinos, responsos
e o Aleluia em honra da Ressurreição do Senhor deixaram de ser entoados por
coros e passaram a ser proferidos unicamente pelo povo, devido à falta de clero
e de cantores.
Em S. Brás de Alportel, porém, há quem conte outra história.
Segundo reza a história, a 25 de julho de 1596, deu-se a invasão da cidade de
Faro e seus arredores pelas tropas do Duque de Essex, isto após ter infligido
uma penosa derrota à esquadra de Filipe II, na Baía de Cádis. Depois de
saquearem e incendiarem toda a cidade, os britânicos tiveram conhecimento de
que a povoação de São Brás era rica e importante e para lá marcharam, tendo
apanhado os seus habitantes completamente desprevenidos. As tropas não ficaram,
todavia, completamente satisfeitas com os roubos e mortes que provocaram e
decidiram lançar fogo à igreja, o que foi a gota de água para alguns rapazes
solteiros que, munidos de machados rústicos, chucos alfaias agrícolas,
conseguiram pôr os invasores em fuga. Depois, enfeitaram as armas improvisadas
com flores para comemorar e assim pode ter nascido esta festa, embora tal
careça de confirmação oficial.
Séculos depois, tudo começa a ser preparado com semanas de
antecedência nesta vila da Serra do Caldeirão, até porque há que «montar» um
tapete de flores de um quilómetro de extensão a assinalar o percurso da
procissão. Assim, para se construir esta verdadeira obra de arte, são
necessárias várias toneladas de flores silvestres, num trabalho que envolve
largas dezenas de voluntários. Finalmente, e depois da apanha e preparação das
flores, é na véspera do Domingo de Páscoa que este tapete florido é estendido
pela noite dentro.
O resultado de todo este esforço é verdadeiramente
deslumbrante, com as principais artérias da vila embelezadas por milhares de
flores campestres e a própria Igreja Matriz de S. Brás de Alportel está
especialmente decorada para a ocasião. A missa começa à hora marcada e com
lotação esgotada. No exterior, juntam-se cada vez mais turistas estrangeiros,
uns novos, outros mais idosos, muitos casais com os filhos pequenos, todos
munidos de máquinas fotográficas e câmaras de vídeo para recolher imagens cuja
reputação já ultrapassou vastamente as fronteiras deste concelho. Aqui e ali
vislumbram-se jovens e cidadãos mais seniores, vestindo fato e gravata e
carregando arranjos florais nas mãos, outros com tochas mais elaboradas,
verdadeiras obras de arte, para participar no concurso promovido pela
organização.
Poucos minutos antes de soarem os sinos a assinalar o
término da missa, largas dezenas de homens aparecem com as suas tochas
floridas, concentrando-se no largo da igreja e afinando a garganta para os
cânticos, ritual para o qual contam com a ajuda da garrafinha de medronho que
levam no bolso do casaco. Chega também a banda filarmónica para acompanhar a
procissão e, pouco depois, o cortejo inicia-se, com o clero à frente. As ruas
apinham-se de milhares de pessoas, portugueses e estrangeiros, desejosos de
mergulhar na emoção deste dia especial. Nas varandas, estendem-se colchas
floridas, que esvoaçam ao sabor do vento. Os homens abrem a procissão, em duas
filas e empunhando a tocha na mão. Ao longo do percurso, sobressaem pequenos
grupos que entoam as palavras «ressuscitou como disse» e, com as tochas bem lá
no alto, disparam os gritos de «aleluia, aleluia, aleluia».
A procissão percorre São Brás de Alportel sob um calor
abrasador, tanto do sol, como da moldura humana que enche as ruas, num circuito
bem definido que traz o cortejo de regresso à Igreja, para nova eucaristia.
Depois, a tarde cultural foi preenchida por um Encontro de Sabores e Artesanato
no Largo de São Sebastião, pelas Artes e Ofícios tradicionais junto ao Adro da
Igreja e pelos sempre animados concursos de jogos florais e tochas floridas.
Quanto à animação, este ano esteve a cargo do grupo «Os Môces Marafados», do
Rancho Folclórico da Velha Guarda e do convidado especial Sérgio Rossi. A Festa
das Tochas Floridas é uma organização da Associação Cultural Sambrasense,
Câmara Municipal e Paróquia de São Brás de Alportel, com o apoio da Junta de Freguesia
e outras entidades locais.
Leia a reportagem completa em;
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__104
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