De 7 a 10 de setembro decorre a V Feira da Dieta
Mediterrânica, no centro histórico de Tavira, ao longo das margens do rio Gilão
e colina genética do alto de Santa Maria. No momento em que Portugal e Tavira
concluem a coordenação anual dos sete Estados e Comunidades da Dieta Mediterrânica,
com delegações dos países presentes nesta Feira, cumprem-se os objetivos de
educação e transmissão dos valores ancestrais da Dieta Mediterrânica, de
desenvolvimento de programas de saúde alimentar comunitária e de estilos de
vida saudáveis, de valorização dos produtos do mar e da terra, endógenos e de
proximidade, fortalecendo as economias regionais e locais e estimulando
relações de confraternização e partilha.
O respeito pelo meio ambiente e a preservação dos
ecossistemas e das paisagens culturais concedem à Dieta Mediterrânica um papel
acrescido como instrumento de contenção das alterações climáticas, de proteção
das capacidades dos solos e resposta às recomendações da FAO - Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura em relação às «dietas
sustentáveis» pela sua escassa «pegada ecológica». O Ano Internacional do
Turismo Sustentável decretado pela UNESCO para 2017 veio chamar igualmente a
atenção dos agentes do setor e da população para a gestão correta de recursos
não renováveis.
A programação do certame apresenta atrativos para todas as
idades e públicos: feira institucional, mercado de produtores, concertos,
teatro e danças mediterrânicas, arruadas filarmónicas e charangas, oficinas
culinárias, aconselhamento cardiovascular e nutricional, atividade física,
jardim mediterrânico com espécies botânicas, exposições de sementes e
variedades endógenas, Vaivém Oceanário, jogos e espetáculos para crianças,
conferências e conversas sobre temáticas relacionadas com a Dieta Mediterrânica,
restaurantes e tascas, artesanato. No campo da música, destaque para os
concertos, na Praça da República, dos Deolinda (dia 7), do espanhol Miguel
Poveda (dia 8), da fadista Raquel Tavares (dia 9) e dos HMB (dia 10).
Sangre Ibérico, Monda, António Chainho, Savina Yannattou (Grécia),
Capitão Fausto atuam no palco do Castelo, enquanto que a guitarrista Marta
Pereira da Costa se apresenta na Igreja Misericórdia. Na Igreja das Ondas vai-se
ouvir flauta, a voz e guitarra mediterrânicas de Isa Peixinho e Jorge Anacleto,
temas e danças do mediterrâneo com Yan Mikirumov e Marco Fernandes, a harpa de
Helena Madeira e o coro Jubilate Deo. Realce ainda para as participações locais
dos ranchos folclóricos, da Banda Musical de Tavira, dos grupos de música
popular portuguesa e coral, das oficinas de danças tradicionais mediterrânicas,
assim como de fadistas, no Largo da Capela de Nossa Senhora da Piedade.
Para o público infantojuvenil foi pensado um programa
especial, com o Largo do Brincar, espaço para contos tradicionais com António
Fontinha, Marionetas Mandrágora e Companhia Valdevinos, o espetáculo «Mão Verde»,
com música de Pedro Geraldes, as lengalengas cantaroladas por Capicua e muitas
outras surpresas. A gastronomia mediterrânica, com sabores do mar e da terra,
está em evidência na «Praça da Convivialidade», localizada junto ao Castelo de
Tavira no Parque do Palácio da Galeria. Também os restaurantes do litoral, do
barrocal e da serra se associam à Feira da Dieta Mediterrânica e apresentam,
durante o certame, ementas mediterrânicas. Vai ser também possível usufruir de
atividades de animação turística, passeios pedestres, caiaque e bicicleta.
Na conferência de imprensa de apresentação da V Feira da
Dieta Mediterrânica, Jorge Botelho considerou que o evento vem confirmar todas
as potencialidades do Algarve e do estilo de vida mediterrânico, bem como das
culturas tradicionais da região. “Tem sido um ano de imenso trabalho de
organização, em parceria com a CCDR, o Turismo, a Agricultura, a Cultura e a In
Loco, para se montar um programa que seja suficientemente representativo da
cultura algarvia e de Tavira. A Dieta Mediterrânica tem-se afirmado cada vez
mais como um motor de atração de pessoas para o Algarve, um Algarve que
queremos que funcione todo o ano e que não se esgote apenas nos meses de Verão,
o que, felizmente, tem vindo a acontecer”, afirmou o presidente da Câmara
Municipal de Tavira.
É importante educar os
consumidores
Prova disso é que o artesanato e os produtos regionais estão
em franca recuperação e o setor primário tem assumido um papel mais
preponderante na atividade económica do Algarve. “Os hotéis, os aldeamentos
turísticos e o alojamento local vão estar completamente esgotados nos próximos
dias, assim como os restaurantes, e vai haver manifestações culturais para
todos os gostos e idades”, referiu Jorge Botelho, lembrando que se vai
realizar, igualmente, a conferência intergovernamental dos sete países da Dieta
Mediterrânica, designadamente Portugal, Espanha, Grécia, Chipre, Croácia,
Itália e Marrocos. “Termina a presidência rotativa de Tavira e de Portugal e a
coordenação passa para a Croácia, por isso, será um momento para refletir e
para reforçar o compromisso com este projeto. Temos responsabilidades com a
UNESCO, que faz múltiplas monitorizações àquilo que vai reconhecendo como
Património da Humanidade, e a Dieta Mediterrânica não é exceção”, prosseguiu o
autarca anfitrião da feira.
