Cada vez se fala mais em startups e empreendedorismo em Portugal e, apesar dos dois termos estarem na moda, nem todas as empresas conseguem dar o passo decisivo de uma boa ideia teórica para um bom produto ou serviço na realidade. E se pensarmos no Algarve, região tipicamente associada ao turismo, ao lazer, às praias e ao golfe, menos se imagina que aqui possam surgir casos de sucesso no ramo das novas tecnologias. A Wifi4Media de Paulo Bernardo, Eduardo Monteiro e Hélio Cabrita demonstra precisamente o contrário, pegando numa situação corriqueira nos dias atuais – a ligação das pessoas a redes gratuitas de Wi-Fi – e introduzindo um software de ponta que permite traçar os perfis dos utilizares dos espaços públicos ou comerciais e assim direcionar a publicidade transmitida nesses locais de forma mais direta, personalizada e eficiente. Um produto «made in Algarve», por algarvios, mas que já se encontra em alguns países africanos, no Canadá, no México e no Brasil.

Entrevista: Daniel Pina

Os últimos meses têm sido um verdadeiro corrupio para Paulo Bernardo, da Wifi4Media, e não estamos a falar de viagens de Faro para Lisboa e Porto, mas sim para o continente africano e para o outro lado do Atlântico. Na bagagem, para além da roupa e dos produtos de higiene pessoal, leva um serviço inovador que alia a internet por Wi-Fi à publicidade direcionada, um produto que, como diz com orgulho, é feito no Algarve, por algarvios, na empresa que tem com os sócios Eduardo Monteiro e Hélio Cabrita. “Basicamente, é um software que gere redes Wi-Fi e que se transforma num novo veículo de comunicação e publicidade entre o dono dessa rede, seja um centro comercial, um supermercado, um hospital, uma estação de metro e por aí adiante, e quem a está a utilizar. Recolhem-se dados de quem se liga ao Wi-Fi, traça-se um perfil dos utilizadores e transmite-se informação específica para eles. O smartphone passa a ser um amigo virtual que temos no nosso bolso e as marcas conseguem saber que tipo de cliente frequenta determinado estabelecimento e com que regularidade, quanto tempo lá passa e em que zonas é que fica mais tempo”, explica o empresário e antigo responsável do núcleo do Algarve da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários. “Imagine-se alguém que está sempre num centro comercial à hora do almoço e um objetivo pode ser tentar que ele volte também da parte da tarde, dizendo-lhe que há uma happy hour ou promoção”.
A esta faceta do programa informático junta-se uma outra, a gestão dos ecrãs publicitários que estão espalhados por tais espaços públicos ou zonas comerciais, de modo a conciliar as campanhas difundidas com os dados recolhidos. Ou seja, sabendo-se que tipo de cliente frequenta o espaço mediante os seus hábitos de utilização da rede Wi-Fi, transmite-se os anúncios mais adequados ao seu perfil. Esse perfil de cliente pode ser traçado com base nas informações inerentes aos típicos cartões de fidelização das cadeias de supermercados ou em simples questionários que as pessoas têm que responder antes de aceder livremente à rede de internet. O software da Wifi4Media vai, todavia, mais longe e consegue detetar o número de identificação de cada equipamento, o idioma que ele está a utilizar e o respetivo sistema operativo. “É uma espécie de jogo de «toma lá, dá cá» em que o espaço faculta internet gratuita e o utilizador retribui com algumas informações pessoais. É um processo totalmente legal e o software permite igualmente armazenar os dados transferidos para, no caso de ser cometido algum crime, serem facultados às forças de segurança”, adianta Paulo Bernardo.