O edifício sede da Região de
Turismo do Algarve, em Faro, foi o local escolhido para a realização, no dia 26
de julho, do primeiro de 10 Laboratórios Estratégicos de Turismo integrados
no processo da construção da Estratégia para o Turismo 2027. Na prática, estes
espaços de discussão pública têm como objetivo fomentar o debate com os
diversos atores em torno dos principais desafios e oportunidades para o turismo
da região.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Daniel Pina
Sendo o Algarve a principal região turística do país, não
admirou que o primeiro de 10 Laboratórios Estratégicos de Turismo (LET), com
vista à construção da Estratégia para o Turismo 2027, tivesse lugar em Faro,
mais concretamente na sede da RTA, no dia 26 de julho. Assim sendo, o
auditório do coração do turismo algarvio encheu-se de empresários e
representantes associativos para abordar os principais desafios e oportunidades
que se colocam ao maior setor de atividade da região, sendo que estes espaços
de discussão pública se dividem em sete LET territoriais (Norte, Centro,
Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve, Açores e Madeira) e três
temáticos (Conhecimento, Emprego & Formação; Competitividade &
Inovação Setorial; Tendências e Agenda Internacional).
Na abertura da sessão, Desidério Silva, presidente da Região
de Turismo do Algarve, considerou importante esta “escuta ativa” do Turismo de
Portugal em relação a quem trabalha diariamente no terreno, sobretudo quando se
está a definir uma estratégia de atuação para o médio e longo prazo.
“Queixamo-nos bastante da orientação de diversas decisões do Turismo de
Portugal e de outras entidades do poder central e que, muitas vezes, não têm a
preocupação de ouvir quem está no território, quem o conhece como a palma das
mãos e quem tem informações importantes para fornecer. Quando, em 2015, o
Turismo do Algarve aprovou o seu Plano Estratégico de Marketing, ouvimos,
tomamos notas, consideramos as propostas que eram interessantes e colocamos
tudo isso a funcionar”, frisou o dirigente.
Lamentando que o país esteja cheio de planos e estratégias
que nunca passam da teoria à prática, Desidério Silva avisa que, apesar do
momento atual ser muito positivo em termos de negócio, não se deve ficar parado
no tempo. “O turismo é bastante dinâmico e volátil e não podemos adormecer à
sombra de fatores que, sendo benéficos neste momento, podem mudar de sentido
num instante”, afirmou, defendendo ainda que as ofertas devem ser
diversificadas e integradas, daí mostrar-se satisfeito perante a variedade de
agentes presentes na plateia. “É transversal a todos os serviços e setores e é
isso que enriquece os planos e estratégias. Acho que todos concordamos que é
importante requalificar a oferta existente, que é preciso envolver as
autarquias, que é necessário garantir a segurança, que é fundamental melhorar
as infraestruturas e acessibilidades, que é fulcral dar projeção e visibilidade
à região”, sublinhou.
E por falar nas acessibilidades e nos famosos 15 por cento
de desconto nas portagens da Via do Infante durante o mês de agosto, Desidério
Silva garante que isso é apenas uma gota de água no mar de problemas originados
pelas portagens. “Mais preocupante é a situação que se verifica na Ponte do Rio
Guadiana e que complica a entrada dos espanhóis em território nacional. Se esse
processo fosse agilizado, a economia regional ganhava muito mais do que 40 ou
50 por cento de desconto nas portagens”, acredita o presidente da RTA, falando
igualmente da questão dos recursos humanos. “Ninguém quer trabalhar apenas dois
ou três meses e ninguém consegue contratar pessoas para trabalhar o ano
inteiro”, reconheceu.
