Em plena Reserva Natural do
Sapal de Castro Marim, com o Rio Guadiana no horizonte, a atividade é muita nas
salinas da Cooperativa «Terras do Sal», a grande responsável pela revitalização
de todo um setor que estava a desaparecer no extremo do sotavento algarvio.
Hoje, o sal de Castro Marim é conhecido nos quatro cantos do mundo, exportado
para vários continentes, premiado nos mais prestigiados concursos
internacionais, tudo assente numa produção artesanal, à moda antiga e com a
qualidade do produto final sempre em mente.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Agostinho
Gomes
É na Reserva Natural do Sapal de Castro Marim que se
localizam as salinas integradas na «Terras do Sal», cooperativa formada em 2004
e constituída, atualmente, por 10 cooperantes, seis dos quais em atividade.
Produtores que sentiram a necessidade de se unirem para lidar melhor com um
mercado que se transformou por completo no final do século passado,
conseguindo, desta forma, uma maior capacidade de resposta e mais visibilidade.
"As salinas tradicionais estavam praticamente extintas, perdeu-se uma
geração de salineiros em Castro Marim, devido às mudanças radicais que
aconteceram em Vila Real de Santo António”, confirma o Diretor de Operações
Luís Rodrigues.
Recuando um pouco na história, o sal de Castro Marim
conheceu um grande desenvolvimento quando as indústrias conserveiras estavam ao
rubro no concelho vizinho de Vila Real de Santo António, mas a capacidade de
produção das salinas tradicionais do Sapal de Castro Marim depressa foi
ultrapassada pela demanda, assim se passando a produzir sal de modo industrial.
“Essa produção industrial acabou por canibalizar a produção artesanal. Nos anos
80/90, as indústrias conserveiras, por questões de rentabilidade,
deslocalizaram-se para Matosinhos, Açores e outros pontos de Portugal e o
próprio sal industrial praticamente desapareceu. Mantiveram-se apenas em
atividade as unidades com menores encargos, ou seja, deixou-se de dar tanta
importância à qualidade e privilegiou-se o preço”, prossegue Luís Rodrigues com
o seu relato.
Entretanto, no virar do século, encetaram-se esforços para
não deixar morrer um conhecimento ancestral que ainda persistia em muitas
famílias de salineiros e tentou-se revitalizar a Reserva Natural do Sapal de
Castro Marim, focada na produção artesanal, um processo que durou vários anos,
antes mesmo do nascimento da Cooperativa «Terras do Sal». Mas o facto é que se
perdeu toda uma geração de salineiros, quer por causa do advento da
industrialização do processo, como do próprio boom que a atividade turística conheceu na região nas últimas
décadas do século XX e que afetou praticamente todo o setor primário. “Em
Castro Marim assistiu-se a uma fuga para a solução, as pessoas tiveram que
virar-se para as atividades que realmente tinham necessidade de mão-de-obra,
visto que a indústria conserveira estava a desaparecer. O problema é que se perdeu
parte desse conhecimento que se devia perpetuar de geração para geração”, lamenta
o entrevistado.
Olhando para os cooperantes em si, é fácil adivinhar que uns
serão já de idade avançada, outros, pertencentes a uma nova geração que
percebeu que, afinal, o turismo não é garantia de sucesso e rentabilidade para
todos e que há que procurar outras fórmulas de sucesso na vida. “Temos alguns
produtores mais idosos, mas também sangue novo que nada tinha a ver com o sal e
que decidiu investir nesta atividade. Isso gerou uma necessidade de mão-de-obra
que é suprida pelos castro-marinenses, pessoas que tinham partido para outros
destinos e que agora regressaram ao ramo. É uma matéria-prima produzida dentro
de Castro Marim e que tem sido importante para sustentar muitas famílias”,
frisa o Diretor de Operações.
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https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__56
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