Ao fim de 21 anos de competição ao mais alto nível, Miguel Praia despediu-se das pistas, mas não das motos, no fim de semana de 28 e 29 de novembro, numa prova disputada em Curitiba, no Brasil, e logo com o terceiro lugar numa corrida de grandes tradições. Foi o culminar de uma aventura que durou três anos do outro lado do Atlântico, depois de ter passado igualmente sete anos a acelerar no Campeonato do Mundo de Superbikes. Agora, o piloto radicado no Algarve praticamente desde a nascença achou por bem terminar a carreira e abraçar a sua outra faceta, de Diretor de Eventos e da Racing School do Autódromo Internacional do Algarve, a tempo inteiro.

Texto: Daniel Pina
Fotografia: Gilmar Rose

Pouco passava das 10 horas da manhã de terça-feira, feriado, mas Miguel Praia já tinha concluído a primeira sessão de treinos diários antes de iniciarmos a conversa, numa conhecida pastelaria de Albufeira, cidade para onde veio viver ainda criança depois da família ter trocado Portalegre pela capital do turismo algarvio. A motivar o encontro estava o adeus à competição do conceituado piloto de 37 anos, que aconteceu no fim-de-semana de 28 e 29 de novembro, na pista da Curitiba, no Brasil. Um arrumar do capacete, por assim dizer, que até aconteceu um ano mais tarde do que estava programado, numa caminhada que se iniciou por volta dos 16 anos. “Depois de fazer sete épocas no Campeonato do Mundo de Superbikes, abracei esta aventura no Brasil, num campeonato supercompetitivo e muito bem organizado, durante três anos. Quando a Honda Brasil me endereçou esse convite, tinha planeado correr só dois anos, em função do meu próprio planeamento familiar e das responsabilidades acrescidas que ia tendo no Autódromo Internacional do Algarve na gestão da Escola de Condução”, conta Miguel Praia, que também é comentador residente de MotoGP na Sport TV.
Uma agenda bastante preenchida, múltiplos compromissos, os anos também começavam a pesar no corpo em virtude dos intensos treinos diários e das constantes viagens, muitas delas para diferentes continentes e atravessando vários fusos horários, e a decisão, que foi difícil de tomar, acabou por ser natural. “Tenho dois filhotes, o Tiago que vai fazer dois anos, o Lourenço, com dois meses, e o desporto de alta competição é algo que nos priva imenso, de tempo com a família e com os amigos, de toda a vertente social, até do que comemos e bebemos no quotidiano, porque o peso é algo fundamental. Senti que deixei de conviver e de viver porque o foco estava sempre no trabalho, nos treinos. Quero acompanhar o crescimento dos meus filhos e fazer oito ou nove viagens por ano ao Brasil, em cada uma delas ficando lá uma semana, foi-se tornando cada vez mais cansativo”, explica, uma rotina que até era mais ligeira do que quando andava no Campeonato do Mundo de Superbikes, simplesmente, nessa época, ainda não estava casado, nem tinha filhos.
Se a saída do Mundial aconteceu sem grandes sobressaltos, mais pacífico ainda foi agora o abandono da competição, isto apesar da equipa e da marca desejarem que realizasse mais uma época, em função dos bons resultados desportivos que vinham alcançando. “Não saí de forma brusca, por lesão ou quebra de contrato, terminei quando achei que era o momento certo. A Honda queria que permanecesse porque vão sair novos modelos e tínhamos hipóteses de continuar a lutar pelos lugares cimeiros, mas os resultados já não eram muito do meu agrado. Ia para o Brasil à quarta-feira, na quinta-feira já estava em cima da moto, depois dum desgaste tremendo com a viagem, e a minha frescura física já não é a mesma de há 10 ou 20 anos. Mais do que participar, é importante lutar para ganhar e eu sempre fui muito competitivo e exigente comigo mesmo”, reforça.