Desidério Silva abordou igualmente a dinamização de eventos
durante a chamada época baixa, ou seja, de outubro a maio, mas chamou a atenção
que não basta apenas criar ações, há que divulgá-las. “Se não forem projetadas
para o exterior, deixam de ter sentido, porque a visibilidade de uma região só
é possível com a mediatização daquilo que acontece. Temos eventos desportivos
como a Volta ao Algarve, o Cross das Amendoeiras, a Motonáutica e a Vela, mas
depois não há formas de ajudar a promovê-los. O Portugal Masters é o único que
tem a devida visibilidade mas, mesmo assim, temos que nos esforçar todos os
anos para que permaneça no Algarve, já que existem alguns lobbies a tentar
levá-lo para outros sítios”, desabafou, apelando para que o «Estratégia para o
Turismo 2027» consiga agregar fontes de financiamento próprias. “Todos temos a
perceção do que é preciso fazer e as autarquias e os agentes económicos sabem o
que é necessário realizar. Estamos a trabalhar o património cultural, as
bicicletas, as caminhadas, a Dieta Mediterrânica, existem todas as condições
para que o Algarve possua a maior diversidade possível e com oferta de qualidade,
portanto, há que investir onde há retorno efetivo, como é o caso da nossa
região”.
Um diagnóstico já muito conhecido
A Estratégia para o Turismo 2027 pretende ser um
referencial de longo prazo para o turismo e enquadrará o próximo quadro
comunitário de apoio 2021-2027. Nesse pressuposto, o objetivo é identificar prioridades
e opções, promover a integração das políticas setoriais que influenciam a
atividade do turismo e assegurar uma estabilidade nas políticas públicas do
turismo até 2027, assentando em cinco eixos estratégicos: valorizar o
território; impulsionar a economia; potenciar o conhecimento; gerar
conetividade; e projetar Portugal.
Para esta estratégia a 10 anos, o Turismo de Portugal
identificou 10 desafios, logo a começar pelas Pessoas, de onde sobressai a
importância de promover o emprego, a qualificação e valorização dos recursos
humanos e aumentar o rendimento dos profissionais do turismo. Mitigar as
assimetrias regionais, crescer mais do que a concorrência em receitas
turísticas e reduzir a sazonalidade são outras metas apontadas, assim como
reforçar a acessibilidade ao destino Portugal e promover a mobilidade dentro do
território nacional.
No lote de desafios encontra-se igualmente um melhor conhecimento
dos mercados para se adaptar as estratégias públicas e empresariais às
tendências e alterações da procura; estimular a inovação e o empreendedorismo;
assegurar a conservação e a valorização económica sustentável do património
cultural e natural; simplificar a legislação e tornar mais ágil a
administração; e garantir recursos financeiros e assegurar a sua adequada
aplicação, sejam fundos comunitários ou outras fontes de financiamento.
Depois de identificados os desafios para a próxima década,
foram igualmente detetados os pontos fortes que podem facilitar a caminhada.
Destes, cinco são ativos diferenciadores dos restantes destinos concorrentes:
clima e luz; história e cultura; mar; natureza e biodiversidade; água. Dois são
ativos qualificadores da oferta e experiência turística: gastronomia e vinhos;
eventos artístico-culturais, desportivos e de negócio; Dois são ativos
emergentes: bem-estar; Living – viver
em Portugal; Finalmente, existe um ativo único e transversal, as pessoas.
Depois de auscultados diversos agentes económicos, nacionais
e estrangeiros, foram, entretanto, sumarizados os aspetos mais relevados pelos
mercados internacionais. Assim, do lado positivo da balança, destaque para: a
autenticidade, com modernidade e preservação do destino; as pessoas; a
segurança; história e cultura; Portugal é um destino que supera as expetativas;
diversidade da oferta e liberdade para viajar; boas ligações áreas e
infraestruturas de suporte; qualidade de serviço. Do lado negativo da balança,
há aspetos importantes a trabalhar, nomeadamente: Portugal é um destino ainda
pouco conhecido; combinar o online
com o offline; melhorar a coordenação
entre regiões turísticas; estruturação do produto; informação sobre o que
existe em Portugal; proporcionar mais experiências na época baixa; informações
e condições de mobilidade para visitação do país.