Numa destas manhãs, o Algarve
Informativo viajou até Santa Luzia, freguesia do concelho de Tavira, para
respirar mais de perto a Capital do Polvo. A iniciativa inseria-se no programa
da «Dieta Mediterrânica Todo o Ano» e pretendia dar a conhecer as histórias e
os saberes dos homens do mar, bem como as questões ligadas à biodiversidade, à
gestão das pescas e às condições das comunidades. E assim lá fomos desfrutar do
sol quente, entre muitos residentes, nacionais e estrangeiros, interessados por
viver mais de perto as tradições e riquezas do outro Algarve.
Texto:
Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
Com o sol a bater forte no rosto,
partimos logo bem cedo rumo a Santa Luzia, a poucos quilómetros de Tavira,
atraídos pelo rótulo de «Capital do Polvo». À espera dos participantes deste
passeio inserido no programa «Dieta Mediterrânica Todo o Ano» estavam Brígida
Baptista (arqueóloga) e Carlos Sonderblom (oceanógrafo), da recém-criada
Associação Cultural do Património Marítimo Lais de Guia, assim como os pescadores
Joaquim Oliveira e José Basílio e a antropóloga do Museu Municipal de Tavira, Luísa
Ricardo.
O objetivo do passeio, dividido
entre as docas e a zona dos apoios de praia, desta freguesia com fortes
ligações ao mar e à pesca era ouvir em primeira mão as histórias e os saberes
dos homens do mar e assim tomamos consciência de que a vila de Santa Luzia
sempre esteve ligada à Ria Formosa e ao Oceano Atlântico. Prova disso é que os
primeiros registos da existência de cabanas de junco de apoio à pesca nesta
área sobranceira remontam ao século XVI. Por volta de 1837 já existiam na
aldeia 53 fogos de habitação e, a partir da década de 20 do século XX, Santa
Luzia inicia a pesca do polvo com alcatruzes e covos, atividade sempre em crescendo
até aos tempos modernos e que lhe granjearam o título de «Capital do Polvo».
De facto, apesar de ter menos de
1500 habitantes, Santa Luzia é um importante porto pesqueiro do sotavento
algarvio, ali desembarcando, por mês, entre 7 a 250 toneladas de polvo,
consoante a altura do ano. Um volume que representa cerca de 30 por cento da
produção pesqueira do Algarve, resultado de uma frota constituída por 38
barcos, 17 de pesca local (com menos de 9 metros de comprimento) e 21 de pesca
costeira (com mais de 9 metros de comprimento). E Santa Luzia é mesmo o único
porco de pesca do país que se dedica exclusivamente ao polvo, o que o torna um
dos mais significativos, no contexto europeu, nesta espécie.
Pesca do polvo que, como é óbvio,
tem as suas regras, sendo o peso mínimo permitido por lei as 750 gramas, de
modo a garantir que parte da população consiga atingir a fase adulta e, desse
modo, reproduzir-se. Mas as próprias armadilhas estão regulamentadas pela
legislação portuguesa, sendo que o número máximo de covos é de 750 para
embarcações locais até 9 metros de comprimento, mil para barcos dos 9 aos 12
metros e 1250 para embarcações costeiras maiores que 12 metros. Quanto ao
número máximo de alcatruzes por embarcação é de três mil, independentemente da
sua dimensão.
Ao longo do passeio depressa
constatamos que existem, então, duas artes de pesca para apanhar o polvo. Os
covos são gaiolas de plástico que utilizam isco para atrair os polvos, ao passo
que os alcatruzes são recipientes em forma de pote e que não carecem de isco.
Alcatruzes que, antigamente, eram feitos de barro, contudo, como se partiam
facilmente, foram substituídos por outros de plástico PVC, mais resistentes,
mas também mais poluentes. Ora, para pescar o polvo, ambas as artes são
colocadas em séries de centenas de armadilhas, numa estrutura denominada
«teia». A pesca é feita normalmente durante a noite, com os barcos a saírem do
cais ao fim do dia e regressarem na manhã seguinte para descarregar a captura
na lota. E, como se adivinha, nem só os polvos caem nas armadilhas, sendo
pescados, igualmente, navalheiras, lagostins, lagostas, santolas e
lavagantes.
Leia a reportagem completa em:
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__49
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