O Algarve sempre teve um forte pendor literário, sobretudo na
vertente da poesia, contudo, se perguntarmos ao cidadão comum, poucos são os
nomes de escritores naturais da região que estão na ponta da língua.
Infelizmente, o problema não é, nem nunca foi, falta de matéria-prima,
simplesmente, as portas das grandes editoras nacionais estavam fechadas aos
autores pouco mediáticos e sem muito dinheiro para investir na máquina
promocional. Tudo isso mudou há três anos com o nascimento da Arandis Editora,
direcionada para a prata da casa, para pôr no papel, e ao dispor do grande
público, as histórias, mensagens e saberes dos algarvios que estavam, na maior
parte dos casos, esquecidas no fundo de alguma gaveta.
Numa tarde escaldante de Verão
encontrámos dois homens ligados à escrita de volta de um dos nomes mais
consagrados da poesia algarvia, António Aleixo, não em pessoa, mas da sua
estátua na esplanada do Café Calcinha, em Loulé. O primeiro era Nuno Campos
Inácio, licenciado em Direito, um Oficial de Justiça que, em determinada fase
da sua vida, decidiu sair dos tribunais e dedicar-se ao projeto de Geneologia
do Algarve, para além de escrever obras de ficção e outras sobre história e
investigação. O segundo era Sérgio Brito, gerente bancário de profissão, que
conheceu Nuno Campos Inácio quando realizou um trabalho sobre a guerra civil e
a chegada das tropas do Remechido a Albufeira. “Verificamos que havia muita
dificuldade no Algarve para se editar um livro em papel e, como tínhamos mais
obras na calha, juntámo-nos ao Fernando Lobo, o homem responsável pela
paginação e pelas artes gráficas, e criámos a Arandis Editora. Em 2012,
lançámos o «Duas Históiras do Algarve», da minha autoria e, no ano seguinte,
editamos logo 50 trabalhos, o que demonstra a quantidade de livros que há na
região à espera de verem a luz do dia”, indica Sérgio Brito, que dá um especial
ênfase à proximidade da nova editora com os seus autores.
Com mais de 70 títulos publicados em
três anos, fazem parte das fileiras da Arandis Editora 68 autores, a que se
somam muitos outros que colaboram em prefácios ou produzem simples artigos, num
total que chega aos 160. O número não surpreende, todavia, Nuno Campos Inácio,
antes pelo contrário. “O Algarve sempre foi uma região ligada à cultura e à
literatura, desde os tempos da presença islâmica. Além dos poetas, temos
grandes romancistas, aliás, os dois primeiros portugueses finalistas do Prémio
Nobel da Literatura foram algarvios: o João Bonança e o Júlio Dantas. Temos um
dos maiores pedagogos de sempre, o João de Deus. Já para não falar das ligações
genealógicas próximas com o Algarve do Fernando Pessoa, do Carlos Drummond de
Andrade, do Eça de Queirós, do Ramalho Urtigão. Resumindo, quando falamos dos
grandes vultos da literatura nacional, quase todos têm relações familiares com
o Algarve”, garante o investigador.Perfeitamente convicto do valor
literário existente na região, Nuno Campos Inácio explica que o que se perdeu
foi a possibilidade das pessoas mostrarem o seu valor e quase que desapareceu o
orgulho de ser algarvio. “Perto de dois terços da população atual da região não
são originários do Algarve, trazem uma série de novas culturas e formas de
estar e de ser, e os algarvios ficaram, de repente, em minoria. As editoras
nacionais raramente pegam em temas locais e o aparecer da Arandis fez com que
estes escritores começassem a sentir vontade de mostrar o seu valor, que
perdessem um pouco a vergonha de apresentar os seus trabalhos. Nas nossas
apresentações, nota-se muitos autores a apoiar os que estão agora a lançar-se
na escrita e esta dinâmica já deu origem a três encontros de escritores, em
Monchique, Messines e Lagos, seguindo-se Lagoa no próximo ano. Desenvolvemos
também uma série de iniciativas a combinar música e poesia, já fomos convidados
para dinamizar eventos na Feira do Livro do ISMAT, criamos tertúlias e debates
com autores e outras pessoas”.
Texto e Fotografia: Daniel Pina
Leia a entrevista completa em:
http://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__14