A Feira do Livro de Faro já
terminou, mas o movimento foi muito em todo o certame e, em particular, no
stand do grupo informal «Escritores Reunidos», do qual fazia Paulo Moreira. O
farense, conhecido escritor e encenador, continua a promover «Curt’os Curtos»,
o seu último livro editado mas, curiosamente, o primeiro que escreveu, na
década de 80. Entretanto, na forja está um novo romance, a avançar sem pressas,
conforme contou Paulo Moreira ao Algarve Informativo numa destas manhãs do
agosto algarvio.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Daniel Pina
Já vão sendo habituais as entrevistas em formato «conversa
de café» no espaço junto à Doca de Recreio de Faro e a companhia desta manhã de
agosto foi Paulo Moreira, que trazia consigo «Curt’os Contos», livro que idealizou
nos anos 80. Habituado a escrever desde a adolescência, chegou a participar num
concurso literário com esta obra e recebeu uma recomendação para publicação,
mas depressa perdeu essa ilusão depois de ter levado “com a porta na cara” de
várias editoras. “Meti a escrita na gaveta e só muitos anos depois é que
regressei a ela, com o romance «Maria Manuel» e um volume com duas peças de
teatro a partir de Fernando Pessoa. O último a sair foi precisamente o primeiro
que escrevi, editado em outubro do ano passado”, descreve, de forma resumida, o
seu trajeto literário.
O Verão, entretanto, foi pautado por um périplo por várias
feiras do livro e apresentações um pouco por todo o Algarve, mas também por
Lisboa e Amadora, onde se localiza a sede da editora «Lua de Marfim», e Aveiro,
onde viveu durante um largo período da sua vida. Curiosamente, a sua formação
académica foi em Física e Química e, hoje, pensa que, se calhar, devia ter
seguido pela via das Artes e Letras. “Mas, quando descobri esta aptidão, já
estava a meio do curso”, explica, acrescentando que depois lhe apareceu também
o teatro, como encenador e escritor de ficção e teatro. “Há pessoas que me
conhecem como declamador de poesia e pensam que sou poeta, mas não é esse o meu
caminho”, aponta.
Com «Curt’os Contos» na mão, Paulo Moreira esclarece que não
se tratam de micronarrativas, mas sim, como o próprio nome indica, pequenos
contos com cerca de uma página, com algum surrealismo, finais imprevistos e uma
pitada de humor sarcástico, que levam o leitor a curtir os contos. Um formato
que advém do tipo de obras que lia na época, tendo mesmo dedicado o livro ao
escritor Mário de Carvalho, mas reconhece que não é um estilo com grande saída
comercial em Portugal. “Por isso, muitos anos depois, ousei experimentar
escrever uma obra de maior fôlego que, por modéstia, preferi chamar de novela e
não romance – o «Maria Manuel». Fiquei relativamente satisfeito porque pensava
que poderia não conseguir escrever mais do que duas páginas”, justifica, com um
sorriso.
Novo romance está em produção, mas em standby durante a
correria do Verão, admitindo que é uma obra que demora, no mínimo, um ano a
escrever, iniciando-se depois toda a fase de revisão e maturação da obra.
“Neste momento tenho outras ocupações que não me permitem ter total
disponibilidade para estar a escrever todos os dias. Aliás, tenho em mangas
outros projetos de alguns contos. Durante muito tempo, a edição era, para mim,
uma miragem. Agora, isso deixou de ser, o que me permite poder decidir o que
vou fazer e publicar”, afirma, com as edições de autor e as pequenas edições em
mente. “O panorama editorial mudou completamente, por motivos tecnológicos, e
existe até o print on demand, ou
seja, podemos mandar imprimir 1, 10, 100 exemplares sem custos exorbitantes.
Antigamente, as tiragens mínimas eram de mil ou dois mil exemplares”, compara
Paulo Moreira.