A faceta de
autarca de Francisco Amaral é sobejamente conhecida, primeiro como presidente
da Câmara Municipal de Alcoutim, agora ao serviço da população de Castro Marim.
O seu percurso e dedicação como médico de família também são bastantes
conhecidos dos algarvios. Um reconhecimento que não caiu do céu, foi sim fruto
de anos, muitos anos, de trabalho incansável, horas a fio a cuidar da saúde dos
seus pacientes e dos destinos dos seus conterrâneos algarvios. E um dia o corpo
fez questão de lhe lembrar que não é uma máquina com uma fonte de energia
inesgotável e que convinha também cuidar da sua própria saúde. Depois do susto,
Francisco Amaral começou a comer melhor, a praticar exercício, a dedicar uma ou
duas horas por dia à sua horta, à pesca, às vezes à caça, o seu modo peculiar
de arejar a cabeça no final de um dia repleto de preocupações, porque não é
fácil ser presidente de câmara.
Texto e Fotografia: Daniel Pina
Estava um dia chuvoso, sol escondido por detrás das nuvens,
aquele frio húmido que nos entranha no corpo, que nos arrefece os ossos por
mais roupa que tenhamos vestida. Mas nada disso impede Francisco Amaral,
presidente da Câmara Municipal de Castro Marim, de estar de volta das plantas,
vegetais e frutos que tem plantados na estufa localizada no Sítio da Amarela,
em Alcoutim, um hectare de laranjeiras herdado dos pais e onde passou grande
parte da sua meninice.
Naquele tempo não havia consolas de jogos, computadores
pessoais, telemóveis, tablets, se calhar nem havia muitas televisões na vila de
Alcoutim, no extremo do sotavento algarvio, paredes meias com o Alentejo e o
Rio Guadiana. Por isso, era perfeitamente normal uma criança ajudar os pais nas
lides domésticas ou a cuidar dos terrenos e assim nasceu o gosto de Francisco
Amaral pelo meio ambiente, pela terra, por colher o que semeava. Mas também a
paixão pela pesca e pela caça. Depois, foi para a escola, tirou o curso de
Medicina Geral e Familiar, meteu-se na política a pedido da população, foi
presidente da Câmara Municipal de Alcoutim durante 20 anos e é agora o
responsável pelos destinos do concelho vizinho de Castro Marim, mais uma vez a
pedido da população, quando já fazia intenção de se reformar da política. Mas
nunca abandonou a pesca e a horticultura, para a caça é que o tempo é mais escasso.
E assim lá estava ele, no Sítio da Amarela, com o seu fiel
cão labrador, de sugestivo nome Xanax, a correr de um lado para o outro
enquanto o dono plantava mais umas alfaces e apanhava umas ervas que, revelou,
iam ser usadas no jantar dessa noite. “Levava os dias na ribeira e no rio a
fazer as malandrices normais dos miúdos, até a roubar romãs e marmelos, mas
também a ir à pesca com umas canas e apanhava bastante peixe-rei, barbos e
enguias. No terreno da família vi o meu pai a plantar aquelas laranjeiras e
faço questão de tratar delas, embora não venda um quilo de laranjas há mais de
20 anos. São para consumo próprio e para dar aos amigos e vizinhos e é óbvio
que manter a horta dá-me prejuízo, mas é como se fosse um filho que ali tenho”,
explica, enquanto mostra a estufa onde planta diversas verduras, legumes e
frutas. “Gosto de cozinhar e aqui tenho tudo o que preciso para as minhas
saladas e sopas”.
Com uma vida de autarca bastante estressante, em que os dias
são dedicados a resolver os problemas e a melhorar as condições de vida dos
cidadãos, Francisco Amaral enfatiza a importância de estar pelo menos uma hora
por dia rodeado pela natureza, lides em que é sempre acompanhado pelo Xanax. E
se faltar à pesca e à caça não causam prejuízos de maior, já a horta exige uma
atenção constante, normalmente ao final da tarde, nem que seja para apanhar
minhocas para depois usar na pesca. Mas o autarca também se preocupa em ler
bastantes livros sobre a matéria e, quando vai a casa de alguém e encontra
alguma planta ou fruto diferente, trata logo de pedir umas sementes. “Tenho de
tudo um pouco na estufa, couves e alfaces, brócolos, beterraba, beringelas,
rúcula. À medida que as laranjeiras vão secando, vou substituindo as árvores
por figueiras, pereiras, pessegueiros, portanto, quando vamos ao supermercado,
nem perdemos tempo a ir à secção das Verduras e das Frutas”.
Leia a entrevista completa em:
http://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__32
http://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__32