As comemorações do 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, foram marcadas, em Albufeira, pela inauguração da requalificada Praça da República, junto ao Museu Municipal de Arqueologia, saltando à vista um núcleo arqueológico descoberto aquando das obras de reabilitação urbana do centro antigo. “Foram identificados uma série de vestígios do século XII ao século XIX, um conjunto de muros e pavimentos de estruturas ligadas a casas do período islâmico. Casas dos séculos XII e XIII, da fase final da ocupação islâmica de Albufeira”, explicou o arqueólogo Luís Campos Paulo, indicando que estas estruturas estavam integradas dentro do Castelo de Albufeira.
Albufeira que, como é sabido, possuía duas linhas de muralhas, uma circundando o cerro onde nasceu a cidade e uma segunda no seu interior. “Nesse castelo residia a elite política, militar e religiosa. Nos últimos tempos têm sido descobertas várias muralhas desse período, dezenas de silos, fragmentos de cerâmica, mas não se sabia onde dormiam, comiam, socializavam. Estes são os primeiros vestígios das casas de quem vivia aqui nesse período e permitem-nos ir percebendo, aos poucos, como era a sociedade islâmica de Albufeira, sem dúvida a grande herança histórica desta cidade”, referiu Luís Campos Paulo, acrescentando que outros vestígios não ficaram a descoberto na nova Praça da República, tendo sido devidamente registados, preservados e reenterrados, de forma a salvaguardá-los para o futuro.  


O projeto de requalificação da Praça da República foi da responsabilidade da arquiteta Isabel Valverde, do Gabinete de Reabilitação Urbana da Câmara Municipal de Albufeira. “Trabalharam aqui de forma articulada três domínios do conhecimento – a arqueologia, a conservação e restauro e a arquitetura – e o conceito nasceu da necessidade de valorização do espaço, mas também da vontade de incutir curiosidade nos visitantes para conhecerem a história remota de Albufeira. Para tal, criou-se um objeto de rutura, contemporâneo, um elemento dinâmico em que o trespassar da luz diurna entre as lâminas provoca efeitos mutáveis de luz/sombra. À noite, a luz é estática e produz um efeito cénico sobre as fachadas e o pavimento”, descreveu a arquiteta. Isabel Valverde afirmou ainda que a arquitetura moderna acabou por levar a uma grande uniformização dos ambientes, a cidades bastante parecidas, quando, antigamente, elas se afirmavam por via dos seus diferentes estilos. “Sendo Albufeira uma cidade turística, é muito importante ter elementos de referência que a distingam e contribuam para a sua competitividade”.
Carlos Silva e Sousa confessou, por sua vez, que este 10 de junho era um dia particularmente feliz por assistir à renovada Praça da República. “Queremos valorizar o nosso património histórico e devolvê-lo à população e a quem nos visita. Os albufeirenses têm que conhecer a sua história, saber quais foram as suas raízes”, defendeu o presidente da Câmara Municipal de Albufeira, revelando que este projeto foi o primeiro a ser aprovado, no Algarve, no âmbito do PARU - Plano de Ação de Regeneração Urbana. “Com isso, ganhamos cerca de 900 mil euros de financiamento FEDER, e que vai ser majorado em mais 10 por cento. A recuperação da antiga Igreja Matriz de Albufeira é outro projeto que queremos concretizar. Foi derrubada com o terramoto de 1755 e é um espaço de enorme nobreza que tem que ser devolvido, com dignidade, à população de Albufeira”, frisou o edil.


Reabilitado vai ser igualmente o edifício do antigo Tribunal de Albufeira, que dará lugar a um Centro de Artes e Ofícios, numa estratégia da Autarquia que está em marcha e que contempla, também, a classificação e recuperação da muralha da cidade. “Um dos objetivos que está estabelecido nos PARU é que os privados sejam estimulados a investir nos centros urbanos e, em Albufeira, isso vai ser feito através da isenção total de taxas de licenciamento, da redução de IMI durante cinco anos e de IMT na primeira transmissão de propriedade. Já temos, neste momento, intenções de investimento privado na ordem dos seis milhões de euros, a que vão corresponder três milhões de investimento público”, adiantou Carlos Silva e Sousa.
Presente na cerimónia esteve Alexandra Gonçalves, Diretora Regional da Cultura do Algarve, porque estes projetos pretendem valorizar, mas também salvaguardar, o património dos centros urbanos. “A solução encontrada permite-nos fazer uma leitura dos períodos históricos que aqui estão presentes e, ao mesmo tempo, haver uma fruição pública deste património e salvaguardar o restante, sem colocar em causa a circulação pela Praça”, observou. “Albufeira é conhecida, essencialmente, como um destino turístico associado aos anos 80, de massificação, em que o sol e a praia eram os elementos preponderantes e, em alguns momentos, não houve o devido olhar à preservação e salvaguarda daquilo que é a nossa identidade e que está por baixo dos nossos pés. Hoje, nota-se uma projeção no futuro e uma valorização no dia-a-dia desse discurso, dessa narrativa, da nossa história e conhecimento, que deve ser partilhada com a população em geral”.


Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina