O Teatro das Figuras, em Faro, recebe, no dia 16 de junho, um
concerto de Rita Redshoes integrado na tournée do seu mais recente álbum «Her».
Depois do estrondoso espetáculo que deu em Loulé, em fevereiro, a conceituada
artista regressa a terras algarvias com temas profundos que nos fazem vivenciar
histórias, de olhos fechados, outros mais simples, com batidas mais mexidas.
Rita é uma artista de mão cheia, cujo percurso começou, como
baterista, num grupo de teatro de escola. Cedo deu mostras do seu imenso
talento em múltiplos instrumentos e passou por diversos projetos musicais como
autora e intérprete, entre os quais Atomic Bees, Photographs, Rebel Red Dog,
David Fonseca, The Legendary Tigerman, Noiserv. Em 2008, aventurou-se finalmente
em nome próprio, com «Golden Era», seguindo-se «Lights & Darks» (2010) e «Life
is a Second of Love» (2014). No ano passado, rumou a Berlim para gravar o seu
quarto álbum de estúdio, «Her», onde depressa se evidencia uma sonoridade mais sinfónica,
graças à introdução de um quarteto de cordas que passou a acompanhá-la na
estrada.
Para além de ser o disco em que mais instrumentos tocou
(piano, omnichord, teclados e guitarra acústica), há outra novidade que
resultou em pleno, a inclusão de três temas em português, um deles escrito em
coautoria com Pedro da Silva Martins. “Já tinha vontade de o fazer há alguns
anos e, curiosamente, a primeira música que escrevi para este trabalho saiu
logo em português. Aconteceu de uma forma muito espontânea e genuína”, explica
Rita Redshoes, confirmando a sonoridade mais clássica proporcionada pelos
arranjos de cordas do princípio ao fim de «Her». “Penso que há uma maior
maturidade neste disco e, embora não seja concetual, acaba por ter um fio
condutor a todas as canções, que se prende com o lado feminino, não só na
mulher, mas em todos nós. Aborda o modo como lidamos com esse lado feminino,
fala de alguns preconceitos que ainda existem na sociedade moderna, é um disco
mais direto em relação aos seus anteriores”.
Um lado mais sinfónico de Rita Redshoes que já era notório
nas bandas sonoras que tem escrito nos últimos anos, não fosse ela uma
apaixonada por orquestras. “Neste quarto disco assumi por completo este meu
gosto pela sonoridade mais clássica e que advém também da minha formação
académica. O pop/rock está-me no sangue, assim como o prazer em fazer arranjos
para cordas”, refere a artista, que tenta inovar constantemente em cada álbum
que compõe. “Procuro sempre dar um passo para um sítio diferente, porque a arte
vive de arriscarmos e não de nos acomodarmos. Claro que há fios condutores que
têm a ver com a nossa personalidade e gostos próprios e que acabam por estar
presentes em tudo o que fazemos e acredito que esse lado orquestral nunca vai
deixar de existir em mim. Isso não significa que o próximo disco não possa ser,
por exemplo, mais eletrónico”, aponta.
O que se deve manter, no futuro, são os temas compostos e
interpretados em português, por ter adorado a experiência, uma reação
partilhada pelos fãs. “É uma janela que não se vai voltar a fechar e que,
certamente, se vai desenvolver mais”, assegura, ao mesmo tempo que reconhece
que viver da arte, em Portugal, ou no Mundo, é um ato de coragem, para os
homens e para as mulheres. “No fundo, a qualidade é aquilo que deve imperar,
embora, às vezes, tudo fique um bocadinho confuso. Faz-se muita coisa
atualmente, o que torna mais difícil chegar às pessoas, que não têm tempo para
conhecer, assimilar e escolher entre toda a oferta que lhe é proposta. É uma
guerra constante, mas move-me a vontade de mostrar o que faço ao público e,
felizmente, as coisas têm corrido bem. Não me posso queixar, apesar das
dificuldades que eu sinto, assim como todos os meus colegas”.
Para continuar são também as bandas sonoras, assegura Rita
Redshoes, porque os convites e os desafios continuam a surgir com regularidade.
“Desde pequena que me sinto atraída por elas, estou sempre bastante atenta à
música nos filmes. Julgo que a minha música, mesmo nos meus álbuns a solo, tem
esse lado cinematográfico, daí as propostas para escrever para cinema e teatro.
É um lado muito saudável que tenho, porque implica mover-me noutros ambientes,
descentrar-me da questão das canções, e depois transporto essa aprendizagem
para os meus discos”, analisa. “Em Portugal, há público para vários projetos
musicais, para aqueles onde impera mais o ritmo e a repetição das melodias, e
para os outros onde o texto é mais importante e que exigem mais atenção e um
bocadinho mais de tempo para serem absorvidos e compreendidos. Eu,
particularmente, gosto de ouvir música que me desafia, que me põe a pensar”, garante
a entrevistada, deixando o convite para que os seus fãs rumem ao Teatro das
Figuras, já no próximo dia 16 de junho.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina