Sócio-fundador da Arandis
Editora, Nuno Campos Inácio é também famoso pela sua profícua vertente
literária, nos primeiros tempos com obras de ficção, de há uns anos para cá com
livros sobre a história local e regional. Menos mediático, mas bastante mais
trabalhoso, é o seu projeto da «Genealogia do Algarve», através do qual tem
investigado e dado a conhecer o percurso das gentes que têm vivido no sul do
país nos últimos séculos.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
Nuno Campos Inácio vai lançar, no dia 14 de abril, no Hotel Hilton
de Vilamoura, o livro «O Acordeão no Algarve», o último de uma já longa série
de obras sobre a história do Algarve, embora tenha iniciado a sua carreira
literária na área da ficção. Com 16 títulos publicados, a ponte para a vertente
histórica deu-se em 2011, com «1189 – o Último Massacre», sobre a conquista de
Alvor. Entretanto, depois de abraçar o projeto da «Genealogia do Algarve»,
começou a encontrar inúmeros documentos inéditos que deram azo a novos livros,
entre eles «Portimão - Cidade com História», que mostra Portimão antes de 1924;
compilou o «Apokalipsys» de Vítor Borges, que aborda o Algarve durante o
período islâmico; lançou «A Batalha do Arade» e «A História Ilustrada de Portimão»,
em parceria com Luís Peres; já para não falar da coleção de 84 volumes do
«Índice Geral de Casamentos do Algarve», cujos três primeiros volumes já foram
publicados, sobre Alcantarilha, Alferce e Alcoutim.
À conversa no Instituto Manuel Teixeira Gomes, em Portimão,
Nuno Campos Inácio confirma que a história do Algarve está praticamente toda
por escrever, sobretudo porque, há coisa de meio século, surgiu a ideia de que
a região era apenas sol e mar, devido ao crescimento do turismo. “Contudo, até
essa data, o que evidenciava o Algarve era a sua cultura, a forma como as suas raízes
estavam implantadas num meio mais ou menos fechado e com características
bastante regionais, que pouco ou nada tinham a ver com o resto do país. As
exceções eram os grandes portos de entrada – Portimão, Faro, Lagos e Olhão –
onde se notava uma maior abertura ao exterior”, revela o entrevistado,
lembrando que, nessa altura, bastava ir à zona do barrocal e da serra para
encontrar o Algarve exatamente como ele era nos séculos XVI, XVII ou XVIII.
O boom da região para a atividade turística e o facto de
praticamente dois terços da população residente no Algarve não ter cá nascido
contribuiu para que a sua história e tradições ficassem remetidas ao
esquecimento. “Só mais recentemente é que se tem assistido ao ressurgimento
desse orgulho regionalista, com vários autores a debruçarem-se sobre a história
do Algarve e a descobrirem coisas fantásticas”, assegura Nuno Campos Inácio. “E
não nos podemos esquecer que os dois primeiros finalistas ao Prémio Nobel da
Literatura eram algarvios – o João Bonança e o Júlio Dantas. O maior pedagogo
nacional, João de Deus, é algarvio. Ramalho Ortigão é filho de algarvios, Eça
de Queirós é bisneto de algarvios, todos os grandes vultos ao nível da cultura
portuguesa têm ligações ao Algarve”, destaca o portimonense.
Nuno Campos Inácio vai mais longe e fala do trabalho do investigador Carlos Castelo sobre a «Escrita do Sudoeste» e que aponta que o berço da própria escrita foi a região do Algarve e Baixo Alentejo. “E se compararmos os nossos vestígios arqueológicos com outros semelhantes que são descobertos noutros pontos da Europa, está demonstrado que os nossos são mais antigos. Ou seja, não houve no Algarve um acumular de culturas vindas de outras zonas, mas sim a saída dos povos autóctones daqui para outras zonas e que levaram para lá a evolução. Séculos depois, outros povos que foram assimilando essas culturas vieram para o Algarve e um exemplo disso é a escrita”, afiança.
Leia a entrevista completa em:
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__52