Foi inaugurada, no dia 29 de julho, a obra de melhoramento das instalações do centro de operações da Refood de Almancil, a proposta vencedora nesta freguesia do Orçamento Participativo de Loulé de 2016. A intervenção levada a cabo significou um investimento que ascende a 65 mil euros e passou pela criação de uma casa modular, equipada com cozinha e WC, o que permitirá apoiar o trabalho desenvolvido por esta associação, nomeadamente no âmbito do Movimento Zero Desperdício.
Este centro de operações, localizado na Rua Salgueiro Maia, junto à área destinada à realização dos mercados em Almancil, foi inaugurado em 2015 e faz parte do projeto Refood, um esforço eco humanitário e comunitário, 100 por cento voluntário, efetuado por e para cidadãos, ao nível micro-local, para acabar com a fome nos bairros urbanos. Para tal, faz o reaproveitamento dos desperdícios alimentares preparados, através da recolha de comida em restaurantes, e a sua distribuição por famílias carenciadas, ao mesmo tempo que reforça laços comunitários locais.
A inauguração desta intervenção contou com a presença de  Hunter Halder, mentor do projeto, de Alexandra Brito, responsável da Refood Almancil, Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé, e Joaquim Pinto, presidente da Junta de Freguesia de Almancil. E foi precisamente com Alexandra Brito que estivemos à conversa no primeiro dia em que a nova «casa» da Refood abriu portas aos utentes a que presta auxílio. “Começamos a recolher os alimentos, pelas 18h30, junto das nossas fontes, fazemos a contagem e a divisão pelas famílias que apoiamos, recebemos os beneficiários, que nos devolvem as caixas que levaram no dia anterior, e fornecemos a refeição do dia”, explica Alexandra.

Ana Coelho, Filomena Coelho, Alexandra Brito e Sandra Matos, de serviço no primeiro dia de atividade da nova «casa» da Refood Almancil

Uma rotina que se repete cinco dias por semana, de segunda a sexta-feira, sendo que as fontes referidas são restaurantes, pastelarias e cafés de Almancil. “Ainda não tínhamos conseguido chegar aos hotéis porque não possuíamos capacidade de frio para armazenar grandes quantidades de alimentos, mas a ideia, agora, é falar com unidades hoteleiras que tenham buffet e onde os excedentes alimentares são maiores”, adianta a dirigente, referindo que alguns estabelecimentos confecionam refeições a mais precisamente para depois as entregar à Refood, não se tratando, nesses casos, de sobras. Depois, a recolha é efetuada pelos voluntários, nas suas próprias viaturas, de modo que o objetivo que se segue, no curto prazo, é a aquisição de uma carrinha, de preferência com caixa frigorífica, para realizar essa tarefa. “Estamos precisamente no centro de Almancil, uma freguesia que é relativamente extensa, e não gostamos de incutir essa despesa extra aos nossos voluntários”, justifica Alexandra Brito.
Os voluntários, como se adivinha, não são fáceis de angariar, como acontece em qualquer associação onde o trabalho é 100 por cento voluntário. “As pessoas, atualmente, têm mil e uma coisas para ocupar o tempo mas, quando se envolvem a sério nesta causa, vão passando a palavra e trazendo amigos ou familiares para ajudar. Contudo, todos nós temos imprevistos na vida, mudanças a nível pessoal ou profissional, o que pode ditar um afastamento temporário da ação do dia-a-dia”, refere Alexandra Brito, dando o seu próprio exemplo de quando foi mãe. “Continuava a fazer a gestão mais de retaguarda, mas houve um período em que não me foi possível estar presente no terreno. Agora voltei, assim como outros voluntários saíram e, assim que puderam, regressaram ao ativo”.
Ainda no que toca aos voluntários, como se adivinha, são quase todas mulheres, havendo apenas dois homens no atual grupo de 25 pessoas que colaboram com a Refood de Almancil. A todos são pedidas duas horas de trabalho por semana no núcleo, com a escala a ser elaborada de acordo com a disponibilidade de cada um. Quanto aos beneficiários, são todos da freguesia de Almancil, num total, neste momento, de 26 famílias, que também vão variando em função das suas realidades económicas. “São dois ou três agregados de grande dimensão, muitas famílias de emigrantes dos países de leste, outras em situação laboral precária, sem contratos de trabalho ou uma fonte certa de rendimento. O normal é as pessoas pedirem-nos ajuda diretamente, pois não temos nenhum protocolo estabelecido com a Segurança Social. Quando recebemos a candidatura de um novo agregado, fazemos um questionário e trocamos informações com os agentes locais que trabalham na mesma área, para aferirmos das reais necessidades de cada família”, descreve Alexandra Brito.


As pessoas vão bater à porta da Refood de Almancil, mas nem todos os necessitados o fazem, reconhece a entrevistada, porque ainda existe alguma vergonha em se pedir ajuda. “A nossa intenção é chegar a essas pessoas que, à primeira vista, não estão a passar por dificuldades, que não têm problemas financeiros. Todavia, em meios pequenos como Almancil, ainda é mais difícil quebrar-se essa barreira”, aponta Alexandra Brito, enquanto a azáfama aumentava no exterior da casa modular. “Esta capacidade de frio vai permitir-nos contatar novas fontes, também podem estar mais voluntários a trabalhar em simultâneo, porque o espaço é maior, o que significa que conseguimos ajudar mais pessoas. Em setembro queremos abrir uma nova rota de recolha de alimentos, logo a seguir ao almoço, porque este horário a partir das 18h30 não é muito conveniente para alguns voluntários”.
O novo espaço da Refood de Almancil nasceu, como referido, por ter sido a proposta vencedora nesta freguesia do Orçamento Participativo de Loulé de 2016, mas mais ajudas chegam da parte da Câmara Municipal de Loulé e da Junta de Freguesia de Almancil, designadamente para suportar as despesas fixas de água e luz. “Em paralelo, há empresas que nos doam as tocas, luvas e material de limpeza, que depois abatem fiscalmente por sermos uma IPSS. E, na hora da verdade, os voluntários fazem muito mais do que as duas horas que lhes são pedidas, têm consciência de que toda a ajuda é bem-vinda”, destaca Alexandra Brito, voltando a reforçar a importância de se concretizar a aquisição de uma viatura. “Há famílias que passam necessidades em pontos mais afastados da freguesia e que não se conseguem deslocar ao nosso centro. Havendo uma viatura, e voluntários, poderíamos criar pontos de entrega das caixas de alimentos já devidamente preparadas, o que ajudava imenso alguns beneficiários”.

Texto: Daniel Pina