Os super-heróis fazem parte do imaginário de miúdos e graúdos de todo o mundo, popularizados através das tradicionais bandas-desenhadas de papel ou, mais recentemente, de formato digital, ou através dos filmes de Hollywood e das séries norte-americanas. E é nesse mundo que vive, desde 2015, o olhanense Miguel Mendonça, a desenhar as histórias da Wonder Woman, Teen Titan, Green Lantern, Trinity e Nightwing.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

Desde miúdo que sou fanático por super-heróis, desde o Capitão América e Vingadores ao Wolverine e X-Men, da Marvel, mas também do Super-Homem, Batman ou Liga da Justiça da DC Comics. Naquele tempo, eram as bandas desenhadas da Abril/ControlJornal que faziam a miudagem viajar por múltiplos universos e os poucos filmes que se faziam não nos aqueciam o coração. Hoje, temos os blockbusters de Hollywood, os fantásticos filmes do Capitão América, Homem-Aranha, Vingadores, Thor, Wolverine, X-Men, Homem de Ferro, Hulk, Batman e Super-Homem, mas também as séries do Daredevil, Luke Cage, Iron Fist, Agents of Shield, Supergirl, Flash e Arrow. Mas, nos anos 80 e 90 do século passado, eram os livros mensais que nos faziam esperar, sofregamente, pela próxima edição.
Por isso, quando tive conhecimento que havia um algarvio, moço nascido e criado em Olhão, a desenhar histórias para a DC Comics, meti-me logo à estrada para ir ter com o Miguel Mendonça, 32 anos, licenciado em Design de Comunicação pela Universidade do Algarve. “Desde que me lembro que tenho tendência para pegar num lápis para desenhar, mas foi no design gráfico e no design digital que comecei a trabalhar quando terminei o curso. Só que a minha voz interior estava-me sempre a puxar para a ilustração, sobretudo para a banda desenhada. Claro que, no início, pensava que era um sonho irrealizável”, recorda Miguel, numa conversa no Cantaloupe Café, nos Mercados de Olhão.
Na mesa estavam espalhadas várias edições da Wonder Woman, Teen Titan e Trinity que já contam com o grafismo de Miguel Mendonça mas, no começo, tudo parecia, de facto, impensável de concretizar. O certo é que, no seu percurso académico, nunca perdia uma oportunidade para fazer uma banda desenhada para um trabalho que exigisse mais criatividade desta ou daquela disciplina, com personagens e enredos inventados por si. “O gosto pelo desenho é essencial, mas o mais importante na banda-desenhada é contar uma história e é preciso praticar bastante para o conseguir. Com a experiência habituamo-nos àquele tipo de narrativa, torna-se mais fácil passar para o papel as histórias que imaginamos na cabeça”, admite o entrevistado, confirmando que há técnicas específicas para se ter sucesso nesta atividade. “É um pouco como o realizador, que tem uma história para contar mas precisa decidir, por exemplo, qual o melhor plano para colocar estas duas personagens a conversar num café. Será de lado ou de frente? Será interessante apanhar também o que está a acontecer no balcão? É por isso que se faz um storyboard previamente”.
Convém explicar que, na maioria dos casos, o argumentista e o artista não são a mesma pessoa e Miguel Mendonça recebe da DC Comics um guião com as histórias que tem que desenhar. Essa nuance não surpreendeu, contudo, o olhanense, que muito cedo começou a consumir as coleções de BD do irmão 11 anos mais velho. “O meu estilo é influenciado pela escola franco-belga do Asterix e Obelix, Strumpfs e Tintin, pela escola norte-americana da Marvel e DC Comics e, mais tarde, pela manga, a banda-desenhada japonesa. Fui para Design por querer fazer alguma coisa ligada às artes mas, na época, não sabia muito bem o quê. Dizia-se frequentemente que, quem tinha talento, tinha futuro, mas isso depois traduzia-se em quê na vida real? Não era só saber desenhar”, refere.
Saído da Universidade do Algarve e ligado ao Design Gráfico e Digital, Miguel Mendonça não se livrava daquela sensação, da tal vozinha, que lhe dizia insistentemente que havia algo que ele gostaria mais de fazer. Assim, começou a experimentar a ilustração editorial e infantil, os manuais escolares, a publicidade. A voz interior, alimentada, falava cada vez mais alto, e Miguel avançou finalmente para a banda-desenhada. “A partir do momento em que tomei a decisão do que realmente desejava, o caminho a seguir tornou-se mais nítido”, conta.