Biólogo, radialista, DJ,
surfista, João Saraiva vai agora dedicar três meses à sua outra paixão, as
montanhas, trocando a rotina diária do quente Algarve pelos picos gelados da
Cordilheira dos Alpes, com destino a Tirol, na Áustria. Uma aventura que
apelidou de «The Perfect Winter» e que pretende ser muito mais do que uma
simples viagem de férias à neve, com partida agendada para 6 de janeiro. Antes
disso, o Algarve Informativo foi até Faro para saber mais sobre esta expedição solitária
a um dos maiores paraísos dos desportos de Inverno do velho continente.
Texto e Fotografia: Daniel Pina
João Saraiva «aterrou» no Algarve, em 2001, como tantos
outros lisboetas, por motivos profissionais, e daqui nunca mais saiu. Na
altura, o biólogo marinho veio trabalhar num projeto de investigação em
colaboração com o Centro de Ciências do Mar e, volvidos quase 15 anos, está
precisamente a concluir uma outra bolsa de investigação, desta feita sobre
espécies invasoras da Bacia do Guadiana. “São algumas espécies de um peixe
sul-americano que, em princípio, vieram cá parar por introdução humana e têm
vindo a proliferar. Estamos a tentar encontrar, em parceria com o Parque
Nacional do Vale do Guadiana, formas de controlar esta invasão biológica”,
explica, não sabendo ainda o que o futuro lhe reserva em termos profissionais.
“O sistema científico em Portugal ainda funciona bastante à base de bolsas e
não está preparado para absorver todas as pessoas que queiram ter um contrato e
construir uma carreira mais sólida e sustentada”, justifica.
Vendo-se neste hiato de tempo em que está à espera que saiam
os resultados de alguns concursos a bolsas de investigação, e do alto dos seus
38 anos, com a barreira psicológica dos 40 a aproximar-se a passos rápidos,
João Saraiva decidiu não esperar mais e avançar para o sonho antigo de explorar
os Alpes de uma forma diferente, não de ski, mas com a sua prancha de snowboard
às costas. Curiosamente, a paixão pelos desportos radicais até se fez notar primeiro
pelo surf e ainda chegou a participar em competições oficiais. “Mas sempre foi
a parte das viagens, da descoberta, do surf em si como estado de espírito, que
me cativaram mais. A paixão pela montanha também é antiga, mas só nos últimos
anos é que se tornou mais acessível. Temos a sorte da Serra Nevada estar à
distância de cinco horas de carro, numa autoestrada sem portagens, e na Serra da
Estrela há boas condições para aprender, com excelentes profissionais e
estruturas. Depois, são os Pirinéus a mil quilómetros, os Alpes a pouco mais de
dois mil quilómetros de distância e, quando apareceram as viagens organizadas e
os voos low-cost, até se tornou mais
barato ir passar uma semana de férias na neve do que nas praias algarvias”, compara
João Saraiva.
A primeira ida aos Alpes remonta a 1994, em 2001 repetiu a
dose e, desde então, vai praticamente todos os anos para praticar snowboard,
modalidade com bastantes semelhanças ao skate, onde deu nas vistas nos
primeiros circuitos que se disputaram em Portugal. “Fiz a progressão natural,
skate no asfalto, surf na água e snowboard na neve. A posição é a mesma,
andamos de lado, por isso, quando os meus amigos pegaram nos esquis, eu optei
pelo snowboard e foi um vício tremendo. A vertente técnica é bastante engraçada
e o ambiente de montanha é fantástico”, recorda, revelando que a sua estreia
sozinho na neve deu-se há sensivelmente cinco anos. Mas a montanha tem sido
igualmente um destino por razões profissionais, com várias reuniões a decorrerem
na Áustria, na Alemanha e na Itália e trabalhou, inclusive, muito tempo no
norte daquele país. “Comecei a ir para a montanha de Verão e descobri que tem
muito mais para oferecer do que estar numa estância de ski com milhares de
outras pessoas. Quanto aos riscos, há em tudo, mesmo no surf não é só o perigo
de levar com a prancha na cabeça. Hoje há aulas próprias e informação ao dispor
na internet, no meu tempo aprendíamos com a experiência e com os sustos, as
correntes, as ondulações”.