A Galeria Municipal de Albufeira passa a designar-se, desde 25 de outubro, Galeria Municipal João Bailote, assinalando desta forma os 30 anos do falecimento do carismático pintor albufeirense. Com a presença de diversas individualidades ligadas ao meio artístico e dos responsáveis autárquicos, assistiu-se igualmente ao lançamento do livro «Bailote: O Pintor do Oposto», da autoria de Luísa Monteiro.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

A Autarquia de Albufeira tem vindo a desenvolver um conjunto de iniciativas que assinalam as três décadas sobre o falecimento de João Barreto Bailote, com destaque para a atribuição do seu nome a uma rua e a realização de diversas exposições. Agora, a 25 de outubro, precisamente o dia da sua partida, assistiu-se à atribuição do seu nome à Galeria Municipal de Albufeira, uma justa homenagem a um dos pintores mais respeitados pelos seus pares entre os anos 40 e 60 do século passado.
Tendo sido um dos pintores que mais vendeu em Portugal e no estrangeiro entre as décadas de 60 e 80, João Barreto Bailote, filho de um pescador de Albufeira falecido no mar em 1923, teve também a sua história transposta para um livro com crítica sobre o seu trabalho, de nome «Bailote: o pintor do Oposto», da responsabilidade de Luísa Monteiro, cujo lançamento aconteceu também neste dia. Uma data em que se recordou, com emoções à flor da pele, o homem que transformou, nos anos 30, o «Café Bailote», na Rua 5 de Outubro, na primeira Galeria de Arte do Algarve, ponto de encontro de eleição de estrangeiros e intelectuais do país quando se deslocavam à região algarvia. Isso mesmo foi reconhecido quando, em 1996, lhe foi atribuído o Diploma de Mérito Turístico pelo então Secretário de Estado do Comércio e Turismo, Jaime Serrão Andrez, mas também o Município de Albufeira o congratulou com a Medalha de Mérito Municipal - Grau Ouro, em 1997.
Face ao significado especial do momento, perto de uma centena de amigos da família, responsáveis autárquicos, homens e mulheres da cultura, albufeirenses, fizeram questão de marcar presença e não esconderam as emoções ao visionarem um filme com imagens antigas de João Bailote e das suas pinturas. “É alguém que, embora já não esteja entre nós, vai estar connosco para toda a nossa vida e para todas as gerações que virão. Foi o maior embaixador de Albufeira através da arte e já foi alvo de muitas homenagens por parte desta autarquia, mas João Bailote merecia que o seu nome estivesse escrito, em letras bem grandes, na designação desta galeria”, afirmou Marlene Silva, vereadora da Cultura. “Normalmente, as pessoas da terra têm a tendência de não saber valorizar o que é nosso, porque nos cruzávamos com ele na rua, porque o víamos com regularidade. Era uma pessoa como todos nós, muito simples e humilde, mas que levou o nome de Albufeira muito além”, reforçou.
A forma como Bailote retratou a Albufeira do seu tempo é única e os seus quadros estão espalhados pelos quatro cantos do mundo, sendo, por isso, esta decisão da Câmara Municipal de Albufeira consensual. Um gesto considerado “marcante e excecional” nas palavras da filha do artista. “Agradeço a presença de todos vós para recordar e homenagear o meu pai e a sua obra, lembrando a sua paixão pela pintura e pela sua Albufeira, que imortalizou em tantos quadros”, referiu Lisete Bailote de Paulo, deixando uma palavra especial de apreço ao executivo camarário e a Luísa Monteiro, autora do livro «Bailote: O Pintor do Oposto». “Admiro em Bailote a sua liberdade, o ter conseguido afirmar-se na pintura e, ao mesmo tempo, manter-se longe do enredamento insuportável dos que gravitam à volta de quem cria, desejando, com isso, quantas vezes, dividendos que nada têm a ver com o ato de criar. Um ato solitário, absoluto, interno, e é preciso ter-se muito talento para não se existir num mundo em que querem que a vida de um artista se torne num produto para que se venda a sua obra”, sublinhou Luísa Monteiro.
A autora considera que todo o artista tem direito ao anonimato em vida, “mas é importante reconhecer o talento magistral de João Bailote e ajudar os vivos a perceberem a sua obra”. “Que este seja um novo útero no coração de uma terra cheia de património e valores criativos, que existem há tantos anos mas que estão quase todos ainda por nascer”, acrescentou Luísa Monteiro, antes de passar a palavra a Carlos Silva e Sousa, presidente da Câmara Municipal de Albufeira. “Este é um momento especial para Albufeira, um momento que deve ser saboreado, de afetos e carinhos. Albufeira é uma terra única e Bailote encarna esse espírito com os seus tons e formas ímpares. É uma obra que se conhece à distância, com um estilo próprio e qualidade naquilo que fazia”, destaca o edil.
Lisete Bailote de Paulo, Luísa Monteiro, Paulo Freitas, Marlene Silva
e Carlos Silva e Sousa
Carlos Silva e Sousa lembrou que privou de perto com João Barreto Bailote, pois o seu escritório de advocacia ficava mesmo em frente ao Café Bailote. “Não era um café muito vulgar, um prédio, mesas, cadeiras, tudo algarvio, até as molduras dos quadros eram umas meras tabuinhas. Ali se falava de banalidades, de política, das questões da terra e de arte e fomos desenvolvendo uma amizade com o decorrer do tempo, a tal ponto que me elegeu como «crítico de arte»”, recorda o autarca, de olhos colocados no passado. “Deste conhecimento resultou uma saudade do café, do ambiente que Bailote emprestava ao espaço. Era um homem culto, que refletia, com ideias bastante próprias, não seguia as ideias dos outros, e isso reflete-se também nos seus quadros”, salienta.
Para o responsável autárquico, Bailote definia, na perfeição, o típico albufeirense, com uma personalidade fortíssima, uma crença enorme na sua arte, uma pessoa marcante, a quem ninguém ficava indiferente. “Albufeira é uma terra criativa, no domínio da pintura, escultura, literatura, e temos que saber apreciar cada vez mais os nossos artistas. Por isso, sinto-me muito satisfeito por esta galeria de arte ter alguém de Albufeira que a patrocina, que lhe dá o seu nome”, finalizou.
A cerimónia de aposição do nome «João Bailote» à Galeria Municipal de Albufeira terminou com as palavras do presidente da Assembleia Municipal de Albufeira, também ele com memórias fortes do Café Bailote, na Rua do Túnel, e do pintor. “Era uma figura com uma personalidade fincada, que adorava conhecer pessoas que tivessem mérito, que não dava valor às futilidades. Gostava das coisas simples, de viajar, de conviver com outras culturas. Hoje, não estamos mais do que a fazer um reconhecimento que é devido e, na figura do João Bailote, estamos a homenagear todos os albufeirenses. Quem não respeita a sua história, as suas personalidades, aquilo que é o passado de uma terra, dificilmente conseguirá respeitar-se a ele próprio e ao futuro”, concluiu Paulo Freitas.