O Café Calcinha, em Loulé, deu a conhecer, no dia 27 de
julho, a «Abaladiça», a primeira cerveja artesanal produzida em Loulé. «Abaladiça»
é o termo que popularmente designa a última bebida a tomar antes de irmos
embora e a cerveja é uma criação de Tiago Caldeira, licenciado em Filosofia e
com um percurso profissional dividido entre bares, restaurantes e agências de
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A história começa com uma viagem a Amesterdão, que o
inspirou a lançar-se na produção de cerveja caseira. “Fazia uns lotes pequenos
em casa, tomei-lhe o gosto e decidi fazer desta a minha profissão”, recorda.
“Neste ramo, o melhor conhecimento advém da prática, de se fazer experiências,
de se cometer alguns erros quando estamos a elaborar as receitas”, prossegue,
sorridente.
Quando verificou que o negócio tinha pernas para andar, fez
um estágio de três meses na Cervejeira «Refsvindinge», uma das mais antigas da
Dinamarca, e teve a oportunidade de aprender com o experiente Jonh Rasmussen e,
inclusive, lançar uma cerveja no mercado. De regresso a casa, lançou-se ao
trabalho e o resultado está agora à frente de todos na primeira «Abaladiça», a «35º
C/95º F», uma cerveja de trigo aromatizada com lima kaffir ideal para combater
as ondas de calor algarvias. “No início, basicamente só precisamos de uma
panela, garrafões de água de cinco litros e um bom sanitizante, para
eliminarmos todas as bactérias excetuando as leveduras para a cerveja”,
explica.
Lembrando o percurso até à data, Tiago Caldeira indica que o
seu objetivo era produzir uma boa India
Pale Ale, ou IPA, uma cerveja que leva mais lupus que o normal e que, por isso, tem mais amargor e um aroma
mais forte. “Esta «35º C/95º F» é uma cerveja para o Verão, de trigo, com
quatro volumes de álcool, portanto, fraquinha, e aromatizada com lima kaffir,
ou seja, com um sabor citrínico e, ao mesmo tempo, tropical”, descreve o
lisboeta que está em Loulé há sensivelmente cinco anos. “A minha intenção era que
os produtos fossem todos algarvios ou, pelo menos, nacionais, mas, atualmente,
todo o malte produzido em Portugal vai para as grandes cervejeiras”, indica.
Entretanto, das primeiras experiências até ao lançamento
oficial da «35º C/95º F» passaram-se três anos, com alguns empurrões pelo meio
para que o processo avançasse mais depressa, com Tiago Caldeira a reconhecer
que os aspetos burocráticos dão algumas dores-de-cabeça. “São pormenores dos
quais não estamos à espera mas que têm que ser cumpridos à letra para estar
tudo dentro da legalidade. No fim do caminho temos esta «Abaladiça», a última
que se bebe antes de se abalar mas, na hora da verdade, ninguém bebe apenas
uma. Normalmente, são duas ou três”, conta, com uma risada, enquanto os
convidados iam chegando ao Café Calcinha.
O pontapé de saída está dado e a produção, embora continue a
ser caseira, já aumentou de volume, com lotes de 100 litros e uma média mensal
de 150 litros de cerveja. Depois, é ir para o mercado e o primeiro lote está
praticamente esgotado, com a certeza de que não é uma cerveja para ir para as
prateleiras de supermercados ou hipermercados. “Quero manter a distribuição o
mais local possível e, à medida que a produção for aumentando, abranger mais
pontos do Algarve e do país. É preciso dar um passo de cada vez, embora a
cerveja artesanal esteja na moda. E, para já, a concorrência é leal, saudável.
Quanto mais marcas houver, mais pessoas experimentam e isso é bom para todos”,
entende Tiago Caldeira, acrescentando que uma cerveja artesanal não é para ser
bebida como uma cerveja industrial. “É para quando apetece beber uma coisa
diferente, são situações distintas. Eu próprio não deixei de beber cerveja
industrial”.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina