O Roof Top do Hotel EVA, em Faro, marcou a estreia ao vivo, no dia 24 de abril, de «Galopim», o novo projeto de João Tiago Neto. O carismático músico, que esteve na génese de bandas farenses como os Melomeno-Rítmica e NOME, regressa com uma nova sonoridade, mais eletrónica, contando a seu lado com Rui Daniel, dos Epiphany, e o produtor Francisco Aragão. E o som deste «moço de recados» vale mesmo a pena ouvir.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

Conheço o João Tiago Neto, ou «Careca», como é apelidado pela malta da música, há uma série de anos. Deu rosto e voz a duas das principais bandas de pop/rock que nasceram em Faro neste milénio, os Melomeno-Rítimica e os NOME, projetos de qualidade indiscutível mas que, infelizmente, nunca conseguiram dar o salto para o estrelato que mereciam.
Já todos ouvimos a conversa da falta de oportunidades dadas aos músicos algarvios, a história da tal fronteira invisível que parece impedir que as bandas da região alcancem projeção nacional. Há casos em que essa conversa é apenas uma desculpa para a falta de qualidade, de vontade, de empenho, dos músicos, que se acomodam à situação de fazer as primeiras partes dos concertos que acontecem durante o Verão algarvio, ou entram no circuito das covers e de lá nunca mais saem. Há outros casos, porém, em que essa conversa não é «conversa», é mesmo uma realidade que poucos conseguiram vencer, como aconteceu com os Entre-Aspas e os Iris e, mais recentemente, com Viviane e Diogo Piçarra. Mas os Melomeno-Rítimica e os NOME nunca conseguiram chamar a atenção de uma grande editora ou de um manager com os conhecimentos nos sítios certos, e por cá ficaram.
Foi, por isso, uma agradável surpresa quando soube do novo projeto do João Tiago Neto, agora assumindo por completo as rédeas deste «Galopim», que nasceu na parte final do trajeto dos NOME. “Tinha na gaveta algumas músicas e rabiscos de letras e julguei ser o momento certo de criar algo da minha exclusiva autoria. O Francisco Aragão gostou dos temas, entramos em estúdio para começar a produzir e foi nessa altura que o projeto seguiu por um caminho mais eletrónico, mais atual”, contou, minutos antes do concerto de estreia, no Roof Top do Hotel EVA, em vésperas do Dia da Liberdade. 
Depressa se constata, de facto, que «Galopim» não tem a roupagem pop/rock das bandas anteriores, mas a voz de João Tiago Neto é inconfundível, bem como o sentimento que coloca na sua interpretação, ainda que revestida de uma sonoridade mais moderna, sofisticada. Uma emoção bem evidente quando dedicou um dos temas ao amigo de longa data João Vargues, parceiro dos Melomeno-Rítmica e NOME falecido em abril. “Estamos muito satisfeitos com o nosso trabalho e espero que as pessoas compreendam que vão assistir a um João diferente daquele que tinha uma banda atrás de si nos palcos. Isso não quer dizer que o «Galopim» esteja fechado a sete chaves, ou que tenha umas talas nos olhos. Vamos evoluindo no dia-a-dia e aproveitando cada momento que nos surgir pela frente”, explicou.