Quatro anos depois do
lançamento do EP «Mopho», o quinteto de músicos algarvios regressou em grande
estilo com o primeiro longa duração de originais, intitulado «Estranho em Mim».
Um som potente, mas também harmonioso, onde as guitarras, a bateria, o baixo e os
teclados se misturam num equilíbrio perfeito, conforme se comprovou, ao vivo,
no concerto dado na Associação Recreativa e Cultural de Músicos de Faro, no dia
15 de setembro.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Daniel Pina
«Estranho em Mim» marcou o regresso dos Mopho aos estúdios,
quatro anos após o lançamento do EP homónimo de estreia. Mais maduros e
conscientes do que pretendem no universo musical, Ricardo Rosa (guitarra e
teclados), Ruben Azevedo (bateria), Pedro Bandeira (voz), André Gomes (baixo) e
Paulo Duarte (guitarra) surgem com um disco que representa o rock português no
seu melhor nível, como ficou bem patente no concerto de apresentação que deram
na Associação Recreativa e Cultural de Músicos de Faro, no passado dia 15 de
setembro.
Terminada a atuação, verdadeiramente explosiva e cativante,
Ricardo Rosa recordou que os primeiros temas da banda foram criados em 2010,
com o EP a ser gravado em 2013 e, finalmente, «Estranho em Mim», em 2017,
colocado no mercado pela editora «Last Man Standing». “A nossa história começou
com o Pedro Bandeira, que juntou alguns amigos para fazer algo novo, e com
qualidade, no panorama musical algarvio. Claro que isso é mais fácil de dizer
do que fazer, porque temos as nossas vidas familiares e profissionais, o que
obriga a uma grande vontade e jogo de cintura para arranjar tempo para os
ensaios e concertos”, admitiu o guitarrista.
Originais cantados em português é o que se encontra no
repertório dos Mopho, numa sonoridade com várias influências mas onde
sobressaem as do rock norte-americano, com fortes guitarradas, um baixo
omnipresente e as orquestrações e programações a acrescentarem uma maior
sofisticação. “É o estilo que nos chega mais facilmente aos ouvidos, através
das rádios e do you tube, e que persiste na nossa memória coletiva. Um rock
americano, elétrico, mas também melancólico e cantado em português”, descreveu,
em poucas palavras, Ricardo Rosa, confessando que tem uma certa dificuldade em
tocar algo que seja demasiado alegre. “A minha quinta parte do processo
criativo é muito dark e emocional,
daí a presença das teclas, dos violinos, dos coros, ambiências que ajudam a
compor um cenário obscuro onde me sinto mais confortável”.
Parte musical que é composta em conjunto pelos cinco
elementos, ao passo que as líricas são da responsabilidade do vocalista, Pedro
Bandeira. “Ele pensa no tema e faz a letra do início ao fim. As canções falam
de amores e desamores, dificuldades, vitórias e derrotas, pelo que qualquer
pessoa se pode identificar com as nossas músicas”, acredita Ricardo Rosa,
garantindo que cantar na língua materna sempre foi a opção dos Mopho. “Ainda
muito devagar, mas o português está a ganhar terreno e a conquistar o seu
espaço, mesmo além-fronteiras”, afirmou.
Devagar foi, igualmente, a produção de «Estranho em Mim»,
não por causa de dificuldades em reunir os cinco elementos para ensaiar, mas
pela ida para estúdio, onde tudo tem que ser feito com maior rigor e cuidado.
“É algo mais intenso e demorado, desde a fase da pré-produção à captação,
mistura e pós-produção. Até termos o disco físico na mão leva sempre mais tempo
do que aquilo que imaginamos. E quando as pessoas são perfeccionistas como é o
meu caso, que não descansam enquanto não estiver tudo correto, o processo
torna-se ainda mais lento. Fazer um disco numa de improviso é fácil, mas essa
não é a filosofia dos Mopho. A música é matemática: temos que estabelecer a
harmonia entre as guitarras; os teclados pretendem reproduzir fielmente o
trabalho de um ensamble de violinos,
o que obriga a dividi-los entre baixos, médios e agudos; há que definir onde
entram os coros e os pianos e que tipo de pianos se utiliza. Foram quase dois
anos para gravar o disco”, relata Ricardo Rosa.