Depois de um volte-face
inesperado que atrasou em vários anos o processo, o Algarve Cluster Multiusos
está de regresso ao bom caminho e já teve luz verde do governo português para
avançar. O Núcleo de Desenvolvimento Económico de interesse regional vai ocupar
perto de 60 hectares junto ao nó de ligação da Via do Infante a Vilamoura,
envolve um investimento total na ordem dos 400 milhões de euros e gerará três
mil postos de trabalho diretos, conforme revelou Reinaldo Teixeira, do Grupo
Enolagest, um dos promotores deste projeto estruturante para o Algarve.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Daniel Pina
O Algarve Cluster Multiusos vai ser mesmo uma realidade e
nascerá a sul da Zona Industrial de Loulé, na Campina de Baixo, depois de já
ter sido oficialmente reconhecido pelo governo português como de interesse
regional. A decisão permitiu criar um Núcleo de Desenvolvimento Económico que vai
ocupar perto de 60 hectares, junto ao nó da A22 com a rodovia que liga a
Via do Infante a Vilamoura, sendo o projeto da responsabilidade da
Enolainvest, S.A., que conta com 38 empresas de capital algarvio e que representa
todo o ciclo de investimento imobiliário e atividades colaterais.
“Trata-se de um investimento na ordem dos 400 milhões de euros, num projeto
diferenciador e complementar ao que o Algarve possui atualmente, e que vai
permitir prolongar Loulé para sul e aproximar o litoral da cidade”, explica
Reinaldo Teixeira, administrador do Grupo Enolagest, um dos sócios do projeto.
Projeto que nasceu em 2005 e incluirá as áreas de serviços e
logística, um parque tecnológico, um centro de inovação empresarial, um parque
temático e um polo de saúde, que resultarão em três mil postos de trabalho
diretos, dai não se compreender o porquê de ter ficado parado, em stand-by, na
gaveta, durante tanto tempo. “O presidente da época da Câmara Municipal de
Loulé acarinhou e apoiou totalmente o projeto mas, estranhamente, por razões
que desconheço, tudo estagnou em 2009/2010. Ainda no antigo executivo foi aprovado,
na câmara municipal e na assembleia municipal, por unanimidade, este Núcleo de
Desenvolvimento Económico, que foi depois submetido e aprovado, sem qualquer
objeção, pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região do Algarve”,
recorda Reinaldo Teixeira.
O processo subiu posteriormente para a tutela, onde esteve
cerca de dois anos à espera de homologação, o que veio a acontecer já no atual
governo de António Costa, que o considerou um Projeto de Interesse Regional.
“Estamos agora na fase de realização do Plano de Pormenor, que irá definir as
áreas e valências do projeto, algo que deveria ter acontecido em 2006/2007. Ainda
hoje não sabemos as razões que motivaram todo este atraso, mas foi algo que nos
desgostou bastante, a mim e aos meus sócios”, desabafa o empresário, adiantando
que a aprovação do Plano de Pormenor que está a ser efetuado deverá demorar um
ano, após o qual o projeto poderá, finalmente, avançar para o terreno.
Apesar do atraso de quase uma década, não faltam
interessados em fazer parte do Algarve Cluster Multiusos e a ideia é que, em cada
área específica - Serviços/Logística, Parque Tecnológico, Centro de Eventos,
Parque Temático, Centro de Inovação Empresarial e Saúde – haja um parceiro com know-how de créditos reconhecidos na matéria.
O projeto vai ajudar a valorizar toda a Zona Industrial de Loulé e os acessos
para o Algarve Cluster Multiusos serão os mesmos do futuro Aeródromo, outro
equipamento de interesse regional, há muito tempo ambicionado pelo Algarve e
por Loulé, e que também não tem andado com a rapidez que se desejaria. “Sabemos
que o atual executivo camarário está empenhado em dinamizar o projeto do
Aeródromo e sentimos, igualmente, total abertura para acarinhar o Algarve
Cluster Multiusos. É de investimentos desta natureza que Portugal necessita e,
no contexto regional, ele vai tornar o turismo cada vez mais sustentável”,
garante.
Tudo poderia, todavia, ter ido por água-abaixo, não fosse a
persistência dos mentores do projeto e a motivação que receberam da parte de muitas
pessoas, empresas e entidades, confessa Reinaldo Teixeira. “Com todas as
peripécias que ocorreram, seria normal haver uma descrença e desmotivação que
conduzissem à desistência do projeto, até porque está muito dinheiro e
responsabilidades envolvidos. Mas é um projeto de capital algarvio, com gente
que gosta de Portugal e do Algarve e queremos levá-lo por diante. Não
desistiremos enquanto não virmos o Algarve Cluster Multiusos de pé”, assegura o
entrevistado. “Temos vários parceiros nacionais e internacionais a alavancar
este investimento e convém lembrar que a Immochan saiu deste projeto
precisamente por causa da burocracia que envolveu todo o processo. Estamos
agora a dar os passos que pensávamos ter dado em 2009 e as grandes empresas
internacionais movimentam-se, não pela paixão, mas pela objetividade dos
números. Nós, como somos algarvios e queremos que o Algarve trabalhe o ano
todo, que tenha mais residentes, que capte mais turistas, não baixamos os
braços”.