É costume dizer que, quando alguém se apresenta com uma nova postura ou introduz algo inovador e completamente diferente do que já existe, que é uma lufada de ar fresco e é isso mesmo que tem sido a caminhada da Associação ArQuente ao longo da última década, pegando em textos clássicos de teatro e dando-lhe uma roupagem mais irreverente ou produzindo os seus próprios textos para melhor transmitir os seus pensamentos e verdades. É um teatro performativo, mais atraente e inesperado, combinando as técnicas tradicionais com a dança, o vídeo e a fotografia. Por isso, dizem que não representam papéis, mas sim que se apresentam, a eles próprios, ao público. Uma lufada, sem dúvida, não de ar fresco, mas de ArQuente.

Entrevista: Daniel Pina

Já estava escrevinhado na agenda há algum tempo uma visita à Galeria Arco, em Faro, para conhecer mais de perto a ArQuente, associação que nasceu formalmente em Fevereiro de 2006 mas que desenvolve iniciativas desde 2002 em diversas áreas culturais, desde as artes performativas, até as artes visuais e multimédia. E assim lá fomos rumo ao centro histórico da capital algarvia, por entre caminhos e ruelas muito apreciadas pelos turistas estrangeiros, onde nos esperava um trio formado por Teresa da Silva, 37 anos, ligada à música na infância, Fúlvia Almeida, 37 anos, profissional de comunicação, e Gil Silva, 41 anos, funcionário do Teatro Municipal de Faro.
Em conversa informal com uma vista soberba para a Ria Formosa percebemos que é no Sin-Cera – Grupo de Teatro da Universidade do Algarve que primeiro se cruzam os caminhos de Teresa da Silva, Gil Silva, Joana Costa, Nuno Murta, Ricardo Mendonça e Susana Nunes. Nuno Murta que tinha também constituído o grupo «A Fábrica», dedicado a projetos mais performativos e que organiza um workshop com o coreógrafo Miguel Pereira, momento considerado, nesta retrospetiva, como a génese da ArQuente.
Nesse mesmo ano promoveram várias oficinas de trabalho com outros nomes referenciados como o encenador John Mowat, a bailarina Adriana Esberard, a performer Vitória Horta, em projetos que iam oscilando entre o teatro e a dança, e prepararam e produziram o espetáculo «É Por Isso Que Sentimos Pena», orientado por Helena Flor, com estreia em Faro e apresentações em Vila Real de S. António. Em 2004, a ArQuente desenvolveu uma ação de formação continuada com a bailarina Adriana Esberard e iniciou a relação com Regina Goeger ao nível da Dança Butoh, tendo produzido igualmente o espetáculo «Arrepios No Meu Baloiço», com encenação de Susana Vidal, que estreou na antiga fábrica da cerveja de Faro e passou ainda pelas cidades de Albufeira e Barcelona. E como era ano Europeu de Futebol, a associação realizou uma série de performances e happenings a pedido da Câmara Municipal de Faro. Em 2005, a atriz/bailarina Juliana Carneiro Cunha coordena uma Oficina de Trabalho sobre o método de trabalho do «Thêàtre du Soleil», acontecem ateliers de fotografia sob coordenação de Pedro Martins Colasso do Rosário e dá-se mais formação com Adriana Esberard. Em palco apresentam a peça «Cinemascope», da autoria de André Murraças, com estreia no CAPa e reposição na Casa Conveniente em Lisboa, em Faro, no I Festival de Teatro no Inverno em Tavira e no Festival de Teatro da Nazaré.
O grupo de amigos teve, entretanto, que criar uma associação para melhor se relacionar com as outras entidades, formalidade que ocorre em 2006, ano de oficina de trabalho em «Devised Theatre», sob orientação de Francisco Campos, que viria depois a dirigir o espetáculo «Abertura Fácil», estreado no CAPa, numa coprodução Arquente e Devir/CAPa. E é também em 2006 que sobe ao palco do Teatro Municipal de Faro, com «Atrás do Pano» e «La Torre Desnuda», este último com direção de Inès Boza, diretora da companhia «Senzatempo», de Barcelona. “Sempre estivemos mais ligado ao teatro, não numa linha clássica mas mais performativa, ligada à dança, à fotografia e vídeo. Quando nos foi concedida uma sede, começamos a realizar outro género de eventos, nomeadamente os «Concertos ao entardecer»”, conta Teresa da Silva, com Gil Silva a adiantar que integrar uma estrutura já existente em Faro não era a melhor solução para este grupo de amigos. “Cada associação tem a sua identidade própria e, como tínhamos uma maneira diferente de trabalhar, sentimos necessidade de criar algo nosso”, justifica.

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http://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__25