No ano em que se assinala o centenário da freguesia de Quarteira passam igualmente os 100 anos do nascimento de Manuel Pardal, ou Poeta Pardal, como ficou conhecido pelos seus conterrâneos. O marco não foi esquecido pela Junta de Freguesia de Quarteira e pela Câmara Municipal de Loulé, que decidiram reeditar «Em cima do mar salgado», livro publicado em 1977 e que agora fica ao dispor de uma nova geração de apreciadores da sabedoria popular do Poeta Pardal.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

A Câmara Municipal de Loulé e a Junta de Freguesia de Quarteira decidiram prestar uma justa homenagem a Manuel Pardal, no âmbito do centenário do seu nascimento, com um conjunto de iniciativas que tiveram lugar nos dias 16 e 18 de agosto. Assim, houve lugar ao descerrar de uma placa comemorativa, na Rua Poeta Pardal, na casa onde Manuel Pardal nasceu há 100 anos. No mesmo dia, no Pólo da Biblioteca Municipal, assistiu-se ao lançamento da reedição de «Em cima do Mar Salgado», livro da autoria do poeta que foi publicado em 1977. 
Manuel de Brito Pardal é um nome sobejamente conhecido em Quarteira, cidade onde nasceu em 16 de agosto de 1916. Ele foi o único poeta popular que foi pescador, tendo iniciado esta atividade por volta dos 10 anos, de acordo com Ruivinho Brasão, responsável pela elaboração de «Em cima do mar salgado». “Ele foi, nas «artes de arrastar», moço de encolher e, depois, calador. Entrou a governar a sacada e passou, mais tarde, aos tresmalhos. Ainda experimentou ausentar-se de Quarteira, para trabalhar no Galeão. Contudo, afeiçoado à família, não parou por lá senão dez dias”, recordou Ruivinho Brasão.
Ao longo da sessão de lançamento da obra, ficou-se a saber que o seu primeiro poema surgiu quando tinha 14 anos, num gosto que herdou do pai, Ernesto Pardal, assim como a paixão por cantar o fado. Por isso, quando fazia poesia, era para ser cantada e usava no bolso uma gaita-de-beiços, fazendo-se acompanhar igualmente de uma guitarra. “A sua poesia, de carácter repentista, versava sobre o mar, a faina, as parcas condições de vida, mas também sobre outras temáticas que revelam um homem que questiona a vida, a morte e um pouco de tudo aquilo que o rodeia”, revelou José Ruivinho Brasão que, em 1977, decidiu reunir poemas do Poeta Pardal para serem publicados em livro.
Manuel de Brito Pardal faleceu em 1984, sendo que, em 1987, no largo com o seu nome, foi inaugurada uma estátua em sua homenagem, designadamente um busto em bronze da autoria de Diamantina Negrão. “É uma personalidade que representa a cultura de Quarteira e é importante relembrar e valorizar o trabalho que foi feito por ele”, destacou Telmo Manuel Machado Pinto, presidente da Junta de Freguesia de Quarteira. Já Vítor Aleixo, edil louletano, garantiu que o pedido endereçado pela neta do Poeta Pardal, Ana Pardal, para a reedição deste livro foi prontamente acarinhado por todo o executivo da Câmara Municipal de Loulé. “As pessoas perguntavam há muitos anos pelos versos do Poeta Pardal e, ao ouvir a neta do poeta, percebi, talvez como ninguém, a vontade que ela tinha em dar a conhecer a mensagem poética do seu avô, porque eu também sou neto de um poeta, e que foi amigo do Manuel Pardal. Quando há pessoas que saem do comum pela sua sensibilidade, que disseram coisas àqueles que com eles conviveram e que atraíram a sua atenção, coisas que traziam uma mensagem sobre o mundo, sobre os homens, é natural que nos orgulhemos disso”, afirmou Vítor Aleixo.
O autarca considerou que a reedição de «Em cima de mar salgado» é inteiramente justa e vem no tempo certo, num momento em que se assinala o centenário do nascimento do Poeta Pardal e da freguesia de Quarteira. “Já tínhamos publicamente anunciado um ciclo de comemorações e imediatamente percebemos que este seria um dos momentos mais significativos desse programa. Daí o livro e o trabalho que muitas pessoas tiveram para responder a este desafio em tempo útil”, apontou Vítor Aleixo, deixando um agradecimento especial a José Ruivinho Brasão por ter colocado outros projetos de lado para responder afirmativamente a esta homenagem ao Poeta Pardal. “Toda a gente percebeu que não podíamos falhar neste projeto, porque é significativo para Quarteira. Contrariamente ao que muitos pensam, a vida das câmaras municipais e das juntas de freguesia não é apenas ter as ruas limpas, fazer avenidas novas, arranjar ou construir escolas. O trabalho dos responsáveis políticos locais é também homenagear a memória daqueles que viveram antes de nós e que nos deixaram uma herança que temos que cultivar, lembrar e transmitir às gerações futuras”, salientou Vítor Aleixo.
A par dos funcionários da autarquia, o presidente enalteceu ainda a postura de João dos Santos Simões, um gráfico e amigo de Quarteira que compreendeu que a reedição teria que estar pronta até 16 de agosto. “Conseguiu somar o recorde dele ao do Ruivinho Brasão, porque esta é uma edição exemplar. Está aqui um texto poético tratado com os critérios científicos e literários mais exigentes. O livro está muito bem organizado e apresentado, é uma obra que não envergonha ninguém”, garantiu Vítor Aleixo, considerando que Poeta Pardal é, sem dúvida, o maior símbolo da cultural oral e popular de Quarteira, bem como das suas raízes, os pescadores. “Cumprimos um desejo e um dever e espero que as escolas de Quarteira possam ensinar os poemas do Poeta Pardal, porque falam de um tempo diferente do nosso. Não vivemos dias fáceis, mas a época em que viveram os nossos avós foi provavelmente ainda mais dura do que os tempos atuais. Faltava tudo e o poeta exprime isso com uma grande sensibilidade, uma vida com muita escassez, de becos sem saída, de curvas difíceis”, terminou Vítor Aleixo.