Quatro noites com casa cheia, ruas com um ambiente único,
bandas dos quatro cantos do mundo com as mais diversas sonoridades e um
conjunto significativo de experiências culturais marcaram a 14.ª edição do
Festival MED que, de 29 de junho a 2 de julho, teve lugar na Zona Histórica de
Loulé. No ano em que este evento recebeu o prémio de «Melhor Festival de Média
Dimensão» da Península Ibérica, as expetativas eram elevadas e o cartaz do
Festival MED deu aos seus seguidores, e a todos os que pela primeira vez foram
a Loulé, uma oferta de elevada qualidade, com nomes aclamados
internacionalmente, artistas portugueses que se têm destacado no circuito das
músicas do mundo e, sobretudo, projetos inovadores, alguns dos quais em estreia
absoluta no nosso país, e que surpreenderam o público.
Nos três palcos principais – Matriz, Cerca e Castelo –
ouviu-se a tradição musical, por exemplo, de países como Cabo Verde, através
das vozes femininas de Lura, Mayra Andrade ou Teté Alhinho, do sul de Itália,
com os alegres Canzioniere Gracanico Salentino, ou a frenética Fanfare
Ciocarlia, um digníssimo representante dos Balcãs. Numa vertente mais inovadora
e contemporânea, a fusão de sonoridades em projetos verdadeiramente arrebatadores
como as duas bandas sul-americanas Che Sudaka (Argentina/Colômbia) e Boogat
(México) trouxe um entusiasmo natural à plateia que dançou e cantou ao som de
cumbias entrelaçadas com ska ou de hip-hop mesclado com reggaeton.
Exímio na execução instrumental, com raízes profundas na
Guadalupe, o grupo Delgres, liderado pelo francês Pascal Danae, levou a assistência
numa viagem musical ao nascimento dos blues, mas foi sobretudo um dos instrumentos
em palco – o sousafone – que mais surpreendeu o público. O Fado esteve presente
ao seu mais alto nível, com a diva Ana Moura a ser o principal motivo da
enchente da noite inaugural do MED, mas também Hélder Moutinho e Fábia Rebordão
a atuarem no Palco Castelo perante uma plateia amante da mais genuína
manifestação musical portuguesa. Fado que, de resto, voltou a ter um palco
próprio – MED Fado, no Claustro do Convento Espírito Santo – dando a conhecer
fadistas algarvios.
Pelo Palco Bica, programado em parceria com a Casa da
Cultura de Loulé, passaram outros talentos da região, alguns ainda pouco
conhecidos, mas que têm no Festival MED um importante veículo de promoção do
seu trabalho, enquanto que, no Palco Arco, o conceito «One Man Show» voltou a
imperar. A música clássica ecoou no interior da Igreja Matriz, património
histórico da cidade, e no fantástico miradouro do Jardim dos Amuados foram os
sons mais tradicionais dos países do Magreb que se fizeram ouvir.
Contudo, não só de música se fez o MED e outras propostas
culturais estiveram em destaque. Nas artes plásticas, evidência para a tradicional
exposição de rua patente, este ano com o tema «A Magia da Mala» para dar a
conhecer a visão de 17 artistas sobre um universo de viagem, de descoberta e
mistério à volta de um objeto: a mala de viagem. Criatividade foi algo que não
faltou estes dias em Loulé e o projeto do Município de valorização da
identidade do território «Loulé Criativo» associou-se ao festival para dar a
conhecer aos visitantes o trabalho que tem sido realizado ao nível do apoio à
formação, inovação e atividade de artesãos e profissionais do setor criativo do
Concelho, bem como o programa de experiências de aprendizagem que dão ao
turista a possibilidade de experimentar «hands on» a cultura de um lugar,
através da arte, do artesanato, da gastronomia, do património. Numa antiga
alfaiataria na Rua do Município, a par de uma exposição de trabalhos do
fotógrafo Vítor Pina, a rede de parceiros e facilitadores prestaram alguns
esclarecimentos sobre o projeto.
Os animadores de serviço proporcionaram momentos únicos ao visitante
que, logo à entrada do recinto, era «brindado» com um original concerto
suspenso no interior do Mercado Municipal. Teatro de rua, fanfarras,
espetáculos de fogo, um cantautor com música de intervenção ou um cantor de
música de inspiração islâmica, acompanhado por uma bailarina de dança do ventre,
protagonizaram muita animação e interação com o público. Os grupos de cantares
alentejanos e os ranchos folclóricos mereceram uma atenção especial, sobretudo
por parte dos muitos turistas internacionais deliciados com estas manifestações
etnográficas características do Sul de Portugal.
A Poesia do Mundo contou este ano com declamadores de poesia
de autores de vários países que, nas respetivas línguas e em português,
juntaram mais um ingrediente multicultural ao MED, o mesmo sucedendo com o Cinema
de vários países que, nas vésperas do arranque do Festival, marcou presença na
Alcaidaria do Castelo. Foi também nesse espaço que Miguel Cadete, diretor da
Revista Blitz, Pedro Esteves, jornalista do «Observador» e Pedro Primo de
Figueiredo, jornalista da Agência LUSA, com a moderação de Edgar Canelas, da
Antena 1, debateram a importância da Comunicação Social na projeção e
credibilização dos festivais de música.
A título de balanço, o presidente da Câmara Municipal de
Loulé, Vítor Aleixo, sublinhou o sucesso desta 14ª edição do MED. “Desde o
primeiro dia foi mais uma edição com um cartaz riquíssimo e com muita gente que
se deslocou a Loulé para assistir ao evento. Tudo correu muito bem, um numeroso
público e muitas propostas musicais e noutras vertentes culturais de elevada
qualidade”, considerou, frisando ainda os muitos turistas que estiveram em
Loulé vindos de vários pontos da Europa mas não só. “Já sabíamos que o MED
tinha a capacidade de atrair turistas de Espanha mas este ano pudemos verificar
que também vieram pessoas de outros países europeus e, inclusivamente, de
outros continentes, para assistir ao MED. Este é um facto assinalável e só pode
regozijar-nos e estimular-nos a fazer cada vez melhor, com mais qualidade e
sempre com patamares de exigência mais acima”, garantiu Vítor Aleixo.
De acordo com um estudo do Turismo de Portugal realizado em
2015, 40 por cento do Festival MED são estrangeiros, com destaque para os espanhóis,
britânicos, franceses, alemães e holandeses. Nesse sentido, Carlos Carmo,
coordenador do evento acredita que, cada vez mais, deverá ser feita uma forte
promoção internacional. “O MED já não é só um festival de Loulé ou do Algarve,
é um festival de Portugal e de além-fronteiras”, disse. “Foi mais um sucesso ao
nível da afluência, com três dias em crescendo, que culminaram com um sábado
que voltou a ultrapassar as expetativas da organização. Tivemos o recinto
completamente cheio e inclusivamente tivemos que pôr em prática um plano
alternativo de circulação das pessoas dada a forte afluência”, explicou.