A arte saiu à rua, na noite de 14 de agosto, e encheu por completo o Centro Histórico de São Brás de Alportel, com centenas de pessoas a percorrerem a Vila Adentro, a Praça Velha, o Adro da Igreja Matriz, a Biblioteca Municipal, o Centro de Artes e Ofícios e a Calçadinha de São Brás de Alportel. Falamos do Calçadas, evento dinamizado por um grupo informal da comunidade são-brasense, com o apoio da autarquia local, e que é já um sucesso na sua terceira edição.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

O «Calçadas – A Arte Sai à Rua» trouxe ao Centro Histórico de São Brás de Alportel, na noite de 14 de agosto, muita música, dança, contos, comédia, criação artística ao vivo, histórias de arrepiar e, claro, largas centenas de pessoas. Um evento cultural organizado pela autarquia local, em parceria com a «Comissão Calçadas», grupo informal da comunidade são-brasense que anualmente, e de forma voluntária, se empenha na organização desta iniciativa e que gerou uma tremenda agitação por entre as ruas e ruelas do burgo antigo da vila.
Ao todo existiam seis palcos diferentes – Vila Adentro, Praça Velha, Adro da Igreja Matriz, Biblioteca Municipal, Centro de Artes e Ofícios, Calçadinha de São Brás de Alportel – mas as tascas tradicionais também abriram as suas portas para aguçar o apetite de quem passava pelo coração da vila. Em simultâneo, muitos artistas exibiam os seus dotes na fotografia, artes plásticas, artesanato, trabalhando ao vivo perante o olhar expetante dos residentes e visitantes. Nos palcos sucediam-se grupos musicais e sonoridades de Portugal e do mundo, desde o flamenco de «El Camiño» aos Six Irish Men, da fadista Inês Graça aos sons populares dos Azinhaga e à stand-up comedy de Serafim, dos temas de Luke Redmond e Nanook aos hits do DJ Rodrigo, do grupo ucraniano Jasmim à Escola de Dança Municipal, Companhia de Dança do Algarve e Rancho Folclórico de Faro. Mas também se escutou poesia infantil e houve até uma sessão de histórias de arrepiar.
Para além de tudo isto, os visitantes eram confrontados com a história do município ao virar de cada esquina e, com o objetivo de envolver ainda mais a população residente e os comerciantes do Centro Histórico, a organização lançou o desafio «A Janela Mais Bonita». O resultado foram diversas janelas e montras decoradas de forma original e criativa. E por entre tudo isto, de sorrisos nos lábios, encontramos Vítor Guerreiro, presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, radiante com mais esta noite de encantar em pleno coração da Serra do Caldeirão. “O desafio foi lançado por um grupo de jovens residentes no nosso concelho e há três anos que levamos para a frente um evento cujo objetivo é revitalizar a dinâmica do centro histórico, envolvendo a comunidade local, os moradores e as associações. Temos aqui diversos artistas de São Brás de Alportel de várias expressões, para além de convidados de outros pontos da região, e a população respondeu desta forma”, afirma, de braços abertos, o autarca.
População que, em muitos casos, desconhece algumas destas ruas e recantos do centro histórico e que assim fica a conhecer melhor o património da sua terra. Mais do que isso, é uma excelente oportunidade para os artesãos mostrarem os seus produtos, algo que vem sendo habitual nos eventos organizados pela Câmara Municipal de São Brás de Alportel. “Estão aqui presentes várias especialidades do concelho, o nosso artesanato e gastronomia, os doces regionais, para que, quem vem de fora, fique com vontade de cá voltar para desfrutar destes produtos. Estes eventos têm muita importância para a economia local do concelho”, assume o edil, constatando mais uma vez a forma ativa como a comunidade estrangeira residente em São Brás de Alportel participa nas iniciativas que se vão realizando regularmente. “Outros chegam graças à dinâmica do próprio Museu do Trajo, que tem uma Associação de Amigos com várias centenas de membros. O «Calçadas» tem sido uma aposta ganha, sem dúvida, sem exigir um grande esforço financeiro da autarquia, envolvendo, sim, a comunidade local e as associações”
Vítor Guerreiro confirma, igualmente, que os centros históricos estão cada vez mais na moda e a suscitar um forte investimento dos proprietários na reabilitação das suas casas, como atesta, por exemplo, a Casa da Barreira. “É um café à moda antiga, idêntico ao tempo em que eu lá comprava os pirulitos a caminho da escola e que foi reaberto pela neta da antiga dona. Está sempre cheio de turistas que ali vão provar a gastronomia”, indica. “Os centros históricos são a marca de uma comunidade e da sua cultura, cada povo tem os seus e nós devemos valorizar os nossos e dá-los a conhecer aos outros. Para isso, é preciso incentivar os proprietários para recuperarem e reconstruírem as suas casas, de modo a que muitas daquelas que estão devolutas ganhem uma nova vida. Contudo, têm que ser recuperações equilibradas e aprovamos recentemente a nossa Área de Reabilitação Urbana, que vem trazer incentivos fiscais para esse fim. Antigamente, estes espaços estavam sujos, degradados, com pouca luz e tudo isso mudou nos tempos atuais”, destaca o edil.
Nesse sentido, a autarquia pretende, igualmente, atrair as associações para o Centro Histórico para ocupar espaços que são propriedade da Câmara Municipal, com a consciência de que os seus membros normalmente reúnem-se durante a noite, depois de terminarem os seus afazeres profissionais, e isso contribui para dar uma nova vida a estas ruas. “Temos a felicidade da nossa comunidade ser bastante participativa, de gostar de fazer coisas, os munícipes estão constantemente a trazerem-nos as suas ideias. Não vêm simplesmente pedir para a câmara municipal fazer, querem ser eles a colocar essas ideias em prática”, enaltece Vítor Guerreiro. “O Moto Clube, por exemplo, teve a sua concentração motard este fim-de-semana, ainda estão a desmontar o recinto e já têm aqui uma equipa envolvida no Calçadas”.  
Uma aposta ganha num curto espaço de tempo, daí que perguntemos qual o futuro do Calçadas, com o edil a equacionar a possibilidade do evento ter duas noites. “Dá-nos muito orgulho ver a aceitação que este evento gera na comunidade. Os artesãos trazem as suas mesas e um candeeiro para iluminar os produtos, responsabilizam-se pelos seus espaços e os visitantes apreciam imenso o que aqui encontram. É um evento feito quase 100 por cento pela comunidade, independentemente do apoio logístico que a autarquia concede, e o formato será sempre este, embora possa evoluir para dois dias”