O Azinhal recebe, de 20 a 22 de maio, mais uma edição
da Feira «Terra de Maio» e um dos principais destaques do certame é, sem
dúvida, a cabra de raça algarvia. Por isso, fomos até ao interior do concelho
de Castro Marim conversar com Paula Rosa, responsável técnica da Associação Nacional
de Criadores de Caprinos da Raça Algarvia (ANCCRAL), para saber como está o
setor e conhecer os principais projetos em andamento.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: D.R.
É na pacata freguesia do Azinhal, concelho de Castro Marim,
que está localizada a sede da ANCCRAL – Associação Nacional de Criadores de
Caprinos da Raça Algarvia, nascida há mais de duas décadas com o intuito de
recuperar uma raça autóctone do Algarve e que defendesse os interesses dos seus
criadores. Presentemente com 56 associados a nível nacional, divididos entre o
Algarve e o Baixo Alentejo, a entidade apenas intervém ativamente na produção e
comercialização de leite e seus derivados, deixando a vertente da venda da
carne para os próprios criadores. Uma linha leite que sofreu um grande
incremento quando, em 2010, em parceria com o Município de Castro Marim, foi
construída uma queijaria no Pavilhão Multiusos do Azinhal. “Entramos na
produção de queijo e tentamos escoar e valorizar um produto que é de excelência,
o leite. Entretanto, havia uma empresa, pertencente a um grande grupo nacional,
que fazia a recolha do leite na região do Algarve mas, em maio de 2015, optou
por desistir dessa atividade. Isso fez com que a associação, com o apoio dos
municípios de Castro Marim e Alcoutim, tivesse adquirido um caminhão e uma
cisterna de recolha e, desde essa altura, procedemos à coleta do restante leite
que não é escoado na queijaria”, explica Paula Rosa, responsável técnica da
ANCCRAL.
Para concretizar essa missão, foram estabelecidos acordos
comerciais com queijarias de maior dimensão do Baixo Alentejo, tudo para
facilitar a vida dos criadores de uma zona bastante complicada para se
trabalhar, explica a entrevistada. “Os rebanhos são pequenos, estão dispersos
pelo território, que é principalmente de serra, o que torna a recolha do leite
um problema recorrente. Aparecem uns compradores, no ano seguinte já não
regressam porque o negócio não é rentável, mas nós, como associação, não temos
o lucro como objetivo base”, aponta Paula Rosa, ao mesmo tempo que chama a
atenção para a rigorosa legislação em vigor. “As queijarias que não estão
licenciadas não podem entrar na área comercial e vender diretamente o leite
para consumo também não é possível, portanto, tivemos nós que assumir essa
função”, frisa.
Uma atividade onde, como se adivinha, as margens de lucro
são bastante reduzidas, mas Paula Rosa lembra que isso se passa em todo o setor
agropecuário em Portugal e que o grande problema é sempre a comercialização.
“Os pequenos produtores não têm margem para diluir os custos fixos. Veja que,
levando 50 ou cinco mil litros, o custo que está associado é basicamente igual,
mas a rentabilidade é completamente diferente. Mesmo nos produtores,
associações e cooperativas de maior dimensão, estamos perante duas forças
distintas de poder: a grande distribuição de um lado, o produtor do outro”,
refere, reconhecendo que a balança pende normalmente para o primeiro lado.
Um entrave que não se coloca no setor dos pequenos
ruminantes são as quotas de produção impostas pela União Europeia, como sucede
na produção de leite de vaca, ramo ao qual, infelizmente, Paula Rosa não augura
um futuro risonho. No que toca ao leite de cabra, é, sem dúvida, menos
consumido pelas pessoas, o que a entrevistada estranha, face à tradição que os
países do sul da Europa têm na sua produção. “Por exemplo, nos países nórdicos,
é considerado o topo de gama em relação a qualquer outro leite. Em Portugal, a
procura vai aumentando e já está feito um projeto de ampliação da queijaria,
mais uma vez em parceria com o Município de Castro Marim. Queremos começar a
vender leite pasteurizado ao consumidor, porque as pessoas perceberam que é um
leite de maior qualidade, do ponto de vista nutricional e dietético”, adianta a
responsável técnica da ANCCRAL.
Leia a entrevista completa em:
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__57
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__57