Foi assinado, no dia 29 de
julho, no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Albufeira, um protocolo de
colaboração para a Valorização, Restauro e Conservação da Torre Albarrã do
Castelo de Paderne. O protocolo envolve a Direção Regional de Cultura do
Algarve, a Câmara Municipal de Albufeira e a Fundação Millenium BCP, unidos
para fazer face a uma obra urgente para proteger um dos monumentos mais
simbólicos do Algarve, verdadeiro cartão-de-visita de quem entra na região
vindo pela Autoestrada A2.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Daniel Pina
Quem chega ao Algarve através da Autoestrada A2 depara-se
com o Castelo de Paderne, estrutura imponente, monumento de interesse público,
um dos últimos castelos a ser conquistado aos mouros, e que ali se encontra há
mais de nove séculos. Porém, há mais de 12 anos que o castelo não sofre
qualquer obra de restauração ou recuperação, situação que vem preocupando a
Direção Regional de Cultura do Algarve e a autarquia de Albufeira. E foi de
contatos encetados com a Fundação Millenium BCP que nasceu o protocolo
assinado, no dia 29 de julho, na Câmara Municipal de Albufeira e que assenta
num projeto de conservação e restauro dos módulos de Taipa Almóada do Castelo
de Paderne, mais concretamente, numa primeira fase, da Torre Albarrã.
O projeto propõe principalmente trabalhos de consolidação e
a eliminação de processos responsáveis pela deterioração que sofre a torre,
entre eles algumas demolições para remover as argamassas de intervenções
recentes e sanear as juntas da alvenaria de pedra do passadiço. Outras ações
incluídas no projeto são: drenagem do embasamento da torre, para evitar
humidades de capilaridade e a realização de um algeroz no perímetro drenante na
base da torre; limpeza da alvenaria exterior; restauro das juntas de alvenaria
de pedra do passadiço da muralha para a torre; reparações da taipa; cobertura
do terraço da torre; selagem de buracos agulhas; consolidação do exterior; e
hidrofugação pelo exterior.
Para Fernando Nogueira, presidente da Fundação Millenium
BCP, seria um pecado não se conservar uma edificação que dá as boas-vindas ao
Algarve há quase um milénio e que, dizem alguns, será um dos sete castelos
presentes na bandeira nacional. “Portugal é um país riquíssimo em património,
deve haver mais de 23 mil monumentos e edificações, que vão desde a pedra
tumular aos maiores castelos e palácios. Destes, cerca de 2800 monumentos estão
classificados e o Castelo de Paderne, embora não seja um monumento nacional, é
um monumento de interesse público”, frisou, daí a fundação ter prontamente
acedido ao pedido para ser mecenas nesta intervenção. “Um pouco por todo o
mundo, em particular no mundo desenvolvido, a economia de património é
extremamente valorizada, mas Portugal é um dos países da União Europeia com
mais baixo índice de emprego ligado a esta componente. Esquecemo-nos que a área
da cultura pode ser fonte de criação de riqueza e que não é obrigatoriamente
sazonal, ou seja, garante visitantes ao longo de todo o ano”.
Estando o Castelo de Paderne sob a jurisdição da Direção
Regional de Cultura do Algarve, esta teve a iniciativa de contatar e
sensibilizar a Fundação Millenium BCP para a urgência de se realizarem obras de
recuperação e valorização neste monumento. “O valor total da intervenção
ultrapassa os 400 mil euros, esta é apenas uma parcela do que é preciso ser
feito, e a Torre Albarrã apresenta sinais visíveis de degradação. Este mecenato
consegue garantir, juntamente com o município de Albufeira e a Direção Regional
de Cultura do Algarve, a contrapartida nacional necessária para levar a
candidatura a fundos comunitários por adiante”, explicou Alexandra Gonçalves.
“Esta nossa preocupação tem sido sempre partilhada pela autarquia de Albufeira,
que demonstrou a maior abertura para se encontrarem soluções para o Castelo de
Paderne”, reforçou.
De acordo com a Diretora Regional de Cultura do Algarve,
este é mais um passo importante para a estruturação e valorização do património
cultural do Algarve, sendo o Castelo de Paderne um importante símbolo de um
período e de uma história de 900 anos. “Tem técnicas construtivas aplicadas que
não existem em muitos sítios, é um dos melhores exemplares de construção de
taipa militar a sul do Tejo e um dos melhores da Península Ibérica. Não nos
podemos esquecer que há uma Rota Omíada desenhada para o território, mas ela só
pode ser uma realidade se os elementos estruturantes deste património estiverem
em condições de serem visitados”, referiu Alexandra Gonçalves.
No uso da palavra, Carlos Silva e Sousa garantiu que o
património histórico e cultural de Albufeira é encarado com especial atenção
pelo executivo camarário, mas defende que valorizá-lo deve ser uma obrigação de
todos. “Um povo que não sabe tratar da sua herança cultural, não sei se estará
no bom caminho, portanto, uma população que se quer desenvolvida, culta e
instruída, deve saber zelar por aquilo que é dela. Para além disso, deve
existir uma forte ligação entre a cultura e o turismo, até porque a
concorrência é cada vez mais feroz neste ramo de atividade e uma das nossas
formas de afirmação passa pelo património imaterial e material”, afirmou o
presidente da Câmara Municipal de Albufeira.
O edil reconheceu que Paderne sofre com o fenómeno da
interioridade, mas entende que há que saber tirar partido dessa situação e
criar motivos de interesse para que mais pessoas visitem essa freguesia. “É um
trabalho que deve ser harmonioso e feito com uma lógica e, por isso, estamos a
implementar os percursos pedonais por aquele território fantástico e já lá se
instalou uma estação da biodiversidade”, destacou Carlos Silva e Sousa.
O custo total da intervenção está estimado em 87 mil e
488,52 euros, suportado em 75 por cento pela Direção Regional da Cultura do
Algarve mediante a apresentação de candidatura a financiamento europeu,
comprometendo-se a autarquia de Albufeira com os restantes 25 por cento, até ao
montante máximo de 30 mil euros. E, nesse particular, Carlos Silva e Sousa
assegurou que o município de Albufeira estará sempre disponível para ajudar, no
que puder, para a conservação e requalificação do património cultural
localizado neste concelho.