Longe das comodidades proporcionadas pelos meios de transporte modernos, como o carro ou o avião, há quem, andando a pé, continue a seguir uma tradição com mais de um milénio de existência: percorrer os caminhos de Santiago de Compostela. Seja o caminho português, o francês ou o que atravessa Espanha de um extremo ao outro, fazem-no ora pela fé religiosa, ora pelo desafio da experiência. São homens, mulheres, e até crianças, que, em comum, têm o amor pelo «Caminho». Partilhar histórias e vivências pessoais foi o mote para o I Encontro dos Amigos dos Caminhos de Santiago do Algarve que encheu a Biblioteca Municipal de Loulé.

Texto: Pedro Lemos | Fotografia: Carlos Glória/Zen Trekk

A experiência de caminhar, e as histórias acumuladas, já eram algumas, mas aquele jantar marcou, de forma especial, a vida de José Júlio Brito – o «Peregrino Algarvio», cognome que adotou. Após mais um dia longo de caminhada, desde o nascer até ao por do sol, tinha chegado o tempo do descanso num albergue destinado aos peregrinos. José Júlio Brito estava a percorrer o Caminho Francês, o mais conhecido (mas não o único) caminho até Santiago de Compostela. Já no albergue, e à hora do jantar, o «Peregrino Algarvio» teve um momento de verdadeira comunhão. “Quando dei conta éramos 15 pessoas à mesa, todas de nacionalidades diferentes. E a verdade é que, fosse por gestos ou em inglês, conseguimos todos comunicar uns com os outros. Todos ajudamos na confeção do jantar e, apesar de estar a fazer aquele percurso sozinho, naquele momento senti-me amparado e cheio de vida. Um peregrino torna-se um amigo para toda a vida”, conta, sem esconder os sorrisos.
Caminhar, para José Júlio Brito, é muito mais do que um hobby. “O que, para mim, começou como um desafio acabou como um modo de vida “, conta. Exemplo disso é o facto de que, para além do Caminho Francês, o «Peregrino Algarvio» já fez o Caminho Português, que iniciou em Chaves. Ao longo de 19 dias caminhou debaixo de chuva e de temperaturas negativas. Tudo por um propósito: “Desligar de uma rotina sufocante, partindo preparado para me aceitar e para me amar como realmente sou”. E a verdade é que, confessa o «Peregrino Algarvio», as idas a Santiago de Compostela são para continuar. “Quem faz um Caminho de Santiago quer repeti-lo. Já passei por algumas situações menos boas, como tentativas de assalto, mas também já vi coisas tão espetaculares como um rapaz com próteses nas pernas a fazer o Caminho”.