Olhão recebeu, no dia 10 de outubro, um dos nomes maiores da poesia portuguesa: o algarvio Nuno Júdice. O ensaísta, poeta e professor universitário marcou presença no Encontro Poesia a Sul Olhão’15, destacando-se pela sua humildade perante a grandiosa obra que já tem publicada. Diz nunca ter sentido a grande influência que teve em muitos dos seus contemporâneos com a primeira obra «A Noção de Poema», mas tinha a noção de que “era como se fôssemos marcianos, não percebiam o que escrevíamos mas aceitavam, porque percebiam que algo estava a mudar”, testemunhou o autor em Olhão.
Referiu que, quando começou a publicar, a linguagem que utilizava “ia buscar muito à poesia inglesa e americana, a poetas que também levavam a poesia até ao limite da linha”. “Tinha como base não a métrica mas a respiração, o que por vezes fazia com que se confundisse com a prosa”, recorda Nuno Júdice, revelando: “Foi no fim dos anos 60 que encontrei esta linguagem poética”. Nuno Júdice conta que escrevia “para lá do País cinzento e da ditadura” e inspirava-se numa “Europa cultural, cuja capital era Paris”.
«A Noção de Poema», publicado em 1972, nos Cadernos de Poesia da D. Quixote, foi uma pedrada no charco, mas o autor diz que não se apercebeu sequer da importância desta coleção, onde aparecia ao lado de nomes como Pablo Neruda, e da própria divulgação que teve fora de Portugal. “Este livro reunia poemas que vinham desde 1969, organizado de uma forma que representava a influência da teoria da literatura; a poesia como objeto de pensamento”. O poeta, que também tem grande influência do mundo do Cinema e da Pintura, tendo publicadas várias peças de teatro, ensaios e ficção, revela que o seu Algarve tem muita importância naquilo que escreve: “A natureza, o mar, estão muito presentes, o que faz com que a minha poesia seja mais solar do que noturna. Vem da minha experiência algarvia”.