Inserido na programação do «365 Algarve», o Ginásio Clube de Faro dinamiza, até maio de 2017, quartas-feiras dedicadas ao fado e ao vinho, transportando os visitantes para o ambiente típico das antigas tabernas onde primeiro despontou a canção nacional. O «Algarve Informativo» rumou à capital algarvia numa dessas tardes, comeu um petisco, bebeu um tinto algarvio e deixou-se encantar com a voz dos fadistas Inês Graça e Luís Manhita.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

A centenária coletividade do Ginásio Clube de Faro, situada em plena baixa da capital algarvia, é recordada por muitos eventos que marcaram a vida social e cultural desta cidade, constituindo, noutros tempos, um palco privilegiado para momentos de confraternização, jogos de cartas ou bilhar, ou simplesmente para se escutar a rádio, numa época em que ainda eram poucos os aparelhos existentes. Ficaram também famosos os seus bailes de Carnaval, que juntavam as famílias dos sócios do clube.
Hoje, muitas décadas volvidas, as tardes de quarta-feira voltam a ser de música, de convívio, de vida cultural, tendo por base o evento «Fado & Wine», com as boas-vindas a serem dadas com prova de vinho branco da Quinta dos Vales. Seguiu-se a primeira sessão de fados, que neste dia em particular estavam a cargo de Inês Graça e Luís Manhita, acompanhados à viola por Valentim Filipe e à guitarra portuguesa por Jorge Franco. No salão de festas do Ginásio Clube de Faro, um ambiente extraordinário, com as janelas fechadas, uma luz magnífica, os espelhos verdadeiras antiguidades, o som deste Património Imaterial da Humanidade a encantar os presentes, principalmente estrangeiros.
Um pequeno intervalo é aproveitado para nova prova de vinho, agora rosé, mais uma vez algarvio, da Quinta da Malaca, porque o fado anda de mãos-dadas com o vinho nestas tardes de quarta-feira. No salão, Inês Graça já está pronta para mais uns fados, agora com o xaile nos ombros, após os quais é tempo de provar o vinho tinto da Quinta da Tôr. No fim, o mestre-de-cerimónias Luís Manhita mostra igualmente os seus dotes de fadista, para deleite dos turistas, rendidos ao sentimento das vozes, à sonoridade da guitarra portuguesa. Um fado que canta desgostos de amor, a saudade de quem partiu, o dia-a-dia, as suas conquistas e desaires, encontros e desencontros marcados pelo destino.
A ideia por detrás do «Fado & Wine» partiu de Nuno Bexiga, uma resposta ao desafio lançado pelo Turismo de Portugal e pela Secretaria de Estado da Cultura para dinamizar eventos em torno do «365 Algarve» numa perspetiva de gerar uma maior oferta cultural na chamada época baixa, de outubro a maio. “O conceito nasceu de uma tese de mestrado que fiz, no ano passado, na Universidade do Algarve, apresentamos a proposta ao Turismo do Algarve, foi aprovada e o objetivo é criar uma experiência tipicamente portuguesa, conciliando o fado e o vinho, acompanhados por pequenos aperitivos, queijo, chouriço, pastel de bacalhau. Tudo isto numa sala muito bonita, num ambiente bastante intimista, onde há uma grande interação entre o público e os artistas”, descreve o mentor do «Fado & Wine»
Um evento que, confirma, está desenhado para o cliente estrangeiro, seja residente ou turista, até porque o horário, às quatro horas da tarde de um dia de semana, impede uma participação regular dos algarvios. “É uma hora pensada para os turistas terem tempo de virem a Faro, estarem aqui até às 17h30, e regressarem aos seus hotéis antes do jantar. Teremos alguns eventos especiais e, se tudo correr bem, esperamos alargar para um segundo horário, mais tardio, para que os farenses possam assistir”, adianta Nuno Bexiga, acrescentando que o intuito é recriar o ambiente das antigas tabernas, das casas de fado. “Hoje, o normal é os restaurantes servirem refeições e oferecerem fado aos seus clientes. O nosso programa inclui as provas de vinho e os pequenos aperitivos, mas queremos reproduzir a atmosfera das tabernas de fado de outras décadas”, distingue.
O evento é divulgado nos guias do Turismo do Algarve e do «365 Algarve», junto de hotéis e agências de viagens e promovido pelo próprio Ginásio Clube de Faro, com colaboradoras a percorrerem as ruas da cidade com as típicas roupas e xailes de fado. O resultado é visitantes de diversas nacionalidades e, como se adivinha, a maior parte deles não percebe as palavras proferidas pelos cantores. “Uma cliente norte-americana escreveu no livro de comentários que não é preciso compreender a língua, é tudo sentimento, e este espaço é ideal para as experiências que queremos transmitir aos turistas”, frisa Nuno Bexiga.
Até maio de 2017 serão mais de 30 sessões, só possíveis graças à parceria com a Associação de Fado do Algarve, que garante a base semanal de fadistas e músicos. A estes juntam-se outros nomes do fado nacional em datas especiais. Quanto aos vinhos, a preferência é dada aos algarvios, até porque os néctares da região têm uma qualidade cada vez mais reconhecida além-fronteiras. “Estamos no início do percurso, mas os comentários são tão bons que nos vão obrigar a estender o «Fado & Wine» para além do que estava inicialmente previsto. Estou convencido que teremos aqui um evento regular ao longo de todo o ano”, terminou Nuno Bexiga.

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