É sabido que o Algarve tem dado vários pilotos de categoria internacional ao desporto motorizado, nomeadamente às duas rodas, sendo Ruben Faria o expoente máximo dos últimos anos. Em 2014, outro jovem craque começou a dar nas vistas na modalidade de Enduro, tendo-se sagrado campeão nacional no seu ano de estreia, apesar do cansaço e das despesas extras inerentes a uma competição cujas provas se realizam no centro e norte de Portugal. Como recompensa do seu talento, João Lourenço foi convocado para representar o país numa exigente prova realizada na Eslováquia e, no dia 18 de outubro, disputa-se a derradeira etapa da presente temporada que poderá ditar novo título de campeão nacional. O ALGARVE INFORMATIVO foi até Vila do Bispo para conhecer melhor uma estrela ascendente numa modalidade que continua carente de mais apoios financeiros e da merecida divulgação.
Entrevista: Daniel Pina
Pode-se dizer que João Lourenço foi a grande surpresa da
convocatória da Federação Portuguesa de Motociclismo para integrar a seleção
nacional que participou na «Six Days of Enduro», disputada em Kosice, na Eslováquia,
no início de setembro. O jovem de 23 anos, nascido e criado no concelho de Vila
do Bispo, mais concretamente em Salema, foi um dos 500 pilotos provenientes de
32 países que enfrentaram seis dias de competição e mais de 1200 quilómetros
naquela que é uma das provas mais duras do mundo. Um prémio inesperado para
quem começou a andar de moto aos 18 anos mas depressa deu nas vistas, sendo 1.º
classificado na classe de promoção e 12.º na classificação geral da Baja
Portalegre 500, em 2012 e 2013, depois registando o 5.º e 4.º lugares na geral
do Endurocross do Infante, em 2012 e 2013, o 5.º lugar no Campeonato Nacional
TT1 Open de 2014 e vencendo o Troféu Nacional de Enduro - Verdes 1 no ano
transato.
Cozinheiro no restaurante dos pais depois de ter tirado a
formação no polo de Portimão da Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve, é a
conduzir a sua moto que João Lourenço está realmente feliz, uma paixão natural
para quem acompanhava o irmão mais velho, Paulo Lourenço, nas provas que este
realizava. No entanto, a estreia competitiva só aconteceu por volta dos 19
anos, depois de ter concluído o ensino secundário, porque os pais nunca foram
grandes apologistas dos desportos motorizados. “Eram 200 por cento contra o meu
irmão andar de moto e, apesar de terem sido eles a oferecerem-me a minha
primeira moto, nem queriam ouvir falar de eu participar em provas a sério. A
minha primeira corrida até foi às escondidas deles, mas sempre foi isto que
quis e, quando comecei a trabalhar e a ganhar o meu próprio dinheiro, ia tudo
para as motos”, conta o jovem piloto.
Ao verem o empenho do filho, os pais acabaram por dar o
braço a torcer e aceitar a escolha de João Lourenço e a ideia do entrevistado
foi desde logo entrar em provas oficiais, não apenas subir para uma moto e
andar a acelerar pela estrada fora. Curiosamente, acabou por dedicar-se ao
Enduro, uma variante menos mediática e bem mais exigente onde os pilotos também
têm que ter bons conhecimentos de mecânica. “Nos «Six Days of Enduro», por
exemplo, os mecânicos das equipas só podiam tratar dos líquidos, ou seja,
óleos, travão e gasolina, tudo o resto tinha que ser feito por nós”, indica,
satisfeito por seguir as pisadas de outros grandes pilotos algarvios de duas
rodas. Apesar disso, é o único a representar a região na modalidade do Enduro
e, no concelho de Vila do Bispo, nem sequer há pilotos de outras categorias, o
que o obriga a treinar sempre sozinho. “A primeira vez que treinei com alguém
que me pudesse ensinar alguma coisa, se estou a curvar mal ou a acelerar muito,
foi agora com o Gonçalo Reis antes de ir para a Eslováquia. Temos que perder
muito tempo em cima da moto e é melhor para a nossa evolução ter alguém ao
nosso lado a explicar-nos o que estamos a fazer mal”, salienta.