O Teatro Experimental de Lagos interpretou, na noite de 18 de abril, em Lagoa, o primeiro de seis espetáculos de narração oral, teatro e dança, ao abrigo do programa «365 Algarve» e com o objetivo de promover o património oral do Algarve. O percurso iniciou-se no Mercado Municipal, passou por diversas ruas da cidade de Lagoa e culminou no Convento de São José, perante uma plateia que foi seguindo atentamente o enredo.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

Com o apoio do programa «365 Algarve», o Teatro Experimental de Lagos propôs-se levar a cabo seis espetáculos de narração oral, teatro e dança, em Lagoa e Lagos, com o intuito de recordar usos e costumes do património oral algarvio perdidos no tempo. Os percursos contemplam uma viagem aos contos e lendas do imaginário da região e, por isso, cada espetáculo – que é traduzido em simultâneo para inglês – acaba por ser único, talhado para o espaço onde é interpretado, sempre a partir de personagens que nascem da memória coletiva do local.
O programa arrancou no dia 18 de abril, pelas 21h, junto ao Mercado Municipal de Lagoa, onde se encontravam os atores Bruno Batista, Nelda Magalhães, Arantxa Joseph e Melissa Santos. Bruno Batista funcionava como guia para os espetadores que se juntaram na rua e recordou alguns episódios que tiveram lugar neste espaço, no passado, logo pela manhã, quando os populares iam comprar peixe fresco depois de ouvirem tocar o sino. Com o surgimento de uma aparição, quiçá um fantasma, a história movimenta-se, muda de lugar, percorre algumas ruas de Lagoa, até chegarmos ao Convento de São José, primeiro à capela, depois andando pelos corredores sombrios, culminando finalmente em algumas salas onde decorre uma exposição que recorda tradições antigas do concelho.
A interação com o público foi constante, em português e inglês, com as pessoas muito interessadas em conhecer, in loco, algumas lendas e contos do imaginário lagoense. A ideia surgiu, há dois anos, num desafio da Direção Regional da Cultura do Algarve ao TEL para criar uma performance que dinamizasse alguns monumentos da região, assim surgindo «Era o Vento, Era Eu», mais ligado ao universo marítimo e piscatório, com sereias, pescadores e piratas, interpretado na Fortaleza de Sagres. Na edição seguinte do DiVaM, nova proposta, desta feita a pensar no espírito dos lugares, com lendas do universo popular, dai nascendo «Inspiritum». “São percursos narrativos em que o teatro está presente, mas não são personagens a viver situações, mas sim a contar histórias adaptadas aos vários lugares”, explica Bruno Batista.
Uma adaptação que não é fácil, porque os percursos não pretendem contar a história dos lugares ou dos monumentos em si, mas ficcionar a partir desses locais. “Isso obriga-nos a procurar contos populares que tenham a ver com a cultura portuguesa e esta junção da realidade com a ficção dá corpo ao «Inspiritum»”, indica o ator, acrescentando que há sempre uma lógica no percurso delineado para cada performance. “Muitas vezes tudo começa com um guia que, ao longo do percurso, se vai transformando e vão também aparecendo novas personagens. O público tem que acompanhar atentamente a história que vai acontecendo à sua frente para perceber onde o enredo vai parar. São várias linhas narrativas que, todas juntas, fazem sentido”, frisa Bruno Batista.
Um trabalho sem «rede», assim se pode dizer, porque nunca há a certeza do número de pessoas que vão acompanhar o trajeto, nem das suas idades ou nacionalidades, nem da forma como vão reagir à performance. Aliás, o percurso narrativo do dia 18 de abril foi muito preenchido por intervenções da assistência, dos espetadores, que iam comentando o que o guia ia contando. “Num espetáculo teatral há um texto que foi decorado e que é para ser dito daquela forma específica, nos contos há uma maior envolvência com o público. Aqui, essa interação é feita através do guia, mas depois há umas personagens que aparecem pelo meio da história e que não sabemos muito bem o que são. Os percursos estão repletos de aparições e desaparecimentos das personagens, quase de forma mágica”, refere Bruno Batista.
Depois da estreia, no dia 18 de abril, no Mercado Municipal de Lagoa e Convento de S. José, seguiu-se nova atuação, a 21 de abril, no Museu Municipal Dr. José Formosinho, em Lagos. Depois, os percursos de narração oral acontecem, a 23 de abril, pelas 17h, na Capela da Nossa Senhora da Encarnação ao Algar Seco (pelo passadiço de madeira), no Carvoeiro e, em maio, os espetáculos regressam, no dia 18, às 20h30, da Praça Rainha Dona Leonor até à Igreja Nossa Senhora da Conceição, em Ferragudo. No dia 20 de maio, o percurso começa pelas 15h e vai do Largo da Igreja de Estômbar até à Igreja de S. Tiago. Finalmente, a 21 de maio, pelas 17h30, o roteiro segue para Lagos, novamente para o Museu Municipal Dr. José Formosinho.

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