O vintage é, de facto, uma das palavras, ou conceitos, mais em voga no século XXI. De repente, o revivalismo está na ordem do dia, o retomar de velhas tradições, o recuperar de modas antigas, de estilos musicais, de tendências, até de rotinas básicas do dia-a-dia. Este fenómeno chega agora também às barbearias, que perderam o seu espaço no final do século transato para os salões de cabeleireiros unissexos mas estão a querer ressurgir, como verificamos numa visita à Barbearia JUST de Arménio Pereira, em plena rotunda da Guia, na Estrada Nacional 125.

Texto e Fotografia: Daniel Pina

Nascido e criado em Lisboa no último quarto do século passado, desde novo me habituei a ir cortar o cabelo ao barbeiro tradicional, àquele espaço com um, dois, três ou quatro senhores, normalmente de meia-idade, com as suas batinas verdes ou azuis, as cadeiras giratórias de ferro, a rádio a passar música antiga, o som das máquinas, o corte das navalhas, o pó de talco no final do corte, que era mais ou menos sempre igual. Naquele tempo parecia estranho um miúdo, depois rapaz, mais tarde homem de barba feita, ir a um salão de cabeleireira, esse estava reservado às senhoras que iam fazer as suas permanentes, tratar das unhas, pôr a conversa em dia com as comadres.
Depois, apareceram os cabeleireiros unissexo, os homens começaram a querer penteados mais modernos e demorados de fazer. Eram as unhas para tratar, as sobrancelhas para aparar, as patilhas da moda para arranjar ao milímetro, e os barbeiros foram caindo em desuso, quase uma espécie em vias de extinção. Os senhores de meia-idade foram envelhecendo, os rapazes da nova geração já não queriam ser barbeiros, nem sequer cabeleireiros, mas sim hair styllers, verdadeiros estilistas de moda, não de roupa, mas de penteados. Mas, nalguma rua mais escondida e menos movimentada, ainda se conseguia encontrar um barbeiro ou outro, com os seus clientes fiéis a comentar os jogos de futebol do fim-de-semana enquanto cortavam o cabelo ou faziam a barba.
Foi, por isso, uma agradável surpresa quando comecei a ver várias fotografias de malta nova a mostrar com orgulho os seus cortes de cabelo e barbas aparadas realizados na Barbearia Just, na Guia, e bastou um simples telefonema para combinar uma conversa com o proprietário do estabelecimento, Arménio Pereira, natural de Santana da Serra, concelho de Ourique, há 12 anos a residir no Algarve. Curiosamente, o alentejano de 31 anos rumou ao sul para trabalhar no ramo da segurança, mas tinha duas ou três dezenas de amigos que faziam questão de ir a sua casa para cortar o cabelo. “Como estava farto da noite, decidi abrir uma barbearia old school, vintage, à moda antiga. Tirei umas formações em Lisboa e vou agora à Holanda frequentar um workshop numa das barbearias mais famosas da Europa dentro deste conceito”, indica, poucos minutos depois de ter aberto a porta do espaço, mesmo junto à rotunda da Guia, na Estrada Nacional 125.
Inaugurado em novembro de 2015, toda a decoração é da responsabilidade de Arménio Pereira e a ideia foi desde logo fazer a ponte entre o moderno e o clássico, mas houve material mais difícil de arranjar do que outro, revela o empresário. “As cadeiras giratórias são o mais complicado de adquirir, porque não há muitas no mercado e as que se encontram são bastante caras. Também não há fornecedores no Algarve que vendam material para barbearias de homens, só para cabeleireiros e salões de estética, tive que mandar vir tudo de Espanha”, conta.