Depois de estar cingido durante muitos anos às fronteiras de Israel, onde era ministrado às forças especiais de defesa, o Krav Maga tem vindo a ganhar inúmeros adeptos espalhados pelos quatro cantos do mundo e o Algarve não é exceção. Isso mesmo constatamos num treino na freguesia do Montenegro da Krav Maga Academy orientado pelo instrutor António Silva, que explicou as principais diferenças entre este sistema de defesa pessoal e as tradicionais artes marciais que ficaram famosas graças aos filmes de Bruce Lee, Jovens Heróis de Shaolin, Chuck Norris ou Van Damme.

Entrevista: Daniel Pina

O Krav Maga é um sistema de combate corpo a corpo  que assenta em técnicas de luta, torções, defesa contra armas, bastões, facas, agarramentos e golpes. Criado por Imi Lichtenfeld para ajudar na defesa do quarteirão judeu durante o período de ativismo anti-semita em Bratislava, na antiga Checoslováquia dos anos 40, migrou para Israel com o seu fundador e depressa foi adotado para treinar as Forças Especiais de Defesa daquele país. Fiel aos princípios de defesa que estiveram na sua génese, foi depois potencializado para ser utilizado em situações de sobrevivência, com o objetivo de neutralizar ameaças, através de manobras de defesa, ataques simultâneos e agressão.
O sucesso do sistema levou a que fosse utilizado por agências de segurança de todo o mundo, mas não demorou muito a que chegasse à sociedade civil, aos cidadãos comuns que pretendem aprender técnicas de defesa pessoal, e a KMA – Krav Maga Academy está representada no Algarve há dois anos através da Associação Amanhecer Selvagem, com escolas no Montenegro, Quarteira, Loulé, Albufeira e Lagos. “O Krav Maga chegou à região há cerca de oito anos mas, em 2013, fizemos a transição para esta escola, porque nos oferece melhor qualidade e um maior acompanhamento”, conta António Silva, que fez o seu trajeto inicial no Karaté, onde é cinturão negro. “Comecei do zero no Krav Maga mas o meu percurso noutras artes marciais facilitou a minha adaptação a este sistema de defesa pessoal”, explica o primeiro cinto negro da KMA em terras lusitanas. 
Sempre com um olhar atento ao treino que prosseguia, António Silva explica de imediato que o Krav Maga não é uma arte marcial e talvez ai resida grande parte da justificação para a enorme adesão que se tem verificado nos últimos anos. “Nas artes marciais dedicamos a vida a algo que queremos fazer bem e de forma perfeita, com movimentos que sejam bonitos. Num sistema de defesa pessoal não se procura a perfeição, mas sim movimentos eficazes para repelir uma agressão o mais rapidamente possível”, distingue o instrutor. “No Krav Maga pretende-se que o praticante, sob stress, em condições adversas, seja capaz de repetir os movimentos que aqui treina”, acrescenta.
Tal não significa que as artes marciais estejam a perder o seu espaço nos tempos modernos, antes pelo contrário, mas António Silva sublinha que só uma reduzida percentagem das pessoas é que consegue dominar algumas dessas técnicas e combinações de movimentos. “A maior parte dos praticantes tem dificuldade em atingir os patamares mais elevados e mesmo esses não vão conseguir utilizar, com facilidade, aqueles conhecimentos para se defenderem em situações reais. O Krav Maga prepara os seus alunos para lidar com o stress, com o aumentar da pulsação do coração, com a forma como o corpo reage à injeção repentina de adrenalina. E um aluno, ao fim de três meses, seis meses, um ano, sente que consegue fazer muitas coisas. Nas artes marciais, um aluno, ao fim de um ano, sabe bastante pouco, se calhar só começa a sua real caminhada após uma década de prática”, refere.