Há muito tempo que não dávamos a conhecer o outro lado de um político, a faceta menos conhecida deste autarca ou daquele dirigente partidário. A história desta semana até surgiu por acaso, pois vínhamos de outra reportagem quando demos de cara com Sérgio Viana, uma das principais figuras do PS/Algarve nas últimas décadas e que agora se dedica à restauração e criação de raiz de peças de mobiliário em madeira para dar um ar especial às nossas casas. Esta é a história do Espaço 18, em Faro, perto do Largo do Carmo.  

Texto e Fotografia: Daniel Pina

Era mais uma manhã de trabalho na capital algarvia, tinha terminado uma entrevista e regressava ao parque de estacionamento localizado junto à Igreja do Carmo, por entre ruelas pouco movimentadas, quando encontro uma série de cadeiras, mesas-de-cabeceira, garrafeiras, expostas em pleno passeio. A agenda estava livre, a curiosidade falou mais alto, parei para observar as peças de madeira. Notei logo que muitas tinham sido recicladas, ou seja, eram antigas, estavam estragadas, antes de darem corpo a novas peças, bastante bem tratadas, de traços rigorosos, os assentos das cadeiras de cores e padrões garridos, quase quadros onde pudéssemos descansar o corpo.
Estava eu entretido nas minhas observações quando, de um espaço de 15 metros quadrados, sai uma figura imponente, a rondar os dois metros de altura, um rosto que bem conhecia, de ferramenta nas mãos. Há algum tempo que me questionava por onde andaria Sérgio Viana, um dos principais quadros do PS/Algarve nos últimos 30 anos, mas que tinha deixado de ver nos diversos eventos que a estrutura socialista organizava na região, nomeadamente na receção às figuras de estado, aos governantes que viajam até ao sul do país em serviço e que abalam quase sem se dar por eles. Mais surpreendido fiquei, porém, ao encontrá-lo neste cenário improvável, um homem que jogou futebol durante 15 anos no Lusitano de Vila Real de Santo António antes de se dedicar à política ativa e que deu nas vistas como adjunto e chefe de gabinete do Governador Civil do Distrito de Faro ao longo de sete anos.
O ainda membro da Comissão Política da Federação do PS/Algarve e da Comissão Política da Concelhia do PS/Faro olhou também para mim com espanto, antes de estender a mão e abrir o sorriso para nos cumprimentarmos e não evitei a pergunta que me estava na ponta da língua – «Então que faz aqui o Sérgio?» – ao que me respondeu que aprendeu eletromecânica enquanto miúdo, numa época em que os cursos profissionais ainda proliferavam. “Entretanto, há uns anos deparei-me com uma situação algo aflitiva: deixei de exercer um cargo político e as pessoas foram rápidas a esquecerem-se de mim, de tudo aquilo que fiz em prol do partido. Ainda procurei em algumas autarquias ou organismos de estado, mas toda a gente me fechou as portas”, relata Sérgio Viana, sem esconder a natural amargura de quem tanto deu ao PS e foi depois colocado na prateleira, só por já ter ultrapassado a barreira dos 50 anos.
Depois de tantos anos a viver a alta velocidade, sem um minuto para descansar, a percorrer o Algarve e o país de lés-a-lés, Sérgio Viana, com 57 anos, não estava preparado para se reformar, para passar os dias nos bancos dos jardins, muito menos para ficar em casa a ver os programas da tarde dos vários canais de televisão. “Pensava que ainda tinha um contributo importante para dar à região, pelos conhecimentos e experiência que tenho, pelos cargos que desempenhei, mas os outros entenderam que não. Ainda me sinto relativamente jovem, mas a cabeça é que mexe com o corpo, não podia estar parado e assim apareceu o Espaço 18”, indica. Quanto ao nascer do artesão, socorre-se das palavras do anterior Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho: “O desemprego, às vezes, proporciona o descobrir de novas oportunidades, aptidões que estão dentro de nós e que desconhecíamos. Esta não era a minha ambição, mas cá estou com bastante gosto”.
Claro que uma coisa é aprender umas noções básicas na escola quando se é miúdo, outra bem diferente é colocá-las em prática, pegar nas ferramentas, em peças recicladas, e dar-lhes uma nova vida. Contudo, depois de um arranque um pouco atribulado, como seria de esperar, hoje, Sérgio Viana já não consegue dar vazão às encomendas que recebe. “Foi uma agradável surpresa, as pessoas reconhecem alguma beleza e criatividade nas coisas que faço. Só utilizo materiais reciclados e, felizmente, deixou-se de deitar fora o que é velho para se comprar tudo novo, está na moda recuperar o que é antigo”, explica, adiantando que umas peças se conseguem aproveitar para a mesma função, outras dão origem a algo completamente diferente.