Cabe a Sam Alone & The Gravediggers defender as cores do Algarve no próximo Festival F, partilhando o palco com nomes sonantes do panorama nacional. O projeto de rock poderoso de Apolinário Soares Correia já existe há quase uma década mas, como em tantos outros casos, é bastante conhecido no resto do país e além-fronteiras, mas menos acarinhado pelos seus conterrâneos algarvios. Nada que apoquente Sam Alone, que nunca teve o sonho de ser uma estrela mediática, estando preocupado apenas em escrever e tocar sobre o que lhe vai na alma, seja em pequenos clubes para algumas centenas de pessoas, ou para festivais com um mar de gente pela frente.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

Sossegado, tranquilo, na dele, assim estava Apolinário Soares Correia, conhecido no meio musical como Sam Alone, na apresentação oficial do Festival F, que acontece em Faro nos dias 2 e 3 de setembro. No final dos discursos dos elementos da organização e das entidades oficiais, meteram-lhe o microfone na mão para dizer umas palavras, mas ele gosta é de cantar, não de conversar com pompa e circunstância, por isso, tocou um tema, à capela, sobre o bonito serviço que os nossos governantes têm feito em Portugal ao longo das últimas décadas.
Alguns dias depois, abriu-nos a porta da sua casa, perto de Almancil, e, depois de uma sessão fotográfica improvisada – mais outra coisa em que não se sente muito à vontade – explicou que a música faz parte da sua vida desde pequeno, influenciado pelo country, blues e folk americano que o pai ouvia. Aos nove anos já tocava guitarra e estudou numa escola de música em Quarteira, mas depressa se apercebeu que, com aquela idade, não era normal um miúdo gostar de blues. Aos 14, 15 anos, o punk-hardcore entrou-lhe na vida e teve a sua primeira banda. Em 2007, gravou o primeiro disco, sem “saber onde é que me ia meter”, confessa. “Durante os concertos gosto de prestar tributo a alguns artistas que me influenciaram, mas sempre escrevi os meus próprios originais, nunca me seduziram os projetos de covers, garante.
As letras dividiam-se entre momentos de introspeção ou palavras de intervenção, não camuflava a sua personalidade, as suas opiniões fortes, mesmo que fossem contra a corrente ou que não ajudassem à sua projeção enquanto artista. Mas cedo se percebeu que Sam Alone não queria ser uma rockstar, muito menos uma popstar, não andava atrás da fama, de entrevistas em programas de televisão. “Quero é que as pessoas, quando ouvem as minhas canções, pensem, mas não me considero um músico de intervenção. Para isso, é preciso ter um entendimento mais profundo da política, o que não é o meu caso. Simplesmente, sou um rapaz do povo que tenho uma opinião sobre aquilo que acontece ao meu redor e que quero o melhor para os meus filhos e os dos outros”, distingue.
Recuando a 2007, ao momento em que grava «Dead Sailor», Sam Alone ainda não existia, mas também não queria ser o Apolinário ou o Poli, o tatuador, queria fugir desses egocentrismos. “Nessa altura, passaram as temporadas todas do «Cheers» na SIC Comédia, eu gostava bastante dessa série e a personagem do Ted Danson chamava-se Sam Malone. Em conversas com amigos surgiu o trocadilho «Sam Alone», por tocar sozinho, não há uma grande história filosófica por detrás do meu nome artístico”, refere, com um sorriso, confessando que o primeiro disco foi pautado por uma grande anarquia. “Se pudesse voltar atrás, o que eu não fazia com aquelas malhas! Hoje, tocamos versões muito mais aprimoradas desses temas, mas já havia a vontade de construir um projeto sério e duradouro”.