Nilton veio até ao Algarve apresentar o seu novo espetáculo de stand-up comedy, em duas noites repletas de boa disposição nos Casinos de Vilamoura e Monte Gordo. No final, falou um pouco do que têm sido estes 16 anos como comediante, revelou alguns projetos que tem em mangas para o futuro e analisou como está o humor em terras portuguesas.
 
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

Aproveitando o regresso de Nilton ao Algarve para dois espetáculos nos Casinos de Vilamoura (10 de junho) e de Monte Gordo (11 de junho), fui pôr a conversa em dia com este beirão que começou a dar nas vistas no sul do país como DJ na discoteca Horága, na Praia da Rocha. Estávamos no virar do milénio, mas Nilton já andava envolvido com a stand-up comedy, numa altura em que Portugal ainda nem sequer sabia bem o que era a stand-up comedy. Era um formato diferente de fazer comédia, de contar piadas alusivas ao quotidiano, algo que víamos, por exemplo, na série Seinfeld, na televisão, mas que ainda não tinha «aterrado» no nosso país.
Tudo mudou, em 2003, com o programa «Levanta-te e Ri», da SIC. Foi o nascer, imediatamente seguido do boom, da stand-up comedy em terras lusitanas e Nilton não pensou duas vezes, guardou os discos de música na mala, pegou no material que vinha escrevendo há algum tempo, e foi para Lisboa. O resto da história é mais ou menos conhecida do grande público. Nilton depressa se instalou no topo, ao lado de nomes como Bruno Nogueira, Aldo Lima ou Nuno Markl, e no topo se tem mantido há quase 16 anos, dividido entre os espetáculos ao vivo, os programas de televisão e de rádio, as crónicas em jornais e revistas e os livros que tem escrito.
Como se adivinha, o dia-a-dia de Nilton é um autêntico corrupio, mas não perde uma oportunidade para viajar até ao Algarve, região onde passou boa parte da sua vida, e assim o voltamos a encontrar nas duas salas da Solverde – Casinos do Algarve, para apresentar o seu novo espetáculo. “É um momento de partilha das minhas experiências, de alguns aspetos pessoais, mas onde acabo por revelar também algumas coisas que pretendo fazer no futuro. Explico, em palco, os projetos que tenho em mente e faço alguns testes para ver como a coisa funciona”, conta o humorista, esclarecendo que os seus espetáculos nunca estão «fechados», não existe um alinhamento estático, rigoroso. “Como tenho imenso material, há sempre mudanças de uma atuação para outra, vai um bocadinho ao sabor da corrente. Há um certo paralelismo com a época em que era DJ, em que tinha que manter a pista cheia e ia metendo vários discos. Mas é uma hora e meia, duas horas, completamente diferentes dos espetáculos de 2015, com outros temas”, descreve.
Como Nilton não é daqueles que se fia totalmente na inspiração, na capacidade de improviso, a sua rotina diária passa por escrever, escrever e … escrever, até porque nem tudo funciona depois em cima do palco, defronte do público. “Às vezes pensamos que escrevemos uma coisa muito gira e que vai resultar bastante bem e, depois, nem por isso. Ou deixamos cair esse material, ou tentamos pegar nele de outra forma, pelo que cada espetáculo é um work in progress, está em contante mutação”, sublinha, reconhecendo que o seu passado como DJ contribuiu para o êxito que alcançou na stand-up comedy. “Estou no meu 16.º ano de carreira, tenho imensos espetáculos feitos na minha cabeça, o que me dá completa flexibilidade. Não fico nervoso em palco quando uma piada sai ao lado, até brinco com esse insucesso. É um exercício mental que me dá um grande gozo”, assegura.
O certo é que este sucesso era mais fácil de obter nos tempos do «Levanta-te e Ri», quando se atuava, em palco, para uma assistência de milhões que assistia ao programa da SIC através da televisão. Alguns comediantes aproveitaram esse «empurrão» para construir uma carreira sólida e regular, outros, nem por isso, perderam-se, desapareceram no meio da multidão das pessoas que, de repente, decidiram experimentar a stand-up comedy à procura dos seus 15 minutos de fama, do seu El Dorado. Nilton, claro, faz parte do primeiro grupo e, afinal, o segredo não é um grande segredo: “Como em tudo na vida, é preciso trabalhar imenso. O humorista, contudo, tem um problema que artistas de outras áreas não têm. Na música, as pessoas vão ao concerto de um cantor e querem ouvir os hits. Na comédia, querem ouvir piadas novas”, observa.
Nilton reconhece igualmente que teve a felicidade de várias marcas terem apostado nele, primeiro a SIC, logo a seguir ao «Levanta-te e Ri», depois a RTP, que o convidou para ser um dos apresentadores do «5 para a Meia-Noite», já no sétimo ano de emissões, para além da RFM, com quem colabora há cinco anos. “O trabalho é fulcral, mas também é importante que os parceiros olhem para mim como uma figura capaz de encabeçar os seus projetos”, destaca, o que traz outro problema, ainda que um problema positivo, o conciliar tantos programas e formatos diferentes. “É preciso ter uma capacidade constante de trabalhar, de criar. Na minha carreira, sigo o princípio do avião da TAP: se estiver menos de 16 horas por dia no ar, está a ter prejuízo. Assim sendo, se sou capaz de trabalhar 16 ou 20 horas por dia, trabalho, tenho uma grande facilidade em criar conteúdos”, aponta, sem falsas modéstias.