Decorre precisamente um ano sobre as grandes cheias que assolaram a cidade de Albufeira no dia 1 de novembro de 2015, um momento trágico que afetou todos os residentes e estabelecimentos comerciais da baixa da capital do turismo algarvio. Os albufeirenses, contudo, deram mostras da sua forte personalidade e união, arregaçaram mangas e, com o apoio da autarquia local, conseguiram renascer das cinzas. Câmara Municipal de Albufeira que reconquistou também a sua saúde financeira, motivo pelo qual o edil Carlos Silva e Sousa encara o futuro com enorme expetativa, à medida que se preparam para ir para o terreno diversos projetos e intervenções em todo o concelho.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Rui Gregório

A agenda de Carlos Silva e Sousa continua, para não variar, preenchidíssima, e foi entre a aposição do nome de João Bailote à Galeria Municipal de Albufeira e um seminário sobre mobilidade sustentável no Salão Nobre que finalmente conseguimos «raptar» o presidente da Câmara Municipal de Albufeira para uma breve conversa, em jeito de balanço dos três anos de mandato. Um período em que se passou de uma situação de crise marcada por algumas dificuldades económicas e financeiras, tanto em termos do município como da própria atividade turística, para um cenário mais risonho e animador. “Fomos, inclusivamente, considerados o município, a nível nacional, com melhor eficácia financeira e isso resulta da saúde financeira que alcançamos e que é essencial para se fazer obra. Estamos a desenvolver uma série de projetos de estradas e caminhos, de infraestruturas de água e drenagem de águas residuais, mas a máquina administrativa esteve, de facto, algum tempo parada”, admite o edil.
O céu ainda não está totalmente isento de nuvens para os lados de Albufeira e Carlos Silva e Sousa confirma persistirem algumas restrições de caráter orçamental e no campo dos recursos humanos, mas o pior parece estar para trás. E, quando se fala em pior, é impossível esquecer as cheias que afligiram a cidade no dia 1 de novembro de 2015, dai estar a ser delineado um Plano Geral de Drenagem do Concelho de Albufeira para evitar que uma situação daquela gravidade se repita. “Claro que, para isso, são necessários recursos financeiros avultados, mas estamos preparados para esse desafio, para aquela que será, sem dúvida, a obra do século. Envolve a construção de um grande túnel que irá desembocar sempre acima do nível máximo das marés e considerando que, até final do século, as águas irão subir cerca de 70 centímetros”, adianta o entrevistado.
A intervenção rondará os 15 milhões de euros e permitirá aproveitar, após algumas obras suplementares, o túnel já existente para escoamento de águas de superfície. Na zona mais baixa de Albufeira, designadamente na Rua 25 de Abril e Rua Cândido dos Reis, haverá lugar ao reforço do escoamento do caneiro e à implementação de uma estação elevatória. “Este plano irá ser desenvolvido ao longo de vários anos e dotará Albufeira de uma infraestrutura fortíssima nesta matéria que poderá atenuar substancialmente intempéries que cada vez mais se vão verificando. Os especialistas dizem que aquilo que aconteceu em Albufeira o ano transato não se repetirá num período de 100 anos, mas a verdade é que não deram garantias sobre essa previsão, o que significa que, em qualquer altura, nos poderemos confrontar novamente com esse problema”, explica Carlos Silva e Sousa.
Aliás, poucas noites antes desta conversa, os albufeirenses tiveram mais um pequeno susto face às fortes chuvas que afetaram o Algarve, mas a decisão de avançar para este mega investimento já tinha sido tomada há algum tempo pelo executivo da Câmara Municipal de Albufeira. “Se pensarmos que é o poder central que vai resolver esta questão, é melhor esperarmos sentados. Tentaremos obter a sua cooperação, sobretudo no plano financeiro, venha ela do governo português ou de fundos europeus, mas tem que ser o poder local a assumir o projeto, a dar o impulso para se elaborar o plano”, frisa o autarca, esclarecendo que só agora se avançou com esta medida porque Albufeira nunca tinha sido afetada com uma cheia daquela dimensão. “Os relatos que temos das duas cheias que aconteceram no século passado dizem-nos que nenhuma delas teve a violência da sucedida em 2015, porque nunca houve uma tão grande precipitação por centímetro quadrado, ao mesmo tempo que se verificou uma maré cheia. Tudo indica que uma situação destas só se venha a repetir daqui a um século, mas temos que prevenir”, defende Carlos Silva e Sousa.