Fernando Pessanha está de regresso à ficção com a novela «A Devota e a Devassa», uma história repleta de humor, ironia e sarcasmo que serve de crítica à sociedade portuguesa do século XVII. Críticas mais diretas e menos bem-dispostas faz o historiador e escritor ao atual panorama nacional, num país onde a cultura e os livres-pensadores são, na sua opinião, vistos como uma ameaça aos poderes instalados e onde ser artista é um autêntico martírio. Uma conversa que teve como ponto de partida os livros, mas que se tornou numa análise sem papas na língua de como vão vivendo, ou sobrevivendo, os portugueses do século XXI.

Texto e fotografia: Daniel Pina

Apesar dos seus 35 anos, Fernando Pessanha já tem no currículo uma série bastante interessante de livros, repartidos entre as áreas da história e da ficção, e encontra-se agora a promover o seu mais recente trabalho, a novela «A Devota e a Devassa». Antes disso, o vila-realense escreveu «A Cidade Islâmica de Faro», «Os 500 anos da Fundação de Arenilha», «Subsídios para a História do Baixo Guadiana e dos Algarves Daquém e Dalém-mar», no campo da história, bem como «Encontros Improváveis», «Hotel Anaidaug» e «O Pianista e a Cantora», na vertente da ficção. Junte-se a isto uma série de artigos publicados em Portugal, Espanha e Marrocos e percebe-se que a vida deste algarvio, que também é pianista e compositor, tem sido bastante prolífica em termos literários.
Um jeito para as letras e para as histórias a que não deve ser estranha a licenciatura em Património Cultural e o Mestrado em História do Algarve pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve, formação académica que o levou a trocar Vila Real de Santo António por Faro durante cerca de 15 anos, daí que uns digam que é vila-realense, outros, que é farense, explica Fernando Pessanha com um sorriso durante um café na Praça Marquês do Pombal, na cidade que o viu nascer. “Foi um longo período vivido na capital enquanto estava no Conservatório de Música do Algarve e depois na Universidade do Algarve, mas cresci em Vila Real de Santo António e para aqui regressei há dois anos”, conta, revelando que já havia antecedentes artísticos na família, nomeadamente o avô, que foi diretor da Banda de Castro Marim e Vila Real de Santo António.
Não causou espanto, por isso, a opção pela área de Humanidades quando atingiu o 10.º ano, porque sempre teve queda para as letras desde a escola primária. Concluído o ensino secundário, enveredou, porém, pela área da música e só quando estava no Conservatório a estudar História da Música é que se reacendeu a paixão pela História em si. Uma paixão que permanece bem acesa, de tal modo que está a tirar um Doutoramento em Património Histórico na vizinha Espanha. “A música, a literatura e a história sempre andaram de mãos dadas na minha vida. Infelizmente, percebi que a música não é uma fonte de rendimento sustentável, melhor dizendo, qualquer atividade artística não garante estabilidade quando desempenhada num regime de exclusividade, pelo que tenho trabalhado, nos últimos anos, no campo da História. Fiz investigação durante dois anos no Arquivo Histórico Municipal António Rosa Mendes, em Vila Real de Santo António, mas há seis meses que estou desempregado”, indica o entrevistado, apreensivo.