O Museu do Trajo de São Brás de Alportel foi palco, na noite de 8 de outubro, de uma verdadeira viagem ao passado para se recriar uma desfolhada à moda antiga. Numa eira improvisada, dezenas de populares saltaram das cadeiras, arregaçaram as mangas e «atacaram» o processo de descamisar as espigas de milho, sempre ao som do acordeão. Depois da tarefa concluída, e apesar de não se ter descoberto o lendário «milho rei», a festa prosseguiu com as danças do Rancho Típico Sanbrasense e um bailarico pela noite dentro.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

Quando a agricultura era o ganha-pão das gentes do Algarve, o milho era uma das principais culturas e, sendo uma planta que gosta muito de calor e água, a sua sementeira era realizada no início de maio. No mês seguinte, o milho era sachado para se tirar as ervas daninhas e mondado, ou seja, retiravam-se os pés mais fracos para que os mais fortes se pudessem desenvolver melhor. Após a espiga estar criada, cortavam-se as canas, normalmente para se dar de comer ao gado. Finalmente, quando setembro dava lugar a outubro, era tempo de cortar o milho, que era transportado para as eiras em carros de bois ou carregado por burro.
Na eira decorria a desfolhada e as espigas eram colocadas em cestos de verga, ali ficando vários dias para secar, antes do milho ser malhado com o mangual. Em todo este processo participavam os jovens cheios de entusiasmo, sempre na expetativa de encontrar o milho-rei, uma maçaroca vermelha que, por ser muito rara, concedia ao felizardo(a) que o encontrasse o direito de dar uma volta a todos os presentes, distribuindo abraços ou beijinhos.
Já se percebe que a desfolhada constituía uma oportunidade única para os rapazes e raparigas se aproximarem fisicamente e conviverem sem estarem sujeito às rigorosas convenções sociais da época, nem que fosse por algumas horas, ou minutos. É todo este ritual, esta tradição antiga, que o Rancho Típico Sambrasense e a Junta de Freguesia de São Brás de Alportel se propuseram recuperar, pelo nono ano consecutivo, com o apoio da autarquia local e do Museu do Trajo, espaço escolhido para esta «Desfolhada à Moda Antiga». E assim se repetiu novamente a história, a 8 de outubro, numa noite de temperatura amena, com um ambiente fantástico, num local deslumbrante que encheu por completo com os residentes, mas também com muitos estrangeiros à mistura, fascinados por uma festa que, certamente, não encontram nas suas terras de origem.
Para animar a festa é fundamental o Rancho Típico Sambrasense, com todos os seus elementos trajados a rigor, um condimento perfeito para transportar os participantes algumas décadas rumo ao passado, conforme indicam a presidente da Direção, Maria do Rosário Parreira, e a vogal Maria Noémia. “É uma recriação do antigamente que fazemos há nove anos, recordando o tempo em que as pessoas se juntavam nas eiras e, durante a noite, descamisavam o milho. Faziam partilha de tarefas, ajudavam-se uns aos outros e, no fim, havia sempre um petisco oferecido pelo proprietário do milho. É algo que já não se faz nos dias de hoje, mas queremos que os nossos jovens aprendam esta tradição”, explica Maria do Rosário Parreira.