Tavira assinala, no dia 31 de maio, pelas 16h, no Salão
Nobre dos Paços do Concelho, mais um Dia Nacional do Pescador. A celebração
consiste na homenagem a quatro marítimos como forma de reconhecimento e
valorização pela sua dedicação ao mar: Ofélio Pires Conrado (Cabanas), Carlos
Luís Jacinto (Santa Luzia), Edmundo Florêncio Anica Pereira (Tavira), Leonardo
Egídio Martins Diogo (Tavira).
Ofélio Pires Conrado nasceu a 23 de maio de 1945, em
Cabanas, onde sempre tem vivido. Descendente de uma família de pescadores
começou a dar os primeiros passos na vida do mar, com apenas 12 anos, na
embarcação de seu pai, após ter concluído o exame da 4ª classe. Dois anos mais
tarde, já com autorização, assume-se como pescador. Do seu percurso recorda um
acidente que sofreu, aos 17 anos, ao acender uma lanterna com álcool no porão
do «Maria Leonete», barco propriedade de seu pai. Sofreu queimaduras e para
sobreviver teve de mergulhar no mar. Este episódio resultou num internamento de
três dias, no Hospital de Portimão.
Aos 18 anos adquiriu a cédula marítima, mas a atividade
piscatória foi interrompida, três anos depois, para cumprimento do serviço
militar. Aos 23 anos retoma a sua profissão, na embarcação André Leonor, onde
pescava em águas espanholas, sendo que, numa ocasião, Ofélio e os restantes
camaradas foram retidos, pelas autoridades espanholas, durante cinco dias. Trabalhou
neste barco até aos trinta e tal anos, tendo mudado, posteriormente, para a
embarcação «Vanda Manuela». Reformou-se, com 60 anos, mas continua a laborar,
pois como o próprio afirma a sua baixa reforma não lhe permite viver
condignamente. Assim para fazer face às vicissitudes ingressou, desde há 17
anos, na companhia «Pérola de Cabanas».
Carlos Luís Jacinto nasceu, em Marrocos, a 4 de junho de
1938. Veio, desde logo, para Portugal, onde estudou até à 2ª classe, uma vez
que com 12 anos teve necessidade de começar a trabalhar para ajudar a família. Iniciou
a sua atividade como marítimo, em 1950, com o seu pai, numa embarcação à vela
que praticava a apanha do polvo com alcatruzes. Após dois anos, mudou-se para a
apanha de cavalas e carapaus à «sacada».
Com 17 anos, uma vez que a pesca por cá não era muita,
decidiu regressar a Marrocos para tentar a sua sorte na pesca do atum. Volta a
Portugal, no ano seguinte, para trabalhar na pesca da sardinha, numa traineira,
em Vila Real de Santo António, onde permaneceu durante três anos. Integrou a
tripulação da «Armação do Barril», em Santa Luzia, onde pescava atum. Porém,
dada a sua escassez, nos meses mais fracos, Carlos enveredava pela pesca do polvo.
No entanto, este também começou a falhar e, uma vez mais, houve necessidade de
ir para Marrocos para a «caçada», deixando para trás mulheres e filhos. Ambicionando
a sua estabilidade profissional e familiar, em maio de 1978, este pescador
conseguiu ter a sua embarcação «Os 5 irmãos», numa homenagem aos seus filhos.
Governou-a, até 2010, ano da sua reforma.
Edmundo Florêncio Anica Pereira nasceu a 4 de setembro de
1942, na Luz de Tavira, onde viveu até aos 15 anos e estudou até à 3ª classe. Mudou-se
para Santa Luzia para trabalhar na travessia da ria, já com cédula profissional
de pescador. Trabalhou, durante 10 temporadas, na pesca do bacalhau e, mais
tarde, em Marrocos, Tanger e Kenitra, assumindo a função de cozinheiro da
embarcação. Nas interrupções das temporadas dedicava-se à apanha de bivalves.
Voltou à sua terra natal para a pesca da lagosta no barco «Branca
Noiva do Mar» do mestre António Filipe. Posteriormente, e durante cerca de oito
anos, trabalhou na apanha do polvo com alcatruzes, vivendo, até à sua total
desocupação, no antigo «Arraial Ferreira Neto». Durante o seu percurso resolveu
formar-se como nadador salvador, tendo exercido esta função, durante cinco
anos, na Praia do Barril. Edmundo terminou a sua atividade marítima, aos 55
anos, numa embarcação de Tavira dedicada à pesca em rapa. Nas suas memórias
constam três naufrágios, mas aquele que melhor recorda foi o que ficou três
horas à superfície de água agarrado, com todas as suas forças, a uma tábua de
madeira pertencente à embarcação que acabara de naufragar, tendo sido obrigado
a nadar, durante largas horas, até conseguir alcançar terra.
Leonardo Egídio Martins Diogo nasceu a 1 de setembro de
1947. Oriundo de uma família de pescadores, após concluir a 4ª classe, com
apenas 10 anos, começou a andar ao mar em vários barcos de pesca a remo e à
vela, com redes de emalhar, alcatruzes e artes de arrastar. Entre 1963 e 1967,
e por força das circunstâncias, deixou o mar para trabalhar em terra. Foi para
a tropa, tendo cumprido o serviço militar, em Portugal e Angola até 1971. Posteriormente,
com o intuito de melhor a sua situação económica, emigrou para a Alemanha, onde
esteve até 1974.
Após o 25 de Abril, regressou a Portugal onde retomou a
atividade piscatória, comprando a sua primeira embarcação «Sagrada Família»,
seguindo-se a «Praia da Manhã» e depois «Mário». Passados 20 anos, e
considerando a crise no setor, esta última embarcação foi abatida, em 2002.
Nesse mesmo ano, comprou um novo barco em fibra de vidro, encontrando-se a
trabalhar até à presente data. Fruto da sua atividade profissional, Leonardo
Diogo desempenhou as funções de secretário no Sindicato das Pescas do Sul, de
vogal no Conselho Consultivo Mútua dos Pescadores (1974-2016), de Presidente da
Assembleia Geral Tavicoop (1989-2003) e de Presidente da direcção da APTAV
(Associação de Armadores e Pescadores de Tavira) (2005-2016).