Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
Um em cada dez agregados familiares portugueses já sentiu
algum grau de insegurança alimentar, ou seja, devido a problemas económicos,
teve dificuldade em propiciar aos seus membros alimentos saudáveis e em
quantidades adequadas. Para fugir a este problema, muitas famílias abandonaram
os saudáveis padrões alimentares tradicionais, tais como o Mediterrânico, e
adotaram práticas alimentares desequilibradas que produzem impactos sérios na
saúde, particularmente dos jovens e idosos. O resultado deste fenómeno é
preocupante, com mais de metade da população a ter excesso de peso ou a ser
obesa, de acordo com o Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física
2015-2016, estudo que revela, igualmente, que a obesidade e doenças
relacionadas são mais comuns nos mais pobres e os que mais estudaram são, normalmente,
os que comem melhor.
O Algarve não passou ao lado desta situação e, segundo resultados
do inquérito de insegurança alimentar «Infofamília», aplicado pela Direção-Geral
de Saúde desde 2011, apresenta elevados fatores de risco e valores preocupantes
de abandono da Dieta Mediterrânica. Foi perante este cenário que a DGS desafiou
a Associação In Loco para dinamizar um projeto-piloto no Algarve que leve à
criação de um Observatório de Segurança Alimentar e de uma estratégia de
combate às situações de insegurança alimentar, passível de ser posteriormente aplicado
em todo o país. “É um projeto que surge na continuidade do trabalho realizado
pela associação há vários anos no sentido da valorização do estilo de vida e do
regime alimentar associados à Dieta Mediterrânica, como uma forma de unificar
as entidades e empresas à volta da sua identidade cultural e levá-las a
recuperar tradições ou a criar produtos inovadores e modelos de negócio com
personalidade”, explica Artur Filipe Gregório.
Uma situação preocupante que já tinha sido detetada pela In
Loco prende-se precisamente com a alteração dos hábitos alimentares dos
portugueses, com grande parte das pessoas a abandonar um regime que até era
bastante saudável e equilibrado, preferindo alimentos mais ricos em hidratos de
carbono, gorduras e sal, e aumentando o consumo dos doces e diminuindo o peso
dos vegetais, entre outros aspetos. “Foi uma mudança que teve um efeito muito
rápido e poderoso, porque não estávamos habituados a esta alimentação
industrial, ao fast-food. Um
norte-americano que tenha uma alimentação à base de hambúrguer provavelmente
engorda muito menos do que um português. A taxa de obesidade teve um
crescimento brutal, nomeadamente nos mais jovens, os problemas de saúde
derivados das alterações alimentares estão a tocar sirenes por todo o lado, é
um problema de saúde pública”, salienta o presidente da Associação In Loco.