Inserido na rubrica «No Teatro às 6», o Teatro das Figuras foi palco, no dia 19 de outubro, de uma tertúlia com o conhecido contador de histórias Luís Correia Carmelo. Numa sessão bastante animada com o sol a descer no horizonte, o lisboeta radicado no Algarve há quase uma década falou do seu trajeto, da diferença entre contos, histórias e stand-up comedy e de muito mais, perante uma plateia com diversos rostos conhecidos da vida cultural farense, mas também com muitos jovens aspirantes a uma carreira na arte da representação.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

Nem só de grandes concertos de música, peças de teatro, espetáculos de dança e por ai adiante vive o Teatro das Figuras, em Faro, e o final de tarde do dia 19 de outubro foi disso exemplo, com mais uma conversa, em jeito de tertúlia, com o contador de histórias Luís Correia Carmelo. O profissional da narração oral prontamente esclareceu, em jeito de brincadeira, que o seu sotaque peculiar se deve a ter crescido no Brasil. Depois, de regresso a Portugal, estudou na Universidade de Évora, onde fundou uma companhia de teatro para interpretar, nas ruas da cidade, adaptações de contos tradicionais portugueses e teatro de máscara. “Aos poucos, fui-me apercebendo que gostava mais das partes em que me dirigia diretamente ao público, em vez de representar as personagens com as máscaras. Dava-me imenso prazer narrar as histórias naqueles espetáculos de rua, mas só comecei a usar o termo de contador de histórias quando, em 2001, me cruzei com a Rede de Programação da Narração Oral em Portugal”, recorda.
Carmelo passou, naquela época, a ser convidado com frequência para ir contar histórias a escolas, bibliotecas, festivais, associações, mas reconhece que este movimento da narração oral, como de costume, chegou com algum atraso a Portugal, quando comparado com outros países da Europa. “Do que se sabe, a primeira pessoa a desempenhar esta atividade em termos profissionais foi António Fontinha, no início dos anos 90. Começou a contar histórias no contexto do seu trabalho de animador cultural com jovens que estavam institucionalizados, cada vez lhe pediam mais histórias, e foi o primeiro a começar a ir às escolas e bibliotecas”, relata, lembrando que muitas bibliotecas municipais já dinamizavam horas do conto, e assim se deu o encontro entre António Fontinha, Cristina Taquelim e Jorge Serafim, entre outros, na Biblioteca Municipal de Beja.
Luís Carmelo considera-se um membro da segunda geração de contadores de histórias, embora, naquela altura, estivesse mais habituado a transmitir contos tradicionais brasileiros, num espetáculo com outro colega, ele sim dedicado aos contos tradicionais portugueses. “Tínhamos um tapete, umas cadeirinhas, umas violas e alguns adereços e fomos convidados para as Jornadas do Conto da Universidade do Minho. Eu e o Nuno chegamos com o nosso cenário e figurinos, fomos falar com os elementos da organização e disseram-nos que íamos atuar separados, em salas e horários diferentes”, lembra, com um sorriso, a peripécia. “A programação estava feita, não havia nada a fazer, mas pensamos que seria a mesma coisa cada um contar as histórias que estava habituado a contar no nosso espetáculo. A mim calhou-me precisamente a Cristina Taquelim como parceira de sessão, fomos para uma sala lindíssima do Museu de Braga, eu a tentar safar-me o melhor possível daquela situação e, quando ela me perguntou quem é que começava, eu respondi de imediato que as senhoras vão sempre em primeiro”.
A poucos minutos de se estrear, de forma não propositada, como contador de histórias a solo, Luís Carmelo ficou bastante emocionado com a experiência de ver, ao vivo, Cristina Taquelim e, verdade seja dita, até se safou bem e foi logo convidado para participar nas «Palavras Andarilhas». “Foi só nesse momento que constatei que havia gente que fazia vida de contar histórias, uns exclusivamente, outros em part-time. É difícil encontrar pontos de conexão do movimento de narração oral português com o de outros países, não é possível identificar que influências tivemos ou não, mas é um facto que, em Espanha, ele começou com uma década de antecedência. Dizem que, em Inglaterra e França, ele apareceu nos anos 70, eu acredito que terá sido mais no início dos anos 80”, prosseguiu o convidado desta tarde do «No Teatro às 6».