O Museu Municipal de Loulé, que este ano celebra o seu 20.º aniversário, vai ser palco de duas conferências subordinadas ao tema Utopia, nos dias 2 e 30 de outubro. Os docentes da Universidade do Porto, Fátima Vieira e Álvaro Domingues, irão apresentar em conjunto a conferência «Cidades Utópicas», no dia 2 de outubro, pelas 21h. Já a 30 de outubro, pelas 21h, Fátima Vieira vai ter a seu lado José Eduardo Reis, da Universidade de Vila Real e Trás-os-Montes, para abordar o tema «Utopia – O Futuro e o Devir».
Na obra-prima de Thomas More (Utopia, 1516), o retrato da ilha da Utopia é, antes de mais, espacial. Rafael Hitlodeu descreve a cidade de Amaurota, assegurando que quem conhecer essa cidade ficará a conhecer todas as outras, já que são todas iguais. A imaginação utópica é, na verdade, essencialmente de ordem espacial: os espaços simultaneamente refletem e condicionam a organização da sociedade, a todos os níveis; daí que a imaginação de uma sociedade melhor passe muitas vezes pela imaginação de cidades utópicas, límpidas, organizadas. Nesta conversa com Álvaro Domingues, será analisada a forma como os discursos utópico e distópico se misturam num Algarve que liquidou a velha agricultura da planície e do barrocal: não se entende a urbanização «fora da cidade», não se quer perceber o turismo e as suas paisagens, não se sabe como situar politicamente o discurso sobre a natureza e as questões ambientais. Que utopia do espaço poderemos colocar no nosso horizonte para nos fazer caminhar?
Na área dos Estudos sobre a Utopia, a distinção entre os conceitos de futuro e de devir é fundamental. O futuro inscreve-se na linha da História, é a continuação do passado e do presente; o devir é do domínio da contra-história e inclui tudo o que poderá acontecer, tudo o que pudermos imaginar; por definição, é múltiplo, plural. O pensamento utópico opera neste último domínio: explora alternativas possíveis e, através de uma abordagem holística, oferece-nos retratos de sociedades que coloca no nosso horizonte de esperanças; se quisermos alcançá-las, teremos de caminhar. Nesta conversa com José Eduardo Reis (Universidade de Vila Real e Trás-os-Montes), será explorado um dos horizontes que tem vindo a ser explorado pela tradição de pensamento utópico, o de um devir ecológico e sustentável. Uma utopia realizável?