Do lado da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento
Regional do Algarve também não há dúvidas de que a Dieta Mediterrânica pode ser
um importantíssimo elemento dinamizador de várias atividades tradicionais e dos
produtos endógenos cuja manutenção pode estar em perigo. “A produção de frutos
secos, de hortícolas e verdes a céu aberto, a preservação de determinados
hábitos e formas de confeção de alimentos e a preservação dos hábitos de
socialização associados a este tipo de consumos e de vida são fundamentais para
continuarmos a afirmar a nossa identidade cultural e autoestima enquanto povo,
mas também a nossa diferenciação em termos turísticos”, defendeu Francisco
Serra, presidente da CCDR Algarve. “O futuro é otimista se caminharmos pela
direção correta e é para isso que todos aqui estamos”, assegurou.
Parceira fundamental na Feira da Dieta Mediterrânica é a
Direção Regional de Cultura do Algarve e Fernando Severino destacou a
capacidade do evento juntar à mesma mesa diferentes setores de atividade e
organismos públicos. Quanto à presença do Ministério da Agricultura no certame,
dá-se logo a começar pelo stand institucional, que oferece uma abordagem geral
da Dieta Mediterrânica e da preservação das variedades autóctones e dos
recursos da terra e do mar. “É importante educar o consumidor para aquilo que é
a agricultura biológica, para a indicação geográfica protegida dos citrinos do
Algarve, do sal de Tavira ou da batata-doce de Aljezur”, apontou o
dirigente.
Fernando Severino lembrou igualmente que Portugal é o país
com maior biodiversidade em termos vitícolas, num momento em que está a ser
defendida a casta autóctone da negra-mole, a partir de Tavira. “Este ano vamos
fazer as primeiras experiências com estas castas milenares, aliados a um
operador privado, e vamos ver que tipo de vinho dai vai surgir. São elementos
vivos da Dieta Mediterrânica que podem continuar a ser desenvolvidos no futuro,
se prosseguirmos com esta mentalidade intersectorial e aliarmos as diferentes
vertentes do Algarve”, indicou o responsável pela Direção Regional de
Agricultura do Algarve, antes de passar a palavra a Desidério Silva, presidente
da Região de Turismo do Algarve. “Estamos na presença de um elemento claramente
diferenciador que sempre existiu na nossa região mas que nunca tinha sido utilizado
como âncora para se produzir estes saberes e sabores. Temos promovido e
valorizado a Dieta Mediterrânica além-fronteiras com inúmeros show-cookings e
demonstrações gastronómicas e as iniciativas têm tido sempre um grande sucesso.
Estamos a proteger os nossos produtos genuínos, as nossas raízes, a nossa
cultura e identidade, e tudo isso serve para fidelizar os milhões de turistas
que visitam o Algarve todos os anos”, entende Desidério Silva.
Tavira vai ser, de 7 a 10 de setembro, um ponto de
convergência dos povos e culturas do Mediterrâneo e Alexandra Gonçalves deu
nota mais ao programa cultural e pedagógico que foi preparado para a quinta
edição da Feira da Dieta Mediterrânica. “É um ano especial, o Ano Internacional
do Turismo Sustentável, conforme decretado pela UNESCO, e o Mediterrâneo influenciou,
ao longo dos séculos, as culturas do resto do Mundo. Preocupamo-nos muito em
incentivar a salvaguarda destes recursos e das práticas associadas à Dieta
Mediterrânica, porque esta memória ancestral não está presente em todos nós. Há
muitas gerações que não a conhecem, nem a estudam, e temos a missão fundamental
de a transmitir aos outros”, afirmou a Diretora Regional da Cultura do Algarve.
“Tavira vai ser, nestes dias, a mesa e a festa de todos nós”.
A finalizar as intervenções falou Artur Filipe Gregório, presidente
da Associação In Loco, satisfeito por verificar que, nestes últimos cinco anos,
se conseguiu mobilizar toda a região em redor da sua identidade cultural, da
sua produção, transformação e restauração. “Quando nos unimos, fazemos coisas magníficas.
Esta feira tem características bastante específicas e não nos preocupa muito
encher Tavira com centenas de milhares de pessoas, mas sim que os visitantes se
identifiquem e adiram ao valores do estilo de vida da Dieta Mediterrânica,
sejam os produtos hortícolas ou transformados, o artesanato, o património, as
tradições orais. Este é um trabalho de qualidade, não de quantidade, e queremos
que a Feira da Dieta Mediterrânica de Tavira seja a melhor do mundo”, adiantou
Artur Filipe Gregório. “Através da gastronomia conseguimos chegar à alma e
coração das pessoas, a adesão do público às demonstrações tem sido fenomenal e
este ano integramos nesta estratégia o Medfest, que pretende transformar a
Dieta Mediterrânica num destino de turismo gastronómico sustentável. Durante
quatro dias, poderão encontrar, no Mercado de Produtores, artesãos e produtores
locais que fazem do melhor que o país tem para oferecer, sempre com um cuidado
enorme na qualidade e originalidade. Não queremos que ninguém saia defraudado
de Tavira”, terminou o presidente da In Loco.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina