A faceta de fotógrafo de Tata
Regala tem estado bastante proeminente nas últimas semanas, com três exposições
patentes em simultâneo em Faro, Loulé e Pêra, mas antes disso já tínhamos
conhecido o declamador de poesia e o ator de teatro. Uma vida cultural que
decorre em paralelo com a sua atividade profissional de biólogo, consultor e
apresentador do programa da RTP «Bombordo», mas é nas suas múltiplas viagens de
trabalho que nascem diversas interrogações a que depois tenta dar resposta
através da arte.
Texto:
Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
O meu primeiro contato com Tata
Regala foi num evento dos «Calceteiros de Letras» que teve lugar no Ginásio
Clube Farense, numa noite dedicada à poesia erótica em que foi declamar alguns
poemas. Algumas semanas depois, fiquei a conhecer mais uma das suas vertentes
culturais, a fotografia, ao receber o convite para a inauguração de três
exposições que iam estar patentes, em Loulé, Faro e Pêra. Com a curiosidade
espicaçada, mergulhei no mundo maravilhoso do Google e do Facebook e
apercebi-me daquela que seria, supostamente, a sua faceta mais visível, a de
apresentador do programa da RTP «Bombordo», dedicado à economia de mar e aos
recursos da pesca.
Convencido, fui para o terreno,
mais concretamente para uma conversa com Tata Regala, na zona ribeirinha de
Faro, cidade para onde se mudou em jovem para tirar o curso de Biologia e
Pescas na Universidade do Algarve. Depois, foi ficando pelas mesmas razões que
cativam todos aqueles que não são naturais do Algarve, pelo clima, pelo espírito
descontraído que se vive no dia-a-dia, por não sentir pressões sociais tão
fortes como noutros pontos do país, nomeadamente nas grandes metrópoles. Talvez,
por isso, estejamos quase perante dois «Tatas»: o do Algarve, conhecido pela
fotografia, pela sua ligação ao teatro e à dança contemporânea; fora do Algarve
respiram mais forte as suas atividades de biólogo e de apresentador de
televisão. Mas também já foi fotojornalista de atividades náuticas e, quando
não está a trabalhar no «Bombordo», é consultor ambiental a bordo de
embarcações de prospeção sísmica de petróleo.
Ora, como o trabalho de mar-alto
e do «Bombordo» acontecem, normalmente, fora da região, Tata Regala sentiu a
necessidade de criar a sua própria identidade no Algarve onde vive e as artes
foram o caminho encontrado para conseguir fazer parte de uma comunidade da qual
está muitas vezes afastado. Propensão para as artes que justificam, de certa
forma, a naturalidade com que enfrenta uma câmara e um microfone, por entender
que tem que haver uma apetência inata para essa função. “Quando tiramos um
curso de ciência, sentimos logo que há uma grande distância em relação ao
cidadão comum, parece que vivemos num mundo à parte, fechado em si. Os biólogos
têm dificuldade em sentir-se parte da comunidade porque tudo o que fazem é tão
denso, em termos de gíria e de questões técnicas, que se torna ininteligível. O
«Bombordo» foi, para mim, o Santo Graal para combater esta fossa, para
estabelecer uma ponte”, analisa, de olhar no horizonte.
Sem darmos por isso, estamos a
falar de um tema muito longe do planeado mas que está, atualmente, na moda, com
os governantes nacionais a acordarem, finalmente, para as riquezas do mar e
para o potencial da costa algarvia, ao invés de pensarem apenas no sol e praia.
“O Algarve está envolto num véu de desconhecimento, apesar do trabalho
realizado pela Universidade do Algarve, o IPIMAR e outros centros de
investigação. Infelizmente, há tanto que não sabemos sobre a nossa costa, e a
Ria Formosa em particular, e muitas vezes basta uma centelha de curiosidade
para se começar a explorar, a investigar”, frisa o consultor ambiental, antes
de ser confrontado com toda a polémica que envolve a prospeção de
hidrocarbonetos na costa algarvia. “Penso que, com cautela, não é uma coisa, per se, negativa. Contudo, o que tenho
visto é uma forte manifestação anti-exploração muitas vezes pouco esclarecida.
A mim faz-me confusão o facto desta sociedade estar assente no consumo
energético de petróleo versus o facto de não o explorarmos e parece-me que esta
proto hipocrisia que vivemos tira-nos alguma legitimidade de manifestação”,
entende Tata Regala.
Leia a entrevista completa em:
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__50
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